Capitulo 1: Um Dia de Azar e Sorte

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Eu sou Cleo, uma garota comum de dezessete anos, com uma rotina previsível e uma vida tranquila, o que, para ser honesta, eu até gosto. Tenho cabelos castanhos que chegam um pouco abaixo dos ombros, olhos verdes que sempre me disseram que eram minha melhor característica, e uma personalidade que combina bem com a estabilidade: gosto de ter as coisas sob controle, planejadas e organizadas. Sou aquela pessoa que faz listas para tudo, desde tarefas diárias até os filmes que quero assistir no fim de semana.

Não sou muito fã de surpresas, mas a vida, claro, tem uma forma peculiar de ignorar minhas preferências. Hoje foi um desses dias.

A escola estava tão tediosa quanto sempre. As mesmas aulas, as mesmas conversas, até os mesmos lanches no intervalo. Não que eu me importasse, porque o que eu mais gostava do meu dia era voltar para casa. Todos os dias, o pai de Lara, minha melhor amiga, me buscava e me levava para casa junto com ela. Só que hoje, Lara não foi à escola. E para piorar, minha mãe não respondia as mensagens, e meu pai estava no trabalho. Então, tive que voltar sozinha para casa.

Não que eu odiasse voltar andando. Na verdade, até gosto. Posso sentir a brisa no rosto, ver as folhas balançando nas árvores, ouvir os pássaros cantando... é bom para esticar as pernas e colocar os pensamentos em ordem. Mas isso é quando o tempo colabora. Hoje, é claro, não colaborou. Começou a chover assim que coloquei o pé fora do portão da escola.

Esqueci meu guarda-chuva, então corri o máximo que pude, usando minha bolsa como um escudo improvisado. Cheguei em casa encharcada e exausta, só para perceber que tinha esquecido a chave do portão. Gritei pela minha mãe, mas tudo que ouvi foi o som da chuva. Peguei meu celular para tentar ligar, mas, como num pesadelo, ele descarregou exatamente naquele momento.

A chuva finalmente começou a diminuir, e achei que talvez ela pudesse me ouvir melhor, então gritei de novo:

— Mãe!

Meu grito saiu mais desesperado e cheio de raiva do que eu pretendia. Foi quando uma voz desconhecida, calma e curiosa, veio da direção do portão:

— Oi, eu sou Joe, sou novo aqui, precisa de ajuda?

Me virei e vi um garoto alto se aproximando. Ele era bonito, de um jeito desconcertante. Seus braços eram malhados, mas não exageradamente, e seu cabelo castanho escuro combinava perfeitamente com seus olhos. Por um momento, fiquei sem palavras.

— Oi? — Ele estalou os dedos na minha frente, me trazendo de volta à realidade.

— Oi, oi, desculpa, meu nome é Cleo. O que você perguntou?

— Eu perguntei se você precisa de ajuda — repetiu ele, com um sorriso de canto de boca.

— Nossa, sim! Eu tô presa aqui fora, minha mãe tá lá dentro, mas não me responde. Provavelmente dormindo. E eu tô toda encharcada — desabafei.

— Você tá com o celular aí?

— Tá descarregado.

Definitivamente, não era meu dia de sorte. Ou talvez fosse...

— Eu tô com o meu aqui, posso ligar pra ela — Joe sugeriu, estendendo o celular.

— Muito obrigado — respondi, aliviada.

— De nada, qual é o número? — ele perguntou.

Passei o número para ele, e logo minha mãe atendeu. Ela estava mesmo dormindo, como eu suspeitava. Falei com ela rapidinho, agradeci ao Joe e devolvi o celular.

— Muito obrigado, nem sei como te agradecer — falei, sinceramente.

— De nada — ele respondeu, sorrindo. — Não precisa agradecer, tá tudo bem.

— Vou fazer um bolo pra você. Onde você mora?

— Ali — ele apontou para uma casa não muito longe da minha.

— Certo, muito obrigado mesmo, viu.

— Tudo bem — disse Joe, com um sorriso.

Minha mãe abriu a porta, finalmente, e eu me despedi de Joe. Mesmo com toda a confusão do dia, não pude deixar de pensar na sorte que tive de ter esquecido a chave. Fui direto tomar um banho e me preparar para o almoço, mas minha mente não parava de voltar para Joe e aquele sorriso dele.

Talvez, afinal, hoje não tenha sido um dia de total azar.

Por Culpa do Destino Onde histórias criam vida. Descubra agora