O casal de lobos solitários - Bang Chan

[Parte 1] Capítulo 1."Desgraça."

1."Desgraça."

Eu estou vivendo uma fase da minha vida muito complicada, na qual eu tenho dois empregos de meio período pois não encontrei um que fosse de período integral. Moro em Seul na Coreia do Sul, a cidade está cheia de pessoas e muitas acabam ficando sem emprego, como por exemplo, eu.

Hoje eu fui demitida de um dos meus empregos, no qual eu era recepcionista de um hospital pequeno. De acordo com o meu chefe, era proibido fumar. Eu tentei explicar pra ele que eu fumei do lado de fora, mas ele mesmo assim não me quis mais lá. Ele disse que isso podia influenciar os clientes, sendo que ele fumava do lado de fora também.

Eu me sentia sem rumo, e desesperada ao ouvir aquilo tudo, então segurei as lágrimas e peguei um taxi pra casa.
Continuei segurando as lágrimas no caminho pra casa, e quando entrei no meu apartamento pequeno, fechei a porta e me joguei no chão de desespero.
Depois de chorar por alguns minutos, me levantei ainda chorando e fui até o balcão da cozinha e peguei um cigarro da cartela. Fui pra sacada e me apoiei nela enquanto fumava e chorava, olhando os carros passarem pela rua.

Peguei meu celular e enviei uma mensagem pro meu namorado, perguntando se ele estava voltando pra casa. Eu morava com o meu namorado Levi a alguns meses, desde que nos mudamos pra Coreia do Sul. Ambos somos do Brasil e namoramos a três anos.

Eu quis vir pra cá pra conhecer o meu grupo preferido de Kpop, o BTS, é o meu sonho conhecer eles, então eu vim pra cá aos 19 anos com meu namorado, achando que tudo era flores e que eu iria conhecer eles fácil. Mas depois de alguns meses aqui, a ficha caiu e eu percebi que precisaria trabalhar e muito pra conseguir ir em pelo menos um show deles, ainda mais nessas condições que eu estou como você pode ver hoje.

Nesse momento eu pensei que tudo ia desabar, que o meu sonho de conhecer o BTS não iria acontecer, pois o salário do meu emprego atual de meio período que é de garçonete paga 119.756,98 wons (500 reais), o que paga apenas o meu aluguel, tirando todas as contas e comida pra sobreviver.

De repente, escuto um som da porta da frente abrindo, eu olho pra porta e quando ela abre, vejo Levi e uma mulher se beijando loucamente.

Nesse momento eu paralisei e a única coisa que consegui pensar em fazer foi me esconder atrás da bancada da cozinha. Eu fiquei ali por alguns segundos enquanto eles se beijavam e então eu finalmente reuni as poucas forças que tinha, e mesmo não querendo, me levantei.

-Levi... -falei com a voz fraca e ele imediatamente parou de beijar a mulher e olhou pra trás, me encontrando com o olhar.

-Vanessa! Eu posso explicar vida! -ele disse se aproximando a alguns metros de mim.

-Não precisa explicar nada, eu já vi tudo... eu só quero saber... a quanto tempo?

-Vanessa... -ele tenta me fazer mudar de assunto.

-Me fala. -eu disse com a voz baixa e fraca. Levi levou a mulher pra fora da casa e mandou ela ir embora.

-Tem só alguns dias tá bom? Eu conheci ela numa boate semana passada e aí a gente só conversou por telefone... Mas eu não sinto nada por ela. Eu te amo Nessa, eu te amo demais... -ele falou de aproximando de mim e tocando meu rosto mas eu me afastei.

-Eu vou embora Levi, não me interessa se você me ama ou não, isso que eu vi agora não tem perdão... Pode ficar com ela ou fazer o que você quiser da sua vida. Parabéns, você jogou esses três anos juntos no lixo. -falei e caminhei até o nosso quarto pegando uma mochila e jogando as roupas dele dentro dela.

Ele me seguiu até o quarto.

-O que você tá fazendo? -ele pergunta.

-Você vai embora, você vai arranjar um lugar pra ficar. -eu disse séria, segurando o choro ao máximo.

-Amor... me escuta. -ele se aproxima e põe a mão no meu ombro mas eu me afasto rapidamente.

-Vai embora agora! -jogo as bolsas no chão e ele abaixa a cabeça triste.

-Tá bom, eu vou, mas eu posso aparecer aí qualquer hora pra te fazer uma visitinha... -ele falou com um tom um pouco assustador, claramente me ameaçando.

-Você não vai voltar nunca mais, agora sai!

Ele saiu pela porta e eu a tranquei. Me joguei no sofá e desabei de chorar. Liguei pra uma amiga me ajudar a desabafar.

Na ligação, eu contei toda a desgraça que tinha acontecido no meu dia, desde a demissão até a traição. Ela me disse que eu deveria fazer algo pra tentar me destrair mas que ao mesmo tempo me fizesse ganhar dinheiro. Fiquei sem entender por um instante até ela dizer que estava se referindo a um bordel. Fiquei chocada com suas palavras e deixei bem claro que eu não faria aquilo, pois tenho meus princípios e não acho correto oferecer meu corpo pra qualquer um. Ainda assim ela insistiu um pouco mais eu continuei negando.

Depois de finalizar a ligação, eu pensei por um instante, pensando se deveria fazer isso. Fui pra cama e chorei mais um pouco até pegar no sono.

...

No outro dia ao acordar, meus olhos estavam inchados e eu mal conseguia abri-los. Me levantei devagar e fui trabalhar.

Depois de trabalhar de garçonete no período da manhã, fiquei do lado de fora do restaurante pensando por um tempo se deveria ou não fazer aquilo.

Fui pra casa e comi alguma coisa, ainda pensativa sobre tudo que aconteceu e sobre como minha vida pioraria dali pra frente. Assisti TV o dia todo, e quando a noite chegou resolvi caminhar.

Caminhando as 8h da noite pelas ruas de Seul, cheguei até um bordel famoso do local. Parei na frente dele e fiquei observando por um tempo, pensando se eu realmente deveria fazer aquilo.

Entrei e falei com a recepcionista.

-Boa noite. -eu falei num tom baixo.

-Olá, boa noite. Gostaria de fazer uma sessão? -ela perguntou.

-Hum... é... -falei baixinho. -Quanto vocês pagam por cliente?

-São 23.967,75 ienes por cliente, mas alguns homens pagam mais. -a moça respondeu.

-Entendi... -falei e quando eu olhei pro lado, pude ver uma espécie de sala de espera, na qual tinham uns três homens sentados nas cadeiras. Um deles me olhando profundamente, parecia que ele queria minha alma.

Aquilo me deixou super desconfortável, então eu resolvi desistir.

-Olha... eu acho que não vou querer mais. -eu falei pra moça e o homem que tanto me encaraa se aproximou de mim, ficando atrás de mim.

-Boa noite. -ele disse numa voz grave. -Gostaria de entrar comigo?