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Átila

- Bom dia, tio. 

Leonardo se senta à mesa para tomar seu café da manhã. Já deixo tudo a seu alcance, conforme recomendações de sua mãe. Maças frescar e cortadas, um copo de iogurt e torradas sem manteiga. O garoto sempre me pede para fazer algo mais gostoso para ele no café da manhã, mas a minha resposta é sempre a mesma "Essas são as orientações da sua mãe, tenho medo de desobedecer.". Depois da mesma resposta sempre, ele já até desistiu de pedir.

- Bom dia garoto. Como foi na escola ontem?

O Colégio Santa Amélia possui aulas em período integral, ou seja, o garoto só volta pra casa a noite,o que é bom, porque se não fosse assim, teria que me desdobrar para conseguir buscá-lo na escola,dar atenção à ele e trabalhar.

- Foi legal. Falando na escola, a professora pediu pra informar que amanhã teremos reunião de pais e professores e que seria bom se você fosse.

- Agnes disse isso?

- Disse. A reunião será amanhã ás dez horas.

Agnes... Eu estava doido para vê-la novamente. Sonhei com ela a noite passada. Ela estava linda sentada no banco da praça que existe atrás do colégio onde trabalha. Vestia branco. Um vestido de noiva. Ela estava linda. Ela era sempre linda. Segurava um buquê de rosas vermelhas nas mãos e olhava para o nascer do sol. Era lindo a forma como os raios do amanhecer refletiam em seus cabelos ruivos. 

- Agnes?

No momento em que ouviu minha voz, ela saiu do seu estado de inércia e virou a cabeça para me ver. E sorriu. Ah que belo sorriso ela tem. Iluminado, eu poderia dizer.

- O que faz sozinha aqui, Agnes?

- Estava esperando por você Átila. 

- Por mim?

- Sim, por você. Hoje é o nosso grande dia. A partir de hoje, estaremos juntos para sempre. 

- Agnes, eu....

- Ei tio. Tá vivo?

Leo me despertou dos meus devaneios com Agnes, e eu lembrei que ainda estava sentado à mesa do café da manhã. O tempo passou e eu nem percebi. Leo já tinha se arrumado, estava com a mochila nas costas e a merendeira na mão. 

- Vamos garoto. Se não você vai se atrasar.

- Tio, eu já estou atrasado.

Foi então que eu olhei para o relógio e vi que se Leo não chegasse na escola em dez minutos, eu teria que conversar com a professora dele novamente. Agnes, seria um prazer revê-la. Então, para que correr não é?

- Tá bom garoto. Vamos. 

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Chegamos no Colégio no momento exato que a sirene que avisa o horário de entrada da criançada tocou. Leo mal se despediu de mim e saiu correndo para não chegar atrasado na aula. Esperei ele entrar no colégio e voltei para meu carro. Estava meio decepcionado por ter perdido a oportunidade de encontrar Agnes. Mas, tudo bem, talvez fosse melhor assim. Eu tinha que tirar essa menina da minha cabeça. 

Estava tão concentrado nos meus pensamentos que levei um susto quando uma mão tocou levemente o meu ombro e eu me virei exasperadamente. 

Era ela. Minha menina encantadoramente ruiva. De olhos... Castanhos? Como assim castanhos? Eu tinha certeza que os olhos dela eram verdes. Não eram? Ou eu estou ficando maluco? Talvez esteja. Essa menina faz isso comigo. Com certeza ela faz.

- Bom dia, senhor Átila.

Como eu amo aquela voz. Suave e doce além de delicada.

- Ah, por favor Agnes, eu não sou tão mais velho assim do que você. Não precisa me chamar de senhor.

- Tem razão, sen... Átila. Seu sobrinho avisou sobre a reunião de amanhã? Seria muito importante a sua presença.

- Sim, o garoto contou sobre a reunião, mas é bem provável que eu não possa ir, estou com muito trabalho e dez horas é um horário muito crítico.

- Bom, se o senhor não puder vir, nós podemos conversar no final do meu expediente. Não tenho problemas com relação a isso.

- Eu fico muito chateado por você me chamar de senhor, Agnes. Assim você me ofende. Me sinto muito velho.

- Não foi isso o que eu quis dizer, acredite. Estou sendo educada, afinal, você é o responsável por um dos meus alunos. Bom, de qualquer maneira Átila, as crianças me esperam, eu preciso ir. Mas se não puder aparecer na reunião geral, venha me encontrar amanhã, no final do expediente, estarei te esperando.

Ela sorriu para mim, aquele sorriso lindo, e eu vi, juro que vi, seus olhos agora eram verdes, encantadoramente verdes. Mas eu jurava que eram castanhos a poucos minutos atrás. Ela entrou na escola, mas seu perfume ficou no ar, tinha cheiro de flores, de margaridas, com certeza eram margaridas. 

- Ah Agnes, como você me fascina, como me fascina! Eu virei, amanhã eu virei. Virei para você.





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