Maraisa Pereira
Marília estava parada ao lado do bote salva-vidas. Eu lhe entreguei os peixes que havia apanhado e guardei o arpão na cabana.
— Tem alguma água no coletor?
— Não.
— Talvez chova mais tarde.
Ela olhou com expectativa para o céu e começou a limpar o peixe — Espero que sim.
Era novembro, e estávamos na ilha havia cinco meses. Marilia disse que a estação das chuvas não retornaria até maio. Ainda chovia dia sim, dia não, mas não por muito tempo. Nós
tínhamos água de coco, mas ainda assim estávamos com muita sede.— Pelo menos sabemos que nunca devemos beber a água do lago — disse ela, encolhendo os
ombros. — Aquilo foi horrível.— Meu Deus, nem me lembre. Achei que fosse colocar meu baço para fora.
Não podíamos controlar a chuva, mas as Maldivas tinham uma vasta vida marinha. O coco e a fruta-pão mal davam para matar a nossa fome, mas os peixes coloridos e brilhantes que eu tirava da laguna não nos deixavam morrer de fome.
Eu ficava de pé na água que batia na altura da cintura e pegava um por um. Nenhum media mais do que quinze centímetros — um brinco e uma corda de violão não aguentariam mais peso —e eu estava preocupada em pegar algo maior e acabar rompendo a linha. Era uma boa coisa Marília ter tantos brincos na mala, porque eu já havia perdido um.
Embora tivéssemos o suficiente para comer, Lila disse que nossa dieta não tinha um monte de coisas importantes.
— Estou preocupada com você, Mara, Você ainda está em fase de crescimento.
— Estou crescendo bem.
Nossa dieta não devia ser tão ruim, porque meus shorts desciam até o meio do joelho quando o avião caiu e agora estavam pelo menos dois centímetros acima.
— A fruta-pão deve ter vitamina C, senão já estaríamos com escorbuto — murmurou ela
— Que diabo é escorbuto? — perguntei. — Parece nojento.
— É uma doença causada pela falta de vitamina C — explicou ela. — Os piratas e os navegadores pegavam essa doença em viagens muito longas. Não é nada agradável.
Uma manhã, algumas semanas depois...
— Hoje é dia de Ação de Graças.
— É?
Eu não prestava muita atenção às datas, mas Lila se mantinha atualizada todos os dias.
— É. — Ela fechou a agenda e a colocou no chão ao seu lado. — Acho que nunca comi peixe no dia de Ação de Graças antes.
— Ou coco e fruta-pão — acrescentei.
— Não importa o que comemos. O dia de Ação de Graças é para agradecer o que temos.
Ela tentou ficar animada quando disse aquilo, mas então enxugou os olhos com as costas da mão e colocou os óculos escuros.
Nenhuma de nós mencionou o feriado pelo resto do dia. Eu não havia pensado a respeito do dia de Ação de Graças. Achei que alguém teria nos encontrado antes. Marilia e eu quase não falávamos mais em resgate — esse assunto nos deprimia. Tudo o que podíamos fazer era aguardar e esperar que alguém sobrevoasse a ilha e nos enxergasse. Essa era a parte mais difícil: não ter nenhum controle sobre a nossa situação, a não ser que decidíssemos partir no nosso bote salva-vidas, mas Marilia nunca
concordaria com isso. Ela estava certa. Provavelmente, seria suicídio.Naquela noite, na cama, ela sussurrou:
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A ilha - Malila
FanficMarilia Mendonça é uma professora de Inglês de 30 anos desesperada por aventura. Cansada do inverno rigoroso de Chicago e de seu relacionamento que não evolui,ela agarra a oportunidade de passar o verão em uma ilha tropical dando aulas particulares...