Katherine, esse era o nome da mulher que se postava diante da minha mesa, com um saco de milho caído no chão como se fosse o peso da sua própria situação. O ar estava carregado de tensão, e eu sabia, pelo modo como ela se mantinha firme e determinada, que o que quer que tivesse a dizer não era uma simples visita amigável. Eu mantive o rosto impassível, mas a curiosidade me venceu, e decidi escutar o que ela tinha a dizer - algo me dizia que ela não iria embora sem ter sua chance de falar.
"Então, vamos lá," disse eu, com o tom mais profissional possível. "Qual é o seu problema?"
Katherine respirou fundo, os olhos escuros refletindo uma mistura de raiva e frustração. "O problema, senhor advogado, é que a sua firma, que deveria me proteger, falhou miseravelmente. Eu estava contando com vocês para defender as minhas terras. E ontem, o banco apareceu e tomou tudo. Toda a minha propriedade."
Fiz um gesto para ela parar, tentando organizar as informações. "Espera, vamos voltar um pouco. O banco tomou toda a sua propriedade? Como isso foi acontecer?"
Ela se sentou com um baque na cadeira em frente à minha mesa, o olhar duro como se estivesse revivendo o pior pesadelo. "Eu vou te explicar. Minha única propriedade era uma pequena fazenda - meu sustento, meu lar. E agora, o banco decidiu que o meu pedaço de terra era um alvo fácil para expandir seus negócios."
"Um alvo fácil?" Perguntei, sentindo o peso das palavras. "Isso não deveria acontecer assim. Os direitos de propriedade são claros."
Ela inclinou a cabeça, os olhos fixos nos meus, sem qualquer traço de humor. "Pois é, senhor advogado, mas aconteceu. E agora, eu estou aqui, com um saco de milho e sem um lugar para onde ir. E sabe de uma coisa? Não vou embora daqui enquanto não tiver uma resposta."
Eu olhei para ela, tentando medir a seriedade da situação. "Você está me dizendo que pretende ficar aqui até conseguirmos resolver isso?"
Katherine deu um sorriso fraco, mas não havia nada de divertido nele. "Isso mesmo. Eu não tenho para onde voltar. Se você não puder me ajudar, vou ter que ficar exatamente aqui, na sua recepção."
As palavras dela pairaram no ar, ameaçadoras, quase desesperadas. Não havia um pingo de bravata ou brincadeira, apenas um aviso frio. Eu olhei para o saco de milho e, em seguida, para ela. "Vamos ver o que podemos fazer," falei, mantendo o olhar firme. "Você trouxe algum documento?"
Ela assentiu e puxou um maço de papéis, jogando-os sobre a mesa com um gesto quase desafiador. "Aqui estão. Papéis da propriedade, tudo o que você precisa saber sobre a ação do banco."
Enquanto eu pegava os papéis, ela continuou, a voz começando a quebrar um pouco, como se a raiva e o medo estivessem à espreita, prontos para tomar conta. "Você sabe, quando era criança, meu pai dizia que essa fazenda ia ser o meu futuro. E agora, nem isso me sobrou. Foi como se eu tivesse sido despejada da minha própria vida."
Passei os olhos pelos documentos, sentindo um peso estranho no peito. Havia algo mais ali, algo além dos papéis e do saco de milho. Era como se tudo aquilo fosse um símbolo do quanto as coisas tinham saído do controle. "Eu entendo, deve ser devastador," respondi, tentando manter a voz firme. "Vamos olhar os detalhes e ver o que pode ser feito."
Katherine balançou a cabeça lentamente, mas os olhos permaneciam fixos nos meus, cheios de uma determinação sombria. "Eu não vou embora enquanto não tiver uma resposta. E não quero promessas vazias. Eu preciso de ação."
Houve um momento de silêncio tenso enquanto eu lia os papéis, sentindo o peso das expectativas dela. As paredes do escritório pareciam mais estreitas, e a realidade do que estava em jogo se abateu sobre mim como um fardo. Katherine estava lutando para não desmoronar, mas a cada palavra sua, ficava claro o quanto aquilo tudo a estava esmagando.
"Vamos encontrar uma solução," prometi, devolvendo os papéis. "Não vou te deixar sem uma resposta."
Ela não respondeu de imediato, mas o olhar intenso que me lançou foi mais eloqüente do que qualquer palavra. Ela esperava que eu cumprisse. Porque para ela, isso não era apenas um caso ou um problema para resolver - era tudo. E enquanto ela se levantava e se preparava para esperar pela resposta, eu sabia que tinha uma responsabilidade maior do que apenas uma obrigação profissional.
Katherine permaneceu em silêncio por um momento, observando-me com olhos que pareciam buscar qualquer sinal de hesitação. Ela queria a certeza de que eu a levaria a sério, de que o seu drama não era um simples jogo para conseguir o que queria, mas sim a realidade dura de alguém que estava no limite.
"Olha," ela começou, a voz firme, mas com uma leve tremulação que não passou despercebida. "Eu não sei o que você pensa que isso é, mas eu estou sem chão. Perdi meus pais em um acidente de carro, e a única lembrança que me restou deles é essa fazenda onde cresci. Ontem, eu tinha uma casa, um pedaço de terra onde plantei cada semente com minhas próprias mãos. Hoje, eu não tenho nem um teto. Tudo o que restou foi esse saco de milho, e se não fosse por ele, talvez nem isso. Se você não me ajudar, eu realmente não tenho para onde ir."
"Me chame só de Nicolas, tá? Vamos deixar o 'doutor' de lado," respondi, tentando suavizar o momento com um leve sorriso. "Sinto muito pelos seus pais, de verdade."
Katherine me encarou por um instante, seus olhos avaliando cada palavra. Ela soltou um suspiro profundo, como se estivesse carregando o peso do mundo. "Obrigada, Nicolas," murmurou, a voz finalmente suavizando, embora ainda tingida de frustração e dor.
"Eu não sei o que fazer agora," ela continuou, sua vulnerabilidade começando a transparecer. "Tudo parece estar desmoronando e... eu só queria uma chance de começar de novo, de honrar o que eles construíram."
"Eu entendo, Katherine. Eu vou fazer o que puder para te ajudar a segurar isso. Você não está sozinha, ok?"
Ela assentiu, seu olhar se firmando nos meus, com uma mistura de esperança e receio. "Ok," disse ela, sua voz quase um sussurro, mas com uma determinação renovada.
Ela passou a mão pelo cabelo, um gesto automático, mas que refletia seu estado de espírito - desalinhado, perdido. "Eu tentei falar com outros advogados. Sabe o que eles disseram? Que sem uma propriedade para garantir, ninguém ia pegar o meu caso. Eles me olharam como se eu fosse um peso morto. E talvez eu seja, mas eu estou aqui, diante de você, porque eu não tenho outra opção."
Eu me encostei na cadeira, sentindo o peso das palavras dela. Aquilo não era uma escolha; era uma imposição da vida. "Katherine," comecei, escolhendo as palavras com cuidado, "eu sei que isso deve estar parecendo o fim, mas nós vamos encontrar uma saída. Existem outras alternativas, você pode buscar ajuda, assistência social, um lugar temporário-"
"Assistência social?" Ela interrompeu, a voz subindo uma oitava, carregada de uma mistura de indignação e pânico. "Você acha que eu não tentei? A lista de espera é maior do que a minha esperança de conseguir algo. E um lugar temporário? Onde? Em um abrigo lotado, onde eu mal teria espaço para respirar, quanto mais para reorganizar minha vida?"
Ela se levantou abruptamente, os olhos brilhando com uma intensidade que beirava o desespero. "Você não entende. Eu não posso simplesmente ir para um abrigo e esperar que as coisas se resolvam. Eu preciso de uma solução agora. Eu preciso de um lugar para dormir esta noite, de algo para comer. Eu não posso esperar."
Eu a observei, vendo como suas mãos tremiam levemente, como os ombros se mantinham rígidos, como se ela estivesse pronta para lutar ou desmoronar, dependendo do que viesse primeiro. Katherine estava mais perto de quebrar do que queria admitir, e eu podia sentir isso na forma como ela olhava ao redor, como se o escritório fosse sua última âncora.
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PARTES DE NÓS: Amores Improváveis DEGUSTAÇÃO
RomanceParte de Nós apresenta uma narrativa profundamente emocional e intensa, centrada em dois personagens de mundos opostos que se encontram de maneira inesperada e têm suas vidas transformadas. Nicolas Thornton, um advogado prestigiado e controlador, vi...