1- A Invasora

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Eu estava concentrado em uma pilha de papéis, o tipo de tarefa que me fazia questionar minhas escolhas de vida, quando um som cortante ecoou pelo escritório, algo entre o rugido de um motor e o estalo de um trovão. "Saia da minha frente!" A voz feminina reverberou pelos corredores, carregada de autoridade e um toque de fúria que me fez erguer os olhos imediatamente.

Saí da minha sala com passos rápidos, esperando encontrar um cliente exaltado ou algum estranho que tivesse cruzado o limite. O escritório, geralmente um refúgio de ordem e profissionalismo, estava em um estado de agitação incomum. Heitor, o segurança, parecia paralisado, tentando conter, sem sucesso, uma mulher de baixa estatura que marchava em sua direção com um olhar decidido e impiedoso.

Ela não parecia intimidada pelo porte de Heitor. Pelo contrário, havia algo de perigoso na forma como ela se movia, uma espécie de desafio silencioso que dizia que ninguém, nem mesmo ele, conseguiria pará-la. Ela carregava um saco de milho nos ombros, como se fosse uma declaração de guerra, e seus olhos faiscavam com uma intensidade que me fez sentir como se estivesse diante de um animal encurralado.

"Você é o advogado, não é?" Ela me disse assim que me viu, a voz carregada de desprezo. "Finalmente, o homem que tem se escondido por trás de papéis e e-mails, achando que pode evitar o inevitável." Ela largou o saco de milho no chão, o baque seco ressoando como um tiro no silêncio constrangedor do ambiente.

Cada passo dela em direção a mim parecia um movimento calculado para minar minha paciência e testar meus limites. Os olhos dela eram frios, como duas esferas de aço, impenetráveis e severos. Ela não era uma visita qualquer; era um lembrete de que o controle que eu achava ter sobre a situação era ilusório.

"Estou aqui para resolver um problema, e você é o responsável por isso," ela disse com uma firmeza que cortava o ar. A presença dela era opressiva, sufocante, como se ela trouxesse consigo o peso de todas as pendências que eu vinha empurrando com a barriga. A cada palavra, ela arrancava um pedaço da fachada que eu havia construído ao longo dos anos. Era um ataque silencioso, mas implacável, contra o conforto do meu mundo perfeitamente ordenado.

Eu podia sentir a tensão crescendo no ambiente, o olhar desconfiado dos meus colegas se voltando para nós, como se estivéssemos em um campo de batalha e todos aguardassem para ver quem recuaria primeiro. Mas ela não estava disposta a ceder, e eu não podia me dar ao luxo de mostrar fraqueza.

"Você me ouve?" ela perguntou, estreitando os olhos, desafiando-me a desviar o olhar. "Ou você é só mais um desses advogados que não sabe o que fazer quando o problema está cara a cara?"

O tom dela era uma mistura de frustração e ameaça, como se o simples ato de estar ali fosse um esforço quase doloroso. E, naquele momento, a gravidade do que ela trazia parecia se expandir, preenchendo todos os cantos do escritório com uma tensão palpável.

Eu respirei fundo, tentando recuperar o controle da situação. "Qual é o problema que você acha que eu devo resolver?" Perguntei, minha voz mais firme do que eu me sentia por dentro. Mas, enquanto as palavras saíam da minha boca, eu já sabia que esta não seria uma conversa simples. Ela não estava ali por respostas rápidas ou soluções fáceis; ela estava ali para um confronto, e eu estava prestes a descobrir até onde isso iria.

A tensão no ar era quase insuportável, cada segundo que passava aumentava a pressão invisível sobre meus ombros. Eu sabia, sem sombra de dúvida, que esse encontro iria mexer com mais do que apenas minha rotina.


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