Ciúmes

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Suguru Geto era mestre na arte da pontualidade, uma qualidade que certamente o distinguia dos demais colegas de apartamento, é claro, com exceção, de Kento Nanami. Era uma raridade testemunhar Geto atrasar-se para qualquer compromisso, independentemente de quão trivial pudesse parecer. O moreno levava muito a sério a questão de seus horários, buscando sempre ser pontual. 

Porém, na última sexta-feira — há exatos três dias — as coisas escaparam de seu controle e Suguru se viu enrolado com os compromissos da faculdade, o que acabou por estender a sua permanência no local até tarde da noite. Em meio a esse contratempo, amaldiçoou o professor Yaga por lhe impor uma tarefa que acabou por consumir o triplo do tempo habitual para ser finalizada, resultando em um belo de um resfriado.

Naquele dia em especial, o universo parecia conspirar de forma perversa contra Geto, pregando-lhe algumas peças de extremo mau gosto. No início da manhã, enquanto Suguru tentava espantar o sono com uma xícara de café, seu colega de apartamento e melhor amigo ofereceu-lhe uma carona até a faculdade. No entanto, o gesto foi prontamente recusado, já que a primeira aula do moreno estava marcada apenas para as dez horas. Ir para o campus às sete e ficar lá plantado feito um cacto, aguardando o horário, não fazia sentido. 

O episódio desastroso teve início assim que Suguru adentrou o banheiro, ansioso por um banho que dissipasse completamente o sono que ainda persistia em seu corpo. Contudo, para sua frustração, o chuveiro negou-se a liberar água. Determinado a resolver o impasse, Geto tentou todas as artimanhas possíveis, chegando ao ponto de praguejar até a décima oitava geração futura da família dos encanadores responsáveis pela construção do sistema de água do prédio. Infelizmente, todas as tentativas e xingamentos foram em vão, forçando Suguru a abrir mão do tão ansiado banho, deixando-o desapontado e com a sensação de ter começado o dia em meio a uma batalha perdida.

A inesperada batalha contra o chuveiro se revelou como uma armadilha quando Suguru se deu conta de que estava vinte minutos atrasado para pegar o trem na estação.

Ele correu o mais rápido que pôde, ansiando chegar a tempo, apenas para descobrir que o trem das nove e meia já tinha partido, e o próximo só chegaria às dez horas.

— Droga! Dez horas é quando a prova começa — resmungou, frustrado.

Sem muitas alternativas, acomodou-se em um banco e aguardou pelo próximo trem.

O calor estava insuportável naquela sexta-feira, e encontrar-se em um transporte público abarrotado de pessoas no horário de pico definitivamente não era nada agradável.

O moreno teve que lidar com uma senhorinha tagarela e um tanto preconceituosa durante o trajeto até a faculdade. A mulher, que puxara conversa reclamando sobre o calor, revelou-se uma fonte inesperada de opiniões ásperas. Enquanto compartilhava suas queixas sobre o clima escaldante, ela rapidamente desviou o assunto para expressar sua visão preconceituosa. Em meio às palavras que saíam sem parar de sua boca, a senhora proferiu comentários insensíveis sobre a comunidade LGBTQIA+, afirmando, para espanto de Suguru, que o mundo estava perdido por conta desse grupo de pessoas. E ainda completou que ele deveria optar por um corte de cabelo masculino, senão poderiam confundi-lo com um daqueles gays por aí.

— Você é um jovem tão bonito. Não vai querer que te confundam com uma daquelas pessoas, certo meu bem?

Geto, que naquela altura do campeonato já estava com a paciência abaixo de zero, simplesmente se limitou a concordar. Não desejava iniciar uma discussão com alguém daquela natureza, afinal, seu dia já estava sendo desastroso o suficiente e a última coisa que precisava em seu histórico criminal era um incidente que o levasse para a prisão por agredir uma idosa dentro de um trem. Optou então por manter o silêncio, engolindo em seco a irritação e resistindo ao impulso de rebater as opiniões preconceituosas daquele ser desprezível bem à sua frente.

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