1 - Todo contrato começa em um bar...

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As ruas de Night City nunca mais foram as mesmas depois da queda da Arasaka. É claro, a sua presença ainda era grande mas a cada dia suas ações caíam e os investidores pulavam do barco antes que perdessem mais dinheiro. Pouco se sabe o que aconteceu naquele dia em 2077, apenas é dito que Saburo Arasaka foi assassinado e que seu filho assumiu o poder.

A Califórnia do Norte nunca foi um estado fácil de se morar, é quente e a criminalidade é grande, porém, em Night City tudo é pior. A chuva é mais espessa e mais contaminada do que nas outras cidades, o lixo é mais fedido, o ar é mais poluído e tóxico e a violência... mais brutal do que no front de batalha. A chuva era um coquetel amargo de tédio, miséria e solidão; varria os corredores da cidade, incitando os mendigos a pedirem refúgio. Eu me encontrei sentado em um banco apoiado no balcão de um bar qualquer de Kabuki, as luzes e o cheiro de cigarro deixavam tudo mais amargurado.

- E aí meu tchum, o que vai pedir? - Falou o barman enquanto cuspia no copo em sua mão e o limpava com um pano mais sujo do que as roupas de um mendigo.

- Um Johnny Silverhand, por favor.

- É pra já chefia. - Alcançou uma garrafa de tequila atrás dele e colocou no mesmo copo que acabará de cuspir; adicionou uma pimenta Chili e a cerveja e me entregou. - Tá aqui, um Johnny Silverhand.

Olhei para aquele copo com uma hesitação de minha parte, eu jurava que conseguia ver fiapos de carne boiando sobre o liquido. - Não tá esquecendo algo não? Tipo, sei lá, o drink finalizado. - Lancei um olhar porco sobre ele.

- Quer mais oque, um beijo na bochecha? Se quer bebida de qualidade vai pro centro; aqui não tem espaço pra gente mimizenta como você.

Cerrei os punhos, estava pronto para dar um soco nele mas eu não podia, não por agora. Levei o copo aos meus lábios e tomei um pequeno trago; a tequila parecia velha e a cerveja quente, os dois mal se misturavam e formavam o clássico gosto da bebida. Foi quando vi o reflexo dela através do vidro colorido. Seu cabelo loiro e sedoso caía em cascata até os ombros, onde sua pele brilhava... Ela possuía um tom angelical, que só ouvi em rumores. Seu vestido vermelho fazia ela um ponto brilhante em meio a escuridão do bar. Seu brilho etéreo... era como um sonho.

- Está atrasada. - Murmurei enquanto tomava mais um gole.

- É difícil chegar aqui sem chamar atenção - Disse ela enquanto sentava ao meu lado no balcão. Sua voz aveludada era como um descanso em meio às tosses e fungadas do bar

- Então porque escolheu esse lugar para a reunião? - perguntei.

Ela colocou sua bolsa sob a mesa para pegar um cigarro, o acendeu com um leve suspiro, aspirou fundo, a fumaça branca se elevando como um pequeno dragão que escapava de sua boca. - Por este mesmo motivo. - Seus olhos analisavam o nosso redor, o lugar estava praticamente deserto com apenas mais um cliente sentado a alguns bancos longe de nós. - Olhe em volta, um lugar como esse não chama atenção. É perfeito para um encontro que necessita exatamente disso. 

- A Wakako falou pra mim que você era cautelosa... Não sabia que também era paranoica.

- Cautelosa sim, paranoica? Não. - Ela respondeu. Alcançou sua bolsa novamente, pegou dela um chip que mais se assemelhava a um fragmento. Colocou sob a mesa e deslizou para minha direção. - Coloca o caco.

Peguei aquele chip e coloquei no meu leitor atrás da minha orelha, meus olhos brilharam a cor vermelha por alguns segundos até que se ajustaram. Apareceu uma foto de um homem no canto da minha visão, assim como uma aba de um navegador aparece em um monitor. O Homem tinha cabelos volumosos penteados para trás, barba bem cuidada, seu nariz era um pouco avermelhado como de alguém gripado, olhos cansados e cibernética com detalhes dourados ao redor de seus olhos.

- Quem é ele? - Perguntei a bela moça

- O nome dele é Adrian Walker, um ex-corporativo da Arasaka que trabalhava na área de pesquisa e desenvolvimento. Eu digo "ex" porque ele fugiu da Arasaka um dia depois do que aconteceu no Konpeki Plaza.

- Então eu teria que encontrar em que buraco na cidade ele tá metido e entregar para Arasaka? - Perguntei enquanto tomava um gole do meu drink.

- O problema é que ele não tá na cidade. Ele simplesmente... puf!... desapareceu no meio da noite. Deixou a esposa e as duas crianças.

- Sem pistas? Como você quer que eu ache ele com nada para eu trabalhar?

Ela deu uma última tragada no cigarro, apagando-o no cinzeiro com um gesto elegante. - Eu disse que ele desapareceu de repente, não que ele sumiu sem pistas. A sua melhor aposta e a única na verdade é a esposa. Ela vive em um daqueles prédios chiques próximo do centro.

Tomei um último gole da minha bebida e deixei alguns trocados no balcão. Quando me levantei senti uma mão agarrando o meu braço, o toque era macio porém firme. - Mais uma coisa: Quando você achar ele, deixe a Arasaka de lado. Eu quero que ligue imediatamente para mim. - Acenei para ela como resposta. Eu sabia que um pedido como esse não era comum, mas um cliente é um cliente.

Ao sair daquele bar imundo, pude sentir a chuva caindo em meu rosto, as luzes neon e o som da cidade que não dava para ser ouvido de dentro do bar voltam mais claras e mais altas do que antes. atravessei a rua vazia da noite e entrei no meu carro. Fazia algum tempo que eu não tinha um trabalho que cheirava a problemas como este... Talvez hoje fosse meu dia de sorte, ou de azar. 

 

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