Se você trabalha em uma corporação provavelmente não viverá em Watson ou Santo Domingo; Não, para uma pessoa de classe média nesta cidade viveria em Charter Hill. A maioria das casas e apartamentos deste lugar é ocupada por pessoas de classe média que batem a cabeça nas mesas durante o dia e se embebem em bares à noite. O Adrian parecia que fazia apenas uma dessa duas coisas, e não era enlouquecer em um escritório minúsculo.
Eu olhava através do vidro do meu carro a entrada para o prédio, a chuva ainda caia intensamente lá fora. Eles moravam em um daqueles apartamentos chiques Charter Hill, um dos únicos locais que havia palmeiras orgânicas em toda cidade. Corporativos e seguranças da Arasaka indo e vindo da estrutura com seus guarda-chuvas com bastões neons e algumas pessoas com seguranças os seguindo.
Saí do meu carro e entrei no prédio as pressas pois não queria me molhar. O lobby era um lugar acolhedor, sendo o branco a sua principal cor. Um suave e confortante Jazz tocava como som ambiente, várias pessoas com ternos e roupas caras estavam circulando pelo local. Por mais da grande quantidade de pessoas o lobby era um tanto quanto calmo, parecia que as pessoas que viviam ali prezavam pelo silêncio. Me aproximo do balcão, a recepcionista lançou-me um sorriso gentil.
- Boa Noite, seja bem vindo aos nossos apartamentos de luxo. O que o senhor precisa?
- Queria falar com a esposa do Adrian Walker.
- Só um segundo. - Os olhos da recepcionista brilham um tom amarelo por alguns segundos e então voltam ao normal. - A Senhorita Walker está em seu apartamento. Número 102.
- Valeu. - Me afasto da recepção e ando para os elevadores. Chegando ao corredor, procuro o número que a recepcionista indicou. Alguns números depois encontro o apartamento desejado.
Abri a porta lentamente. O apartamento era moderno, havia poucas cores além de branco e variações de preto; A entrada era em formato de "L" impossibilitando ver o restante do local.
Escuto soluços vindo do outro lado da parede; me aproximo a passos curtos e silenciosos até que eu vejo ela, sentada no sofá circular no meio da sala; seus ombros caídos e cabeça baixa, uma caixa de lenços umedecidos na mesa de centro com alguns já utilizados. Cabelos ruivos curtos e olhos que, se não fossem pelas lágrimas, iluminariam o local.
- A senhorita é a esposa do Adrian? - A moça para por instante de soluçar e olha para mim, seus olhos ainda vermelhos e com lágrimas brilhando nos seus olhos.
- O que você quer? - perguntou a moça. Sua voz um pouco rouca.
Sento próximo a ela. seu corpo fica tenso, como se estivesse preparada para fugir do local. Ela se ajusta de posição cruzando as pernas. - Quero fazer algumas perguntas sobre o seu marido. Ele contou para você onde iria?
- Humpf!... - Ela me olhou de cima para baixo, levantou sutilmente a sobrancelha - ...Você é um corpe por acaso?
- Não sou corpe. Fui contratado para achar seu marido.
Ela voltou a sua postura de antes. Seus ombros caídos e olhos fixados no chão. Pegou mais um lenço e enxugou as lágrimas que escorriam em sua bochecha.
- Não sei pra onde foi... Deve ter fugido com a puta da Clouds. - Falou com os dentes cerrados.
- E você sabia disso?
- Desde o início. O idiota ao invés de apenas fuder com a boneca quis ficar puxando papo com ela.
Ficamos em silêncio por alguns segundos. Seus olhos continuavam vermelhos e suas bochechas rosadas.
- Você não... Fez nada a respeito? - A questionei.
- Porque eu deveria fazer isso? Depois que ele começou frequentar a Clouds a gente parou de discutir... infelizmente o sexo também.
Ela respira profundamente e então se levanta, ajeita seu vestido branco e termina de enxugar seu rosto. Olha para mim com um sorriso falso, de alguém que está tentando esconder seus sentimentos.
- Essa conversa vai ser um pouco longa, Uma bebida cairia bem. Venha, a cozinha é por aqui. - Me guiou até a cozinha; as bancadas feitas em mármore branco, a geladeira de última linha e uma estante dedicada a uma bela coleção de vinhos caros. - Sente-se, eu devo ter algo que lhe agrada. A Esposa se dirige a estante e observa os vinhos, seus dedos deslizando sobre as rolhas das garrafas até que escolhe um de aparência bem cara - Aha! Esse é perfeito para uma conversa como esta. - Ela coloca o vinho na mesa, em seguida pegou duas taças e serviu a bebida.
- Então a senhorita...
- Me chame de Eve. Não gosto de pessoas tão formais. - Ela falou me interrompendo.
- ...Como eu ia dizendo, Eve, você não tem alguma ideia do por que ele teria fugido?
- Não tenho ideia. - Ela levou a taça para seus lábios e tomou um gole. - Eu até entenderia um divórcio, mas largar a mim e os nossos filhos de repente não parece algo que o Andy faria. Ele trabalhava muito, quase não vinha para casa nos finais de semana e quando vinha, só faltava eu ou ele parar no hospital. Mas ele sempre terminava falando que ele fazia isso pela filha, que todas as horas extras valeriam a pena... pelo visto era tudo mentira.
- O que aconteceu com a sua filha?
Eve permaneceu calada por alguns segundos, tomou um gole do vinho antes de falar.
- Câncer. É... Um tumor, no cérebro. Ela não tem muito tempo de vida, apenas dois meses.
Vejo aquela mulher voltar a ter os olhos avermelhados de antes. Seu olhar distante volta.
- Eu sinto muito por isso.
- Tudo bem. É algo difícil de lidar e sinceramente todo o estresse pode ter sido um dos motivos da distância entre eu e ele.
Eve pega sua taça na mesa e em apenas uma golada a esvazia. Ela pega novamente a garrafa e enche as nossas taças novamente. Enquanto tomo um pequeno gole, ela já a esvazia novamente. Observo quieto essa atitude antes de fazer uma última pergunta.
- Você por acaso sabe qual é o nome da Boneca?
Ela enche sua taça e toma novamente. - O nome dela é Inês Berbét. Pelo que eu sei ela é umas das bonecas "Vips" de lá. Deve estar trabalhando neste exato momento enquanto conversarmos.
- Agradeço pelas informações.
- Sem problemas. Ah, se você encontrar o Adrian, dê um soco na cara dele por ter me abandonado.
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Tânato
Misterio / Suspenso! Texto ainda não revisado ! Ambientado no mundo de Cyberpunk por: Mike Pondsmith com temática Cyberpunk/Film Noir, acompanhe Raymond Wright em uma busca por Adrian Walker, um ex-corporativo membro da Arasaka que está sendo perseguido. Cabe o Raymon...