Aqueles olhos verdes sempre foram hipnotizantes, sempre convidativos a vagar e se perder no verde profundo.
Sempre uma lembrança que ele é perigoso e em como essa situação já é conflita o suficiente sem reparar em seus olhos e no que eles representam.
E o príncipal, como vou conseguir minhas respostas de forma sigilosa com ele aqui?
Desviei o olhar analisando qualquer coisa que não fosse aquele homem.
- Stiles que bom que veio rápido, o Derek aqui parece ter um interesse comum ao seu.
Fiquei estático, olhando Deaton com o que eu acredito ser a cara de um bocaberta.
Ótimo. Era exatamente isso que eu queria que acontecesse. Derek descobrindo que eu roubei o pó mágico pra investigar.
Perfeito.
Mas, se ele tava aqui por um interesse em comum... Ele também queria respostas. E se queria respostas...
Olhei para ele e fique surpreso quando percebi que já me encarava, que já me analisava e quem sabe fazendo as mesmas perguntas que eu. A única diferença é que no lugar da cara de bocaberta estava a de um velho ranzinza amargurado pela vida.
Talvez fosse impressão minha, mas o ar pareceu esquentar e minhas mãos se tornaram escorregadias, de repente a presença dele se tornou óbvia de mais e minha respiração alterada de mais.
Não sei se o veterinário percebeu a tensão ou apenas não ligava para nada, porque virou de costas para ambos e começou a mecher em seus frascos.
Ele não se virou quando começou a falar, ainda mechendo em potes e frascos de coisas aleatórias.
- Sabe, Stiles. É interessante o que você me trouxe, confesso demorei pra entender do que se tratava.
Até separalos um por um e analizar - ele pegou um frasco de vidro menor com pó roxo e se voltou para nós - vocês sabem o que é esse, Derek principalmente.- Acônito - respondeu sem expressar emoção.
Deaton confirmou com a cabeça, colocou o frasco na mesa de metal do centro e voltou para a bancada, ficando novamente de costas.
- Mas ainda assim interessante, é que tem substâncias aqui que desconheço. Mas tenho teorias. O Acônito amarelo já conheçemos - pegou o frasco e colocou ao lado do outro, ambos com etiquetas indicando o conteúdo - mas agora, temos duas outras.
Eles olhou para nós dois, com cara de quem sabia o que estava rolando o que só fez minhas mãos tremerem ainda mais e começou com mais uma de suas palestras.
-Sabem, há uma história, de um rapaz chamado Narciso, um jovem que se apaixonou pela própria imagem refletida na água. Embora essa história seja mais sobre auto-ilusão e vaidade, também pode ser interpretada como um alerta sobre a busca pela verdade sobre si mesmo e os perigos da ilusão. - ele fez uma pausa e analisou, assim que respirou fundo continuou - exite uma flor inspirada nesse rapaz, o narciso, e apenar de ser uma flor comum, talvez- ele apontou para nós, enfatizando a frase - só talvez, em algum estágio da lua ou quem sabe o que. Alguém conseguiu extrair da flor algo que chegue perto de relevar quem somos ou que realmente queremos.
Eu facilmente teria dormido no meio dessa aula de filosofia se não fosse alguém intimidador presente.
E a poha do meu cérebro estava tenso dificuldade de se concentrar em algo que não fosse o lobo.
Culpa do TDH, obviamente.
Quando Deaton finalmente terminou de falar, pegou um frasco que continha um conteúdo amarelo e colou ao lado do outro. O rótulo deste escrito: narciso.
-Explicando de uma forma mais simples, acredito que o narciso possa ser capaz de "revelar a verdade" ou "apagar ilusões". Quem sabe até as duas.
Fransi as sombrancelha. Uma flor? Que revela a verdade?
Que verdade?
Olhei para Derek e o mesmo encarava o chão com os braços cruzados e a cara de quem tá com fome.
Analizar ele assim faz mesma pergunta brotar: que verdade?
- Como sabe que o narciso pode fazer isso? - perguntei em parte para quebrar a tensão e em outra, para descobri algo sem parecer interessado.
Deaton respirou fundo, pegou o frasco no balcão e o levou em direção ao olhos o analisando de perto.
- Essas "particulas" contém o narciso, existem outros compostos claro, mas o relevante é a flor. E se buscar seu significado, temos um teória.
Certo, mais conversa e ainda não é a resposta pra minha pergunta, e o nervosismo já tá fazendo minha perna tremer, ser discreto tem limite.
- E esse Narciso. Hipoteticamente claro, pode fazer alguem... Digamos que fazer coisas, "estranhas". Coisas fora de sua vontade?
Foi muito óbvio? Pela única sombrancelha levantada de Derek na minha direção acho que sim, aquela expressão de que está pensando em muitas coisas mas não deixa transparecer uma.
Enquanto eu estou estou com as sombrancelha alevantada e um beiço nos lábios, totalmente indiferente a resposta do veterinário.
Deaton olhou pra mim, e eu podia jurar que vi o canto de seu lábio se inclinar pra cima, bem de leve.
Pigareou e falou:
- Como eu disso, em teoria, se for algo que você já queira eu sei interior, alguma mentira interna ou um desejo odiado - ele olhou para Derek. Por que ele olhou para Derek? - acredito que sim. Acredito que ele revele a verdade que nem você sabe.Ele sorriu e virou de costas. E eu só consegui pensar no que ele e Derek estavam falando antes de eu entrar.
Com esse pensamento, olhei pra ele.
Estava com a mesma expressão de sempre, mas se for analizar com cuidado, da pra reparar em como seu olhar está meio perdido e em como tem uma veia em seu pescoço que dilata quando está aflito.
- A outra substância - ele se virou para nós, com um frasco de pó vermelho em seu interior - provavel que não conheçam. Pra ser honesto, demorei a me lembrar dela. Na mitogia grega, a murta era sagrada para Afrodite. Talvez compreendam o que isso significa?
Ele olhou pra mim. Talvez esperando uma resposta mas sinceramente eu ainda estou em pânico com o Narciso, tenho até medo dessa. No momento minha mente não passa de uma folha em branco. Balancei a cabeça em sinal negativo.
Deaton olhou para mim e Derek. E riu.
- luxúria.
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Odiosa Tentação
FanfictionStiles e Derek nunca se deram bem. Sempre implicaram um com o outro. Sempre pareceram se odiar. Mas e se esse ódios estives apenas disfarçando algo mais profundo?