Sombras no coração

Encontro Fatídico

O relógio na parede do consultório marcava quase meia-noite. Magnus Bane, um dos médicos mais respeitados do Hospital Presbiteriano de Nova York, estava encerrando um turno de 14 horas. Os olhos delineados por sombras brilhantes estavam pesados de cansaço, mas seu semblante mantinha a habitual confiança. Ele sempre gostava de dizer que, apesar do esgotamento, a excentricidade ainda o mantinha de pé.

Enquanto revisava os últimos prontuários, Magnus ouviu um som inesperado: o alvoroço de enfermeiros e a batida apressada de pés no corredor. Antes que pudesse se levantar para investigar, a porta de seu consultório foi aberta com força. Um homem alto e de feições rígidas, usando um terno ensanguentado, foi levado para dentro por dois homens corpulentos, que seguravam a maca com firmeza.

— Dr. Bane, precisamos de você agora! — A enfermeira chefe, Catarina Loss, exclamou com urgência na voz.

Magnus largou os papéis e se aproximou rapidamente, sem conseguir evitar o olhar curioso sobre o homem na maca. Mesmo à beira da inconsciência, havia algo naqueles traços, na forma como ele segurava o que restava de consciência com pura força de vontade, que imediatamente chamou a atenção de Magnus.

— O que aconteceu? — Magnus perguntou enquanto seus dedos hábeis começavam a examinar os ferimentos.

— Tiroteio. Ele foi atingido duas vezes, um na lateral e outro no ombro, mas parece que os tiros não atingiram órgãos vitais. Mas ele está perdendo muito sangue — explicou Catarina, ao mesmo tempo em que ajustava os equipamentos.

— Qual é o nome dele? — perguntou Magnus, enquanto avaliava a gravidade da situação.

Catarina hesitou, olhando para os homens que acompanharam o paciente até ali. O silêncio pesado no ar era quase palpável, mas um dos homens, com uma expressão sombria, finalmente respondeu:

— Alexander Lightwood. Ele... ele precisa sobreviver. Faça o que for necessário.

Magnus já havia ouvido aquele nome antes. Alec Lightwood era uma figura bem conhecida no submundo de Nova York. Chefe de uma das famílias mafiosas mais poderosas, seu nome era sinônimo de perigo e poder. Magnus sentiu um arrepio percorrer sua espinha, mas anos de prática o ensinaram a manter a calma, não importando quem estivesse na mesa de operação.

— Se querem que ele sobreviva, sugiro que me deixem trabalhar — disse Magnus com firmeza, lançando um olhar para os acompanhantes, que logo se afastaram um pouco mais.

Magnus então se concentrou totalmente em Alec. Ele preparou os instrumentos com precisão e iniciou o procedimento para remover as balas. Enquanto seus dedos hábeis costuravam a carne ferida, ele notou o rosto de Alec se contorcendo brevemente de dor, mas o homem não emitiu nenhum som. Havia uma força ali, algo que Magnus não conseguia identificar plenamente, mas que o atraía de maneira inexplicável.

A cirurgia foi longa, mas bem-sucedida. Magnus limpou o sangue das mãos e finalmente deu um passo para trás, olhando para o paciente. Alec estava pálido, mas estável, respirando de maneira suave.

— Ele vai sobreviver — Magnus informou aos acompanhantes, que soltaram um suspiro coletivo de alívio.

Enquanto observava Alec ser levado para a sala de recuperação, Magnus se pegou pensando em como a vida daquele homem estava intrinsecamente ligada à violência e ao caos. Magnus sempre prezou pela ordem e controle, algo que o ajudou a lidar com as dificuldades de sua própria vida. Mas agora, a presença de Alec Lightwood parecia ameaçar essa estabilidade.

O relógio marcava 1h30 da manhã quando Magnus finalmente se sentou, exausto, mas incapaz de esquecer os olhos intensos que por um breve momento se abriram durante a cirurgia, fixando-se nos seus. Ele sabia que esse não seria o fim de sua interação com Alec. Algo lhe dizia que aquele encontro fatídico era apenas o começo de algo muito maior — e talvez muito mais perigoso do que ele poderia imaginar.

Enquanto desligava as luzes do consultório, Magnus sentiu que sua vida estava prestes a mudar de uma forma irreversível, embora ainda não soubesse exatamente como. Mas uma coisa era certa: Alec Lightwood não seria apenas mais um paciente.