Liberdade

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Já fazia uma semana desde que conseguiu fugir do laboratório, teve que matar um dos lycans que estava fazendo uma pequena ronda no horário da noite com suas garras, eles não eram muito inteligentes mas nunca haviam chegado tão perto antes, não sabia como funcionava a rotina deles, era retirada da jaula apenas para as sessões de tortura com uma mulher que estava sempre de máscara, mas não tinha a visto nos últimos dois meses, o que era incomum para a frequência com que a mulher a visitava para testar todos os seus limites físicos e chamar de experimentos.

Quando finalmente conseguiu uma forma de fugir daquele inferno, aproveitou para destruir tudo que podia do necrotério cheio de corpos, não sabia dizer o quê eram aquelas coisas, mas com certeza não eram humanas. Até uma sala onde parecia ser um tipo de estoque de materiais.

Após fazer um belo estrago, seguiu por um pequeno corredor que dava para uma sala maior, onde geralmente aconteciam os experimentos, sentiu calafrios com as lembranças de tudo que aconteceu naquele lugar, mas se certificou de que não teria como ser utilizado novamente. Após isso, caçou a saída até encontrá-la e sentiu pela primeira vez em décadas a sensação de liberdade.

A lua cheia brilhava no céu cheio de estrelas enquanto corria para longe do lugar onde foi mantida presa durante anos, só conseguia pensar em como não se lembrava da sensação de sentir o vento em seu pelo, o som dos animais da floresta e as folhas secas nas quais pisava ao atravessar a floresta. Foi privada disso por tanto tempo que o desespero e o medo que vieram com a fuga foram brevemente esquecidos para dar lugar ao alívio que estava sentindo naquele momento.

Ao voltar para o presente, percebeu que não a estavam procurando, como se nem tivessem notado sua fulga, se sentia aliviada com isso, mesmo estranhando que não haviam ido atrás dela mesmo depois de todo o estrago que causou, se encontrava ocasionalmente com lycans, mas eles não eram um problema, eram mais como um lanchinho.

Sabia que não podia se alimentar de lycans para sempre, o gosto era horrível, era quase como se estivesse mastigando lodo, além de não a manter saciada por muito tempo. Não podia se olhar no espelho, mas sabia que suas costelas estavam visíveis e que provavelmente tinha perdido muito peso nos últimos meses.

A comida no inferno, que gostava de chamar assim por não saber outra forma de nomear, era basicamente uma coxa de veado um dia sim e outro não, costumavam não alimenta-la bem para que não tivesse forças para retaliar, mas acabou não dando muito certo, era pouco, mas conseguia sobreviver e sustentar o próprio peso de uma forma minimamente decente e isso foi o suficiente para que conseguisse fugir.

Caçar a própria comida seria mais fácil se não tivesse lycans para competir pelo pouco que tinha naquela área das montanha, estava fraca demais para competir, quando não se alimentava de lycans pequenos, eram pequenos animais ou frutas que não sustentavam seu estômago nem em sua forma "humana".

Quando finalmente decidiu que estava cansada de comer lycans e que definitivamente não estava sendo procurada, partiu para o oeste, não sabia como havia ido tão longe, e não planejava ter voltado, mas acabou perto o suficiente do Villarejo para sentir o cheiro dos animais, das plantações e dos moradores, sentiu uma pontada de nostalgia, mas ignorou, nunca havia feito parte daquilo, e não planejava tentar fazer, sabia que um ser como ela não seria bem vindo.

Não sabia muito sobre sua origem, apenas sabia aquilo que a ouviu da mulher de olhos dourados, o que não era muito já que ela evitava conversar enquando abria seu corpo e injetava substâncias que faziam suas veias queimarem e fazê-la querer morrer para que aquilo acabasse de uma vez, mas pelo que ouviu, seus pais que não se deram o trabalho de lhe dar um nome, decidiram larga-la na floresta ao ver a criatura que haviam gerado, mas por algum milagre acabou sobrevivendo, isso não pareceu agradar os aldeões que tiveram seus animais arrastados para a mata e seus melhores caçadores dilacerados por ela, não queria realmente tê-los machucado, mas não tinha tanto controle sobre sua transformação quando era mais jovem.

Donna (Volta Não Muito Em Breve)Onde histórias criam vida. Descubra agora