Ecos do medo

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Mina acordou com um sobressalto, o peito ainda apertado pela sensação de sufocamento que a havia perseguido durante toda a noite. O sol começava a entrar pelas cortinas finas do apartamento, mas a luz não conseguia dissipar a escuridão que envolvia sua mente. As palavras de Takeru ecoavam em sua cabeça, cada uma delas impregnada de um medo que ela não conseguia afastar.

Ela se levantou da cama com as pernas ainda trêmulas, tentando ignorar o reflexo pálido e desolado que viu no espelho ao lado. Sabia que precisava sair de casa, mas o medo que Takeru havia incutido nela tornava cada passo um desafio. Tentando sacudir o peso do terror que a cercava, ela decidiu sair para tomar um pouco de ar, talvez clarear a mente.

Depois de um banho rápido e sem ânimo, ela vestiu uma calça jeans surrada e uma blusa qualquer, pegou sua bolsa e saiu. O sol estava forte, mas Mina mal notava. Seus pensamentos estavam presos nas mensagens que Takeru havia mandado, na ameaça implícita em cada palavra.

Caminhando sem rumo, Mina acabou entrando em um café que havia visto antes, mas nunca visitado. O lugar era simples, mas aconchegante. Ela se sentou em uma mesa perto da janela, tentando encontrar algum conforto na visão da rua movimentada.

Ela pediu um cappuccino, esperando que o calor da bebida a acalmasse. Enquanto esperava, seus pensamentos voltaram à noite anterior, à forma como tinha se encolhido na cama, tremendo de medo. Aquelas lembranças ainda estavam frescas em sua mente, mas agora, em meio à luz do dia, pareciam ligeiramente mais distantes, como se houvesse uma barreira tênue entre ela e o terror que sentia.

Quando o café chegou, Mina envolveu a xícara com as mãos, tentando absorver o calor. Ela estava tão imersa em seus pensamentos que não notou quando a porta do café se abriu e alguém entrou.

Chaeyoung entrou no café com sua expressão fria e impassível. A manhã estava cheia de reuniões e compromissos, e um café forte era exatamente o que ela precisava. Seu olhar se deteve em Mina, que estava sozinha e parecia perturbada, embora Chaeyoung não tivesse detalhes sobre sua vida pessoal.

Chaeyoung foi até o balcão, pegou seu café e, ao invés de seguir diretamente para fora, hesitou ao ver Mina. A familiaridade do rosto chamou sua atenção, e mesmo sem conhecê-la bem, Chaeyoung decidiu se aproximar.

"Você parece um pouco fora de si," Chaeyoung observou, seu tom de voz neutro, mas direto.

Mina levantou os olhos, surpresa por encontrar Chaeyoung ali. "Chaeyoung? O que você está fazendo aqui?"

"Só tomando um café," Chaeyoung respondeu, puxando uma cadeira e se sentando à mesa de Mina sem esperar convite. "Mas você parece estar com algo na cabeça."

Mina hesitou, não sabia se devia abrir seu coração para alguém com quem mal tinha contato. "É... é só um dia ruim," disse ela, tentando manter a conversa superficial.

Chaeyoung arqueou uma sobrancelha, claramente não convencida pela resposta evasiva. "Parece mais do que um simples dia ruim. Algo aconteceu?"

Mina pensou em recusar a oferta de conversa, mas havia algo na presença direta de Chaeyoung que a fez sentir que talvez não houvesse mal em compartilhar um pouco. "Recebi algumas mensagens... de alguém que não quero mais na minha vida. Ele está tentando me intimidar."

Chaeyoung, que não tinha conhecimento sobre a relação de Mina com Takeru, manteve o olhar analítico. "Intimidação pode ser um desafio, especialmente quando você pensa que se livrou de alguém e descobre que a pessoa ainda tem um impacto na sua vida."

"Sim," Mina confirmou, a frustração evidente na voz. "Eu pensei que, ao terminar com ele, estaria livre, mas ele continua encontrando maneiras de me assombrar."

Chaeyoung deu um gole em seu café, sem desviar o olhar de Mina. "Eu não sei os detalhes, mas parece que você precisa encontrar uma maneira de se proteger e estabelecer limites claros. A intimidação é difícil de enfrentar, mas você não deve se sentir impotente."

Mina sentiu um calafrio ao ouvir as palavras. Chaeyoung estava sendo direta, como era seu costume, mas havia um toque de pragmatismo que a fez refletir. O olhar de Chaeyoung, que antes parecia apenas observador, agora carregava uma intensidade que Mina não havia notado antes.

"É mais fácil falar do que fazer," Mina murmurou.

"Sim, eu entendo. Mas a ação é necessária para transformar uma situação," Chaeyoung disse, a frieza de sua voz não diminuindo, mas agora acompanhada de uma nota de realismo. "Se você não lidar com isso, a situação vai continuar a afetar você."

Chaeyoung observou Mina com um olhar mais atento do que o habitual. Embora não soubesse detalhes íntimos sobre a vida de Mina, algo na maneira como ela falava e na vulnerabilidade que transparecia a tocou de forma inesperada. A força de vontade de Mina, a sua luta para se libertar do controle de alguém, fez Chaeyoung se questionar sobre o que realmente estava acontecendo com aquela mulher.

"Obrigada, Chaeyoung," Mina disse, ainda um pouco atordoada com a conversa. "Vou pensar no que fazer."

Chaeyoung deu um breve aceno de cabeça e se levantou. Ao sair do café, ela sentiu uma estranha sensação de preocupação e curiosidade sobre Mina. A forma como Mina lidava com seu sofrimento e a determinação em sua voz deixaram uma impressão em Chaeyoung que ela não estava preparada para lidar.

Enquanto Chaeyoung deixava o café, Mina se sentou ali, sentindo uma mistura de alívio e determinação. As palavras de Chaeyoung, embora frias e diretas, a ajudaram a ver que, apesar do medo e da frustração, ela tinha o poder de decidir como lidar com seu passado e começar a se libertar realmente de Takeru.

Para Chaeyoung, o encontro inesperado com Mina despertou algo que ela não havia previsto. Havia algo em Mina que despertava um sentimento de empatia e um interesse genuíno, algo que Chaeyoung não estava acostumada a sentir em relação a seus subordinados. A frieza que normalmente exibia parecia ter sido um pouco quebrada, deixando espaço para uma nova compreensão. E, enquanto se afastava, Chaeyoung não conseguia evitar pensar que talvez o que ela havia visto em Mina fosse algo que merecesse mais atenção e cuidado.

maybe fate? - michaengOnde histórias criam vida. Descubra agora