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Hinata pula do sofá como um gato assustado.

Ele está exatamente na minutagem 1h23min de Invocação do Mal 2, bem no clímax cheio de demônios e gritos, então não o culpe por levantar rápido demais, quando a campainha toca, ao ponto de ficar tonto por alguns segundos.

Seus braços estão frios, humilhantemente arrepiados, e a última cena ainda está fazendo seu coração bater mais rápido do que o normal. 

Lentamente, ele olha para a porta.

A intuição de Hinata diz que permanecer no sofá é mais seguro, e é por isso que ele se senta novamente. 

Por favor, ele já viu este roteiro antes; De acordo com o manual do terror, de duas é uma: ou é um padre, ou uma boneca na caixa. Lógico, exclua os vizinhos bizarros e os doidos aleatórios te implorando para se mudar, porque aparentemente sua casa financiada é mal-assombrada.

Então ele se lembra que não está em um filme de terror. Essa é a vida real, mesmo que não haja tanta diferença entre um e outro. 

Mas a porta está lá, esperando para ser aberta. 

Quando Hinata levanta outra vez, suas costas doem por ficar tanto tempo na mesma posição em um sofá desconfortável. Senhores, ele passa muito tempo se estressando com o trabalho e tendo pequenas paradas cardíacas com Invocação do Mal. Um sofá novo deveria ser incluído no orçamento.

Hinata faz o sinal do Pai Nosso, então tateia o sofá em busca do controle remoto para dar pause. A tela congela bem na parte em que a Freira aparece mostrando as consequências de não usar fio dental e mais assustadora do que deveria. Bem, não é uma cena muito linda, então Hinata desvia os olhos e anda até a porta.

A campainha toca outra vez.

— Já vai! — Ele calça seus chinelos um de cada vez, alcançando as chaves.

Bem, é Yachi, ele imagina. Ela deve ter esquecido as chaves de casa de novo e agora está chorando na frente dos vizinhos para que Shoyo a tire da rua, com certeza. Então Hinata pensa um pouco mais e franze a testa. Se fosse o caso, Yachi com certeza não correria para os braços dele, e sim os de Kiyoko (traíra), e ainda o jogaria de oferenda para a Freira, como a boa amiga que ela é. Apesar de Hinata adorar Kiyoko, talvez, no fundo, ele esteja assustado com a quantidade de tempo que elas passam juntas.

Hinata, em geral, precisa parar de se preocupar. Este é o terceiro filme de terror que ele vê no dia e isso com certeza está o deixando mais neurótico e completamente paranoico. Mas, da mesma forma, ele gira a maçaneta às rezas para não encontrar algum maluco de machado com sede de sangue. Ou uma serra elétrica, fica ao critério. De repente, o rangido das dobradiças é mais assustador do que o normal.

Porém, quando a porta é aberta, ele não encontra sangue, máscaras bizarras nem nada disso. São só flores. Muitas e muitas flores. Um buquê incomumente enorme de rosas brancas que Shoyo não tem ideia do que fazer, além de encarar igual um idiota.

Ele corre os olhos na rua, pelos arredores, esperando alguém sair da moita pra dizer que ele é um otário e caiu numa pegadinha que vai direto pro Tik Tok, mas não acha nada relevante. Apenas a brisa de fora que faz carinho em seu nariz, e o canto de alguns passarinhos. O dia está bom demais para ficar trancado em casa vendo filmes de terror, ele percebe.

Ele mora em uma rua tranquila, e, como colega de casa, agradece Yachi internamente pela escolha. Mas, novamente à tona, é impossível ignorar aquele bolo de flores. Hinata encara aquilo novamente alguns centímetros acima. Quem é que esteja segurando o buquê não subiu o lance de três degraus para estar em pé de igualdade com ele.

Entrega para Idiota (KageHina)Onde histórias criam vida. Descubra agora