Kageyama tem uma vida comum.
Ele paga contas no fim do mês e exagera na hora de pôr leite no café. Gosta de filmes de terror e anda por aí entregando flores porque precisa de algo que pague o aluguel do apartamento, a duas quadras do ginásio onde ele joga vôlei, a propósito.
Talvez a única coisa incomum na vida de Kageyama é que ele comprou a mesma camiseta branca três vezes, só para lavar roupa com menos frequência. Também, com toda certeza, não é o orgulho da família por ter largado a faculdade de engenharia civil no meio do primeiro período para jogar vôlei. Nem quando foi expulso da academia do bairro por disputar uma barra de peso.
Apesar disso, ele está feliz levantando Mikasas e entupindo a geladeira de iogurtes e leites da sessão premium. A academia nova do condomínio, pelo menos, tem ar-condicionado.
Morar sozinho, no entanto, não o deixa impune de uma rotina, que hoje se resume em vôlei e trabalho.
Trabalho este que, na maior parte das vezes, é tranquilo. No início, ele demorou para entregar as flores inteiras, sem que o caule dobrasse ou as pétalas de trás amassarem porque ele guardou mal no contêiner de entrega acoplado à moto da floricultura, uma Vespa amarela. Por vezes, quando já estava na porta do cliente, flor na mão, o papel cintilante simplesmente saía do lugar e, em dois segundos, o buquê já estava todo deformado.
Algum tempo depois, Kageyama aprendeu que colocar algumas almofadas dentro do contêiner ajudam a não amassar. Colocar o caule rente ao zíper da caixa transportadora é melhor.
Ele faz entregas express de pedidos únicos. Vez ou outra, quando há várias entregas no dia, ou quando as flores não cabem no contêiner acoplado na moto, a floricultura disponibiliza uma van branca. O câmbio é manual, então Kageyama apanhou um pouco para lembrar da sequência de marchas e embreagem que aprendeu há anos, ainda adolescente, para o primeiro exame de motorista. Nas primeiras vezes, ele não conseguia subir um morro sem que o motor morresse e alguém atrás buzinasse. Sobrava pro volante, espancado todas as vezes. Mesmo angustiado e sentindo falta da moto amarela, ele aprendeu a achar o ponto da embreagem e trocar a marcha depois de um tempo.
No geral, ele é um bom motorista. Kageyama viu muito da cidade, até porque, as entregas nem sempre eram residenciais. Uma vez, ele teve que fazer um cadastro em um prédio empresarial chique para subir pelo o elevador de serviço com um amontoado de flores para um evento corporativo. Foi quase cômico, na verdade. Ele encontrou um ex-colega engravatado da faculdade de engenharia estagiando por lá, e quando perguntou o que Kageyama estava fazendo, ele apenas respondeu que entregava flores.
Há momentos densos. Sombrios. A Vespa amarela não combinava com os portões escuros e pontiagudos do cemitério da cidade. Seu uniforme azul bebê contrastava demais com os vestidos pretos e óculos escuros. Kageyama se sentia intruso, sufocado e inexplicavelmente inconveniente. Ele estava lá, dirigindo e usando coisas coloridas que gritavam felicidade, enquanto a madeira do caixão da capela estava descascando. É tão ofensivo, ele pensa desejando estar triste. Afinal, é assim que o trabalho funciona,
Havia vezes onde os clientes confundiam os horários e Kageyama chegava depois do início do evento. Aconteceu na festa de formatura do ensino médio de alguma escola com o nome engraçado. Ele apareceu segurando flores para o arranjo do palanque. Obviamente, mesmo contra a vontade, Kageyama recebeu tantos olhares que a nuca queimou. Ele até virou uma aposta! Meninas, é o seguinte, quem conseguir o número do florista bonitão antes do discurso de abertura vai ganhar mais esfirras na festa do terceirão. No fim, ninguém conseguiu o número, muito menos dizer um "oi".
Kageyama é velho demais para elas, por favor. No entanto, isso não o impede de pedir esfirras para ele por delivery no final do dia. A dieta de atleta pode ficar pra segunda-feira.
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Entrega para Idiota (KageHina)
FanfictionKageyama, um motoboy especializado em entrega de flores, faz entregas semanais na casa de Hinata Shouyou. De primeira, eles se detestam. O resto é história. KageHina • ShortFic • Comédia • Fluffy