Capítulo 1

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A taverna estava cheia, com o som abafado das conversas e das risadas altas ecoando nas paredes de pedra. O ar estava denso, carregado pelo cheiro de cerveja derramada e pelo suor dos trabalhadores que se aglomeravam ali para terminar o dia com um copo na mão. Eu estava atrás do balcão, limpando canecas e contando os segundos para meu turno acabar. As horas passavam devagar, arrastadas pelo peso da monotonia e da sujeira que pareciam impregnadas em cada canto do lugar. Meu avental estava manchado e amarrotado, e minhas mãos calejadas trabalhavam de forma automática.

Enquanto enxugava a última caneca, peguei fragmentos de uma conversa que chamou minha atenção. Três homens, todos moradores da vila, estavam sentados em uma mesa próxima ao balcão, suas vozes mais altas do que o normal, provavelmente por causa da cerveja. Não pude evitar ouvir o que diziam, e as palavras "cavaleiros da guarda" e "rei" perfuraram minha rotina como um raio.

- Dizem que o rei mandou os cavaleiros mais leais e preparados do reino para se espalharem pelas vilas, - disse o mais velho dos homens, com um sorriso bêbado nos lábios. - Vão manter a ordem e a segurança por aqui durante a próxima temporada.

- Não são qualquer cavaleiros, - continuou o segundo, mais magro, os olhos brilhando de excitação. - Esses são os melhores! Ouvi dizer que foram escolhidos a dedo pelo rei. A nossa vila vai ser uma das bases deles.

O terceiro homem, que estava mais calado até então, assentiu. - Estarão aqui em poucos dias. Vamos ter que nos comportar, ou eles vão colocar todos nós na linha.

Uma onda de animação percorreu meu corpo. Cavaleiros do rei, os mais leais e preparados, viriam para nossa vila. Era a oportunidade que eu estava esperando. Se conseguisse apresentar meu trabalho para esses cavaleiros, talvez eles me recomendassem para a capital. Minhas armas, meus arcos e espadas poderiam ser levados para onde houvesse necessidade. E se minhas lâminas fossem vistas nas mãos dos melhores guerreiros do reino, finalmente seria reconhecida como uma verdadeira ferreira. Esse poderia ser o primeiro passo para meu sonho de deixar essa vila e fazer meu nome na capital.

Apressei-me para terminar o que estava fazendo, meus pensamentos acelerados planejando o que faria quando os cavaleiros chegassem. Quando meu turno finalmente chegou ao fim, fui até o dono da taverna, Thorne, para receber o pagamento do dia.

- O dinheiro, Thorne, - pedi, mais impaciente do que o normal.

Ele ergueu uma sobrancelha, notando minha pressa, mas não disse nada. Ele puxou uma pequena bolsa de couro debaixo do balcão e a entregou. Peguei-a rapidamente, sentindo o peso das poucas moedas dentro dela. Agradeci com um aceno e comecei a me dirigir à saída. O sol estava se pondo, tingindo o céu de laranja e vermelho através das pequenas janelas, e a taverna estava mais cheia do que no início do dia. Tive que atravessar o salão, desviando das mesas e dos clientes.

Quando estava perto da porta, um homem mais jovem, sentado em uma das mesas próximas à saída, interceptou meu caminho. Ele agarrou meu braço com força, puxando-me para perto de si. Senti o calor do álcool em seu hálito quando falou, sua voz baixa e cheia de intenção.

- Onde pensa que vai, garota? - Ele arrastou as palavras, seus olhos percorrendo meu corpo com uma lascívia que eu conhecia bem demais. - Não acha que deve passar mais tempo aqui com a gente? Quem sabe a gente se diverte um pouco?

Antes que eu pudesse reagir, a mão do homem deslizou do meu braço para minha cintura, apertando minha carne de maneira possessiva. Ele sussurrou algo indecente, mas eu já não estava ouvindo. A raiva, acumulada ao longo de anos de encontros como aquele, explodiu dentro de mim. Não hesitei. Com um movimento rápido, desvencilhei-me do aperto do homem e, em um instante, saquei o punhal que sempre carregava escondido na cintura. Em um movimento fluido, a lâmina afiada estava apontada para o que ele tinha de mais sagrado entre as pernas.

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