O dia em que Kath se muda.

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Medo: grande inquietação em relação a algo desagradável, a possibilidade de um insucesso.
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Minha mãe costumava dizer que o medo é dividido em duas partes. 
Medo de perder alguém que ama, ou medo de se apaixonar tão fortemente e depois ter uma desilusão.
Posso dizer que a primeira parte do medo eu já senti. Foi umas das  piores dores do mundo. 

Chegar em casa, procurar o seu pai e não encontrá-lo, chama-lo e ele não responder, dá um desespero tão grande que parece que vai corroer a sua alma e destruir-te por dentro.

Eu já estava acordada há um tempo, mas permaneci com os olhos fechados. Hoje era terça-feira, o que significava que eu teria que acordar para ir à escola.
Suspirei pesadamente e abri os olhos, me deparando com May ao meu lado dormindo tranquilamente. Uma nuvem de cabelos ruivos estavam no meu rosto, e eu os afastei, sorrindo. 
Peguei-a no colo e caminhei demoradamente com ela no colo. Abri a porta do seu quarto e depositei-a na cama, com todo o cuidado do mundo. 
Sai do quarto e entrei no meu. Comecei a me arrumar, visto que chegaria atrasada se demorasse demais.
Desci as escadas e me deparei com a minha mãe, que estava falando ao telefone. Ela é enfermeira em um hospital aqui de Nova York, e gosta muito de seu trabalho. A única parte ruim é que vive ocupada, sem ter muito tempo pra cuidar de si. 

Fiz meu café da manhã e acabei ouvindo parte de sua conversa ao telefone.

-...eu adoraria, realmente adoraria.- ela dizia com uma voz extremamente empolgada e segundos depois ouvi o baque, indicando que havia desligado.

Olhei-a com uma expressão curiosa. Parecia que lhe tinham oferecido um Ian Somerhalder pintado de ouro.

-Eu não acredito...eu... consegui.- ela dizia pausadamente, como se não acreditasse no que estava dizendo.
-Mãe, você está me assustando. Conseguiu o quê?-indaguei e ela deu um grito de empolgação.
-EU CONSEGUI O EMPREGO NO CANADÁ!
-Ah, parabé... VOCÊ O QUÊ?- perguntei sorrindo de orelha a orelha e comecei a rir de felicidade.

Ela sempre quis esse emprego no Canadá. Ela poderia ter mais tempo livre, seu salário dobraria de tamanho e ainda seria promovida. Realmente fiquei muito feliz por ela. Mas aí caiu a minha ficha. Vamos ter que nos mudar. Eu não estava preocupada com a escola ou com amigos. Eu não tinha nenhum. Somente Jason. Era exatamente isso que me preocupava, as aulas de dança. O espetáculo, a minha inscrição pra uma faculdade de dança que eu faria daqui a alguns meses. Tudo iria por água abaixo. 

-Q-Quando vamos?-indaguei e ela olhou-me com tristeza.
-Começamos a arrumar as malas hoje. Partimos amanhã.-ela disse e parecia que meu mundo havia desabado.- Desculpe, querida. Você sabe que isso é importante pra mim e... Não iremos ficar muito tempo. Somente oito meses.

Eu assenti e senti uma lágrima escorrer pelo meu rosto. Ela disse que eu não precisaria ir pra escola, que ela iria até lá resolver  a questão de toda a papelada. Eu concordei, sem prestar muita atenção no que ela dizia e sai porta afora.
Corri, meio sem direção, mas minhas pernas sabiam exatamente o local que eu queria ir. Depois de correr muito, cheguei até o Central Park. 
Me joguei no banco e ajeitei os óculos, começando a chorar.

Eu estava extremamente feliz pela minha mãe, sabia que grande parte da sua vida se resumia e enfermagem. Mas... e a minha vida? E tudo o que eu sonhei  e consegui durante todos  esses anos? Papai me dizia que um dia, iria me ver dançar na Broadway. Parecia tudo muito certo: eu iria ensaiar, entrar pra uma faculdade de dança e depois teria uma fantástica carreira de dançarina em Nova York. E tudo isso foi destruído por conta de uma viagem idiota pro Canadá.

''Calma, Katherine, serão só oito meses. Não irá bagunçar muito a sua vida.''  Pensei.

Mas a quem eu queria enganar? Bagunçaria TOTALMENTE a minha vida.
Ugh, eu sou uma vaca egoísta por pensar assim. Tudo pelo  que minha mãe batalhou durante todos esses anos finalmente faz sentido e eu aqui me lamentando?

Comecei a andar em direção à minha casa e comecei a me conformar com a idéia. Não seria tão ruim assim. Eu poderia fazer novas amizades, mudar o meu aspecto, me tornar menos  tímida. 
Mal sabia eu que essa mudança faria a minha vida mudar completamente, pra melhor.

****

A pior parte de tudo foi contar para Jason. Ele chorou e implorou pra que eu ficasse. Em vão.
No dia seguinte eu já estava enfiada dentro de um avião, me lamentando por ter deixado a minha tão amada Nova York. 
Eu usava óculos, aparelho e usava roupas estranhas. Definitivamente, estava na hora de mudar isso.

***

6 meses depois...

Estou caminhando da escola de volta pra casa e pensando em tudo o que me ocorreu durante esses meses que estou aqui no Canadá.  

Definitivamente, eu amo o Canadá. As pessoas são gentis e educadas. Os alunos não são tão babacas assim e tratam a todos com respeito. 
Assim que eu cheguei aqui, tratei de mudar a minha aparência. Passei a usar lentes de contato, que deixavam as minhas iris verdes á mostra. Tirei o aparelho e fiz uma bela de uma mudança no meu guarda-roupa. Os moletons largos foram substituídos por jeans mais justas. As camisetas largas e sem cor foram substituídas por outras com detalhes e mais justas. Meus tênis foram trocados por sapatilhas ou até mesmo saltos, quando eu usava vestido.
Eu não era mais a garotinha perdida e sem personalidade. Eu acabei me encontrando. Aprendi que poderia ser forte e ter alto-estima, sem a ajuda de ninguém.

Logo que entrei na escola comecei a me soltar mais e a fazer amigos.Minhas notas continuaram boas e a minha alto-estima aumentou como que por mágica.  Bella e Max são os meus dois melhores amigos. Não poderia ter pedido amigos melhores. Eles são aquele tipo de pessoa que fazem você rir mesmo nos piores momentos  e nunca te deixam na mão. Eu adoro-os. 
Não sei se foi o sorriso encantador da Bella ou a simpatia de Max que me conquistou, mas sem dúvida, aquela mudança foi a melhor coisa que poderia ter me acontecido.

May continua a mesma de sempre, alegre, linda e a garotinha que transmite simpatia.

Sinto falta de Nova York. Do clima, das pessoas  e até mesmo do ar. Mas me acostumei ao Canadá, sei que sentirei muita falta daqui quando for embora, sentirei falta da Bella, do Max e de todas as outras pessoas. Até mesmo dos professores. Continuo praticando a dança, o meu maior prazer em toda essa vida.

Quando dou por mim, já estou parada em frente a casa.



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⏰ Última atualização: Jul 26, 2015 ⏰

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