Capítulo 8

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DARLAN ELLIOT

A noite em Versalhes parecia mais fria do que o habitual, e o crepitar da lareira em meu aposento pouco fazia para aquecer a inquietação que me tomava. Estava sentado à escrivaninha, meus pensamentos entrelaçados com a inevitabilidade do futuro, quando ouvi passos firmes ecoarem pelo corredor. Eram passos que eu conhecia bem, passos que carregavam o peso de um reino, de decisões que moldavam vidas. Era meu pai, o rei de Versalhes.

Ele entrou sem cerimônia, como sempre fazia, sua presença preenchendo o aposento antes mesmo que pudesse falar. Houve um tempo em que aquela presença me intimidava, mas agora, sendo um homem prestes a assumir responsabilidades próprias, eu sabia que devia encará-lo como igual, ao menos em espírito.

— O pai — disse eu, levantando-me e inclinando levemente a cabeça em sinal de respeito. Ele acenou para que eu me sentasse novamente.

— Darlan, precisamos conversar — Suas palavras eram suaves, mas carregadas de uma gravidade que raramente ele exibia. Assenti, aguardando o que viria a seguir, e ele se acomodou na poltrona à minha frente, seus olhos azuis, idênticos aos meus, fixos em um ponto distante, como se visse além das paredes do castelo, além dos jardins, talvez além do próprio tempo.

— Darlan — ele começou após um longo silêncio — sabe que, como rei, muitas das minhas escolhas não foram realmente minhas. Meu casamento com sua mãe, por exemplo, foi uma dessas escolhas. Fui ordenado a me casar com ela, não por amor, mas por política, por alianças, por poder. E como jovem, eu não entendia o que isso significava. Tratei-a mal, confesso. Não fui o marido que ela merecia. Para mim, era apenas mais uma obrigação, mais uma peça do tabuleiro de xadrez.

Ouvir meu pai falar assim era como descortinar um lado dele que eu nunca havia conhecido. Um lado humano, falível. O rei estava se despindo de sua coroa, ao menos por um momento, para falar como homem.

— Quando ela engravidou de você — continuou — tudo mudou. Ela estava radiante, cheia de vida, sonhando em ser mãe. Mas quando você nasceu, Darlan, ela ficou ainda mais feliz. Não porque fosse um príncipe, mas porque era seu filho. Ela sonhava com uma grande família, com muitos filhos para preencher o castelo com risos e vozes.

Minha mente vagou por um momento, imaginando minha mãe, uma mulher que conheci apenas nos retratos pendurados pelos corredores. Uma figura distante, quase mítica, mas agora mais próxima do que nunca através das palavras de meu pai.

— Quando ela engravidou de Anne... — ele continuou, sua voz tornando-se mais pesada — Tudo mudou novamente. A gravidez a debilitou. Ela estava fraca, mais fraca do que jamais a vira. E foi então que percebi... que nunca a havia valorizado como deveria. Ela era minha rainha, a mãe dos meus filhos, e eu fui cego, arrogante. Quando Anne nasceu, sua mãe morreu naquela mesma noite. Complicações do parto, disseram. Mas eu sabia... foi o fardo que eu, como marido, nunca ajudei a carregar.

Ele parou, e por um momento, apenas o crepitar do fogo preencheu o silêncio. Olhei para ele e, pela primeira vez, vi tristeza em seus olhos. Uma tristeza profunda, enraizada em arrependimentos que o tempo não poderia apagar.

— Depois da morte dela, jurei a mim mesmo que cuidaria de você e de Anne. Que não permitira que vocês passassem pelo que ela passou. E agora, Darlan, eu vejo em você um reflexo do que fui, prestes a se casar, prestes a assumir um papel que moldará não apenas seu futuro, mas o de Caroline também.

Ele se inclinou para frente, seus olhos buscando os meus.

— Eu te peço, meu filho, cuide de Caroline. Valorize-a. Não repita meus erros. Não a veja apenas como uma obrigação, mas como uma companheira, alguém com quem você dividirá a vida. O casamento não é apenas um dever real; é uma aliança, uma união de corações. Faça dela sua rainha, em todos os sentidos, e não apenas por título.

Suas palavras ecoaram dentro de mim, atingindo-me com a força de uma verdade inescapável. Eu sabia que a responsabilidade que estava prestes a assumir era grande, mas ouvir aquilo de meu pai, de um homem que carregava o peso de seu próprio arrependimento, fez-me compreender a profundidade do que estava por vir.

— Eu prometo, pai — disse eu, minha voz firme, mas o peso da promessa se fazendo sentir em cada palavra — Farei de tudo para honrá-la, para ser o marido que ela merece. Não a tratarei como uma simples peça de um jogo político. Caroline será minha esposa, minha rainha, e cuidarei dela como você me pediu.

Meu pai assentiu, e por um breve momento, vi algo como orgulho em seus olhos. Ele se levantou e colocou a mão em meu ombro, um gesto simples, mas que carregava mais do que mil palavras poderiam expressar.

— Então é isso, Darlan. O futuro agora está em suas mãos. Faça-o valer a pena.

Ele saiu do aposento tão silenciosamente quanto havia entrado, deixando-me sozinho com meus pensamentos e com a certeza de que o caminho à frente seria difícil, mas necessário. A responsabilidade de ser um bom marido, um bom rei, agora pesava sobre mim. Mas também sabia que não estava sozinho. Caroline e eu faríamos isso juntos. Pelo menos, eu esperava que sim.

Beijo Encantado - As Baumann 01Onde histórias criam vida. Descubra agora