Capítulo 10

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DARLAN ELLIOT

O dia nasceu envolto em uma névoa branda, como se o próprio céu reverenciasse o que estava por acontecer. O Palácio de Versalhes, grandioso e imponente, preparava-se para abrigar o desígnio mais sublime da união entre mim e Caroline. Desde o momento em que despontara o sol, senti o peso da tradição e a ausência pungente de minha mãe, cuja partida para o outro mundo ainda ferira meu espírito como se houvesse ocorrido ontem. Sua falta, mais aguda neste dia, pairava silenciosa sobre cada passo que eu dava.

O grande salão, adornado com candelabros reluzentes e tapeçarias ricas, era testemunha de uma cerimônia carregada dos costumes da era vitoriana. Homens e mulheres, nobres de terras distantes, exibiam suas melhores vestimentas. As senhoras, com seus vestidos volumosos, abanavam-se lentamente, enquanto os cavalheiros mantinham-se retos, vestindo casacas de veludo e gravatas imaculadamente brancas. O clero, de mantos pesados e solenes, preparava-se para oficiar o sacramento. A atmosfera era de expectativa.

No centro daquele esplendor, postei-me diante do altar, onde o padre, de barba grisalha e semblante severo, esperava o início do rito. Meus olhos, contudo, vagavam inquietos, pois o momento que mais ansiava estava por vir: a entrada de Caroline.

Quando a porta do grande salão finalmente se abriu, o som suave da harpa preencheu o ambiente. Caroline surgiu, vestida com um manto de branco puro, como neve intocada, que descia em ondas de cetim até o chão. Seu véu delicado, preso com um diadema de pérolas e ouro, mal escondia a face, mas dava-lhe um ar etéreo, quase celestial. Meu coração acelerou, e por um momento, esqueci de tudo ao meu redor — a nobreza, o clero, o peso da coroa. Era como se o mundo houvesse cessado de existir, e houvesse apenas eu e Caroline.

Seus passos eram lentos, medidos, como exigia o costume, e a cada passo seu, algo em meu peito parecia crescer. Seu rosto — ah, aquele rosto! — estava sereno, mas nos olhos dela via um mar de emoções contidas. Quando ela finalmente chegou ao meu lado, tive que lutar contra o impulso de tomar-lhe a mão antes da hora.

O padre iniciou as palavras sagradas, sua voz ressoando pelo salão:

— Amados irmãos e irmãs, estamos aqui reunidos perante Deus e Sua Santa Igreja para celebrar a união deste homem e desta mulher, que desejam viver juntos em santo matrimônio...

Suas palavras, embora belas, eram apenas um sussurro comparado ao tumulto que se desenrolava dentro de mim. Caroline e eu trocamos olhares rápidos, e em seus olhos, vi um reflexo de tudo o que eu sentia, amor, esperança, e uma leve sombra de tristeza pela ausência de minha mãe.

Finalmente, chegou o momento dos votos. Tomei sua mão, trêmula, e, com a voz firme, declarei:

— Eu, Darlan, tomo-te, Caroline, como minha legítima esposa, para honrar-te, proteger-te e amar-te por todos os dias de minha vida.

— Eu, Caroline, tomo-te, Darlan, como meu legítimo esposo, para honrar-te, proteger-te e amar-te por todos os dias de minha vida.

Após o beijo que selou nosso matrimônio, o Rei, meu pai, levantou-se de seu assento. Seu semblante era austero, como sempre, mas ao aproximar-se de nós, vi um lampejo de emoção em seus olhos. Ele colocou uma mão firme em meu ombro e, sem uma palavra, me encarou por alguns segundos antes de dirigir-se a Caroline.

— Que a bênção da casa real vos acompanhe sempre. — Sua voz era grave, mas sincera.

A sala silenciou por completo ao som de sua benção. Mesmo que minha mãe não estivesse fisicamente ali, senti sua presença em cada detalhe, no calor da mão de meu pai, no brilho dos olhos de Caroline e no eco de minhas promessas.

Após a cerimônia, os corredores de Versalhes encheram-se de murmúrios alegres. O grande salão de baile abriu-se para nós, e os altos dignitários do clero e da nobreza passaram por nós, cumprimentando e desejando-nos felicidades. O salão, iluminado por centenas de velas, parecia quase um céu estrelado. O Rei, após nos felicitar uma última vez, retirou-se para seus aposentos, como era o costume.

Beijo Encantado - As Baumann 01Onde histórias criam vida. Descubra agora