03

50 8 3
                                    

Shawn Mendes

🌙✨

No topo do Empire State Building, me permiti imaginar como seria a minha vida caso eu tivesse voltado para a minha casa há vinte anos atrás.

Em um desses pensamentos, eu seguia os mesmos passos do meu pai. Um Shawn executivo e que lida com as finanças da empresa diariamente, sendo o orgulho da família. Talvez eu pensasse mesmo em seguir os passos dele, isso depois de um tempo já que eu, particularmente, nunca me interessei por isso porque eu não consigo me imaginar seguindo esse padrão mas... Hoje, eu penso que poderia estar noivo, morando em uma cobertura no Central Park e sem reclamar da minha vida perfeita.

Até que todo o cenário muda e, em um outro momento, me vem um flash de um Shawn Mendes inconsequente, que gosta de ostentar carros e modelos famosas. Mas esse eu fiz uma certa questão de mandar para o espaço o mais rápido possível, isso mesmo sabendo que seria sim uma opção caso eu deixasse todo esse mundo ilusório e monetário subir à minha mente porque, eu não posso negar, se o patrimônio que meu pai deixou às cegas somente para o meu acesso já é algo extremamente significativo – eu tomei conhecimento disso como o herdeiro há alguns anos atrás –, eu não sou capaz de imaginar ou estipular um valor certo sobre todos os bens da minha família. Porém, eu sei que o senhor Mendes jamais me criaria dessa forma mesquinha e medíocre, ele com certeza me deserdaria sem hesitar.

No fundo, até parece que o meu pai sabia o que aconteceria com a nossa família, ou comigo.

O mais próximo que eu consegui chegar sobre as suposições da minha vida foi quando eu me imaginei sendo não um astronauta, mas sim um dos técnicos pesquisadores da NASA. Eu sei que os meus pais iriam incentivar cada vez mais a seguir esses meus sonhos de criança, eles fizeram quando me levaram para Londres apenas para que eu pudesse ir ao observatório no dia...

A minha única certeza é que dificilmente eu seria a pessoa que eu sou hoje: o cara que, até dias atrás, trabalhava como Guia e Historiador no Museu de Londres; Professor de Informática em um projeto para crianças que cresceram como eu, sem uma família; Um Consultor para os amantes de arte.

Pois é.

Mesmo que eu seja um hacker nas horas vagas, eu sempre busquei honrar a memória dos meus pais e não apenas por esse ser o caminho certo a ser seguido.

Em um certo momento da minha vida, eu entendi o motivo daquelas últimas palavras ditas pela minha mãe para mim. Eu compreendi que elas não eram apenas como um conforto para amenizar a dor que eu sentiria caso tivesse sido baleado como eles foram. Eu sei que a minha mãe pediu para que eu fechasse os meus olhos não para que eu morresse sem ter imagem de como foi a minha morte mas, sim, era a sua esperança de que eu tivesse um pouco mais de sorte e continuasse seguindo o que eu ainda tinha e tenho tanto para viver – seja para vingá-los ou ser um pouco do homem que eles se orgulhariam.

Eu tentei, eu tento até hoje.

Eu nunca quis ser adotado por alguém, isso sempre foi um algo interno meu porque eu sabia que jamais conseguiria me sentir encaixado em uma outra família que não fosse com os meus pais, ou sem as freiras que cuidaram de mim quando eu me vi realmente sozinho. A irmã Jane, tia Jane como eu a chamo carinhosamente, e a Madre Elizabeth foram o mais próximo que eu tive de uma mãe durante toda a minha infância, toda a minha vida.

Enquanto a Madre Elizabeth lidava como a minha situação quando eu fui encontrado, foi sentado naquelas cadeiras com a tia Jane que eu fiquei esperando, sendo acalentado para que eu parasse de chorar. Eu não lembro muito daquele momento, é como se a minha mente tivesse apagado esse trauma por ser forte demais, mas eu sei que deveria estar chorando porque mesmo sendo um homem feito, eu ainda sinto essa vontade de desabar quando flashs daquela noite invadem a minha mente ou os meus sonhos.

Two Ghosts ≈ Shawn MendesOnde histórias criam vida. Descubra agora