VISÃO DO ETHAN
A poeira fina se erguia no ar quente do México enquanto eu cavava mais fundo na escavação. O sol já estava se pondo, tingindo o céu com tons de laranja e rosa, mas eu mal notei. Meus pensamentos estavam fixos no artefato que acabáramos de descobrir. Havia algo de diferente nele, algo que fez todos os pelos da minha nuca se arrepiarem no momento em que o vi pela primeira vez.
Era um anel. Simples à primeira vista, uma peça de Obsidiana lisa, mas havia algo nele que eu não conseguia ignorar. Os outros arqueólogos pareciam mais intrigados com os ossos e as ferramentas de pedra ao redor, mas minha atenção estava fixada naquele objeto. Enquanto o segurava em minhas mãos, eu podia sentir um leve calor emanando da pedra, como se a própria Obsidiana estivesse viva, pulsando com uma energia sutil.
Eu não acreditava em coincidências. Especialmente não em meu campo de trabalho. Artefatos contavam histórias, e eu era o tipo de pessoa que preferia acreditar nas evidências do que em superstições. No entanto, havia algo naquele anel que mexia com meus instintos de uma forma que eu não sabia explicar.
Me afastei da equipe, levando o anel comigo. Precisava de um momento sozinho para examinar melhor o que eu havia encontrado. Sentei-me em uma rocha perto do local, o anel entre meus dedos, sentindo o peso e a suavidade da Obsidiana sob a luz do crepúsculo.
Ao olhar mais de perto, percebi que havia uma inscrição gravada na parte interna do anel. O detalhe era tão fino que quase não podia ser visto a olho nu. Franzi o cenho, intrigado. Passei o dedo pelas letras, tentando decifrá-las.
"Sedona."
A palavra saltou à minha mente, clara como o dia. Uma cidade. Um nome que não tinha qualquer conexão aparente com o local da escavação, com as antigas civilizações mexicanas ou com qualquer contexto histórico imediato. Eu tinha ouvido falar de Sedona antes — uma cidade esotérica no Arizona, conhecida por suas paisagens de tirar o fôlego e por seus vórtices de energia, mas nunca tinha considerado visitá-la. Naquele momento, no entanto, tudo mudou.
Por que essa palavra estava gravada em um anel de Obsidiana descoberto em ruínas no México? Qual era a conexão? Nada fazia sentido.
O anel parecia mais quente em minha mão, como se reagisse ao fato de eu ter descoberto seu segredo. Era impossível, claro, mas a sensação era inegável. Estava ficando mais quente, como se estivesse vivo, pulsando com uma energia invisível.
A ideia de Sedona começou a se enraizar na minha mente, crescendo a cada minuto que eu passava segurando aquele anel. A palavra gravada no metal parecia um chamado, como se estivesse me puxando para algum lugar, para algo que eu precisava entender. Eu deveria ignorar isso, claro. Deveria manter o foco na escavação, nos ossos e ferramentas que tínhamos encontrado. Mas não conseguia.
Algo naquele anel estava me empurrando para ir. Para seguir aquele instinto irracional.
A noite havia caído completamente, e a equipe estava começando a se recolher. Guardei o anel no bolso e fui até a minha barraca, mas não consegui dormir. Me virei na cama, a mente girando em torno de uma única palavra: Sedona.
Eu sabia o que precisava fazer.
Na manhã seguinte, antes mesmo que a equipe começasse o trabalho, eu já estava organizando minha viagem. Fiz algumas ligações, pesquisando sobre a cidade, tentando entender o que poderia estar lá que justificasse a conexão com o anel. Não encontrei muito — Sedona era conhecida por suas paisagens magníficas, seus vórtices de energia e sua reputação como um lugar de cura espiritual. Nada que explicasse a presença de um anel gravado com seu nome, descoberto em um sítio arqueológico no México.
Ainda assim, algo dentro de mim dizia que eu estava no caminho certo.
Durante o voo para o Arizona, segurei o anel em minha mão, virando-o entre os dedos, tentando encontrar qualquer pista adicional que pudesse me ajudar a entender o que estava acontecendo. Mas o anel permaneceu tão silencioso quanto antes, exceto pelo calor que, ocasionalmente, parecia aumentar. Talvez fosse apenas minha mente pregando peças, mas a sensação de que algo mais estava por vir era impossível de ignorar.
Eu não sabia exatamente o que estava procurando em Sedona. Mas o anel — e o nome gravado nele — eram o começo de uma jornada que eu não podia ignorar. Talvez eu encontrasse respostas. Ou talvez encontrasse mais perguntas.
Eu só sabia que tinha que ir.
O que eu não sabia, enquanto pousava em Sedona, era que minha vida estava prestes a mudar para sempre. E que o que eu encontraria lá seria muito mais do que um simples artefato arqueológico.
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Obsidiana
FantasySinopse: Melantha, conhecida como Melan, é uma bruxa amaldiçoada com um coração de Obsidiana - uma pedra antiga e poderosa que lhe concede habilidades imensuráveis, mas ao preço de sua humanidade. Incapaz de sentir amor, alegria ou qualquer emoção h...