O eco metálico da porta de aço ressoava por toda a cela, anunciando a chegada do advogado. Isadora “Isa” Montenegro manteve sua postura impecável, sentada ereta sobre o banco estreito. Sua aparência, mesmo naquela prisão decadente, era deslumbrante. O cabelo negro caía suavemente sobre seus ombros, contrastando com a palidez quase sobrenatural de sua pele. Seus olhos azul-acinzentados, tão profundos quanto um abismo, fixaram-se no homem que entrava com um misto de impaciência e fascínio.
— Isa — ele sussurrou, como se o próprio nome fosse uma prece, uma invocação de algo proibido. — O juiz recusou mais uma vez o recurso... Precisamos ser realistas.
Ela não respondeu de imediato. Em vez disso, seus lábios formaram um sorriso controlado, calculado, que provocava e desarmava ao mesmo tempo. Cada gesto dela, mesmo o mais sutil, exalava elegância e mistério. Era uma dança constante entre o poder e a vulnerabilidade, e ela sabia exatamente como guiar os passos. Com a ponta dos dedos, Isa ajeitou uma mecha solta de cabelo e inclinou a cabeça ligeiramente, como se estivesse analisando o homem à sua frente. Ele era inteligente, determinado e claramente envolvido demais para manter uma visão objetiva.
— Você está hesitando, Liam. — Sua voz era fria, mas havia uma doçura escondida nas palavras, como uma lâmina envolta em veludo. — Diga o que quer de mim.
Liam, o advogado que se tornara mais do que apenas um defensor, respirou fundo. Sabia que estava andando em território perigoso, mas já não conseguia se afastar.
— Se você não falar, Isa, eles vão condenar você. Não há mais como fugir disso.
Ela riu suavemente, um som que parecia mais uma ameaça do que um gesto de alegria.
— Eles vão me condenar de qualquer forma, Liam. Não importa o que eu diga. Sou a mulher fria que matou o magnata generoso. Todos já decidiram isso.
Era um jogo de sobrevivência, um jogo que ela vinha jogando desde o momento em que fora presa. O mundo fora rápido em julgá-la — uma mulher bela, controladora, fria e manipuladora. Quem mais poderia ter matado o homem que a possuía como um troféu de vidro? Quem mais teria a astúcia para virar o jogo contra ele?
E, no entanto, Isa sabia a verdade. O segredo que ela mantinha era a chave para sua liberdade, mas também a sua maior fraqueza. Um segredo que, se revelado, poderia destruí-la ainda mais do que a prisão jamais faria.
O ex-marido, Frederick Montenegro, não era apenas o monstro abusivo que todos supunham. Havia camadas nessa história, camadas que Isa nunca permitiu que viessem à tona. A noite do assassinato, ela estava lá, isso era verdade. Mas o sangue em suas mãos não era o de Frederick. Ela tinha limpado a cena, sim. Tinha escondido provas. Mas o que ninguém sabia — e o que ela nunca contaria — era que Frederick fora morto por alguém muito mais perigoso do que ela jamais poderia ser.
Ela estava jogando um jogo de sobrevivência, escondendo o verdadeiro assassino, alguém com poder para destruí-la e àqueles que ela amava. Isa preferia morrer a trair essa verdade. A prisão era uma fuga do que realmente a perseguia.
Liam, de pé à sua frente, parecia mais cansado do que nunca. As sombras sob seus olhos revelavam noites sem dormir, sua mente se debatendo entre acreditar na inocência dela e as evidências esmagadoras.
— Eu preciso saber, Isa. Se eu soubesse a verdade, poderia ajudar...
Ela suspirou e seus olhos se suavizaram por um breve momento. O coração de Liam disparou com aquela rara demonstração de humanidade. Ali estava a Isadora que ele suspeitava existir — uma mulher que não era apenas uma assassina ou uma vítima, mas alguém que carregava cicatrizes profundas e invisíveis.
— Se eu contasse, você não sobreviveria à verdade — ela murmurou, sua voz quase um sussurro, mas carregada de uma gravidade que ele não podia ignorar. — E eu também não.
Liam ficou em silêncio, absorvendo a ameaça implícita nas palavras dela. Mas havia algo mais ali, algo que ele sabia que ela estava escondendo. Ele se aproximou, sua mão pousando suavemente sobre a dela.
— Eu estou aqui, Isa. E eu não vou a lugar nenhum.
Ela puxou a mão de volta lentamente, mas o gesto não era brusco.
— Você deveria ir embora, Liam. Esquecer de mim. Eu sou um caso perdido.
— Eu não acredito nisso — ele respondeu, com firmeza. — Eu vou descobrir a verdade, seja o que for, e vou libertar você.
Isadora olhou para ele com uma mistura de tristeza e exasperação. Liam não fazia ideia de quão fundo esse poço realmente ia. Ela estava segurando não apenas sua própria vida, mas a de muitos outros. Revelar a verdade seria como soltar uma fera enjaulada. Era isso que ele queria? Ele não compreendia o tipo de liberdade que ela almejava — uma liberdade que só poderia vir com o silêncio.
Quando ele saiu da cela, ela permitiu que um único suspiro escapasse de seus lábios. Estava exausta de jogar tantos jogos, de esconder segredos dentro de segredos. Ela queria sua liberdade, mas a única liberdade que conhecia estava nas sombras.
Mas havia algo diferente em Liam, algo que a deixava desconcertada. Ele era teimoso, e pior, estava se apaixonando por ela. Isso o tornava um risco. E Isa sabia que, se não fosse cuidadosa, esse risco poderia arrastá-la para algo mais sombrio do que qualquer julgamento — para um destino de morte, onde nenhum segredo poderia salvá-la.
Ela olhou pela pequena janela de sua cela, sentindo a fria luz da manhã tocando sua pele. O jogo ainda estava longe do fim, mas ela sabia que cada movimento agora teria consequências definitivas. E, em silêncio, decidiu que, quando o fim chegasse, seria ela quem controlaria as peças no tabuleiro.
O destino de todos — dela, de Liam, e até mesmo do verdadeiro assassino — estava nas suas mãos. Ela só precisava esperar o momento certo para agir.
E quando isso acontecesse, ninguém sairia ileso.
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Dinâmica: Criando Personagens
PoetryNa dinâmica do Escrita Colorida, os membros tiveram que criar um personagem do zero, algo único e exclusivo. Votamos nos personagens que mais gostamos e comentamos sobre eles, ajudando uns aos outros. Logo em seguida, fizemos pequenos contos para da...