2: o jogo das sombras

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O vento frio soprava pela cidade, agitando as folhas das árvores e espalhando pedaços de papel pelas calçadas. Blair estava na varanda de sua kitnet, abraçada ao próprio corpo em busca de algum calor, enquanto seus olhos vasculhavam a rua abaixo. Era início de outubro, e o clima já começava a dar sinais de que o inverno se aproximava. Mesmo com o ar gelado, ela sentia uma inquietação ardente dentro de si, uma sensação que se instalara em seu peito como uma semente envenenada.

Nos últimos dias, sua vida havia se tornado um turbilhão de incertezas. Blair não conseguia mais ignorar os sinais que a cercavam. Coisas que pareciam insignificantes, mas que juntas formavam um quadro perturbador. Ela lembrava-se claramente de ter trancado a porta da frente na noite anterior, mas naquela manhã, encontrou-a destrancada, uma pequena abertura, como um convite sinistro. O livro que costumava deixar ao lado da cama, sempre virado para baixo, estava com a capa para cima, como se alguém o tivesse manuseado.

Tudo isso se somava à crescente sensação de que estava sendo observada. Era algo quase tangível, como um olhar invisível pesando sobre seus ombros. Blair não conseguia se livrar da impressão de que, em algum lugar, alguém a vigiava, esperando que baixasse a guarda. As noites, antes tranquilas, tornaram-se um campo de batalha contra o sono, com ela se revirando na cama, os ouvidos atentos a qualquer som estranho no apartamento.

Blair não contou a ninguém sobre suas suspeitas. Parte dela sentia vergonha, como se admitir seu medo fosse uma fraqueza. Outra parte temia que, se falasse em voz alta, os estranhos acontecimentos se tornariam ainda mais reais. Então, ela guardava tudo para si, tentando manter uma fachada de normalidade enquanto seu mundo interno desmoronava lentamente.

Naquela noite, no entanto, algo mudou. Depois de ficar por um tempo observando a rua deserta da varanda, Blair finalmente decidiu que precisava de uma distração. Voltou para dentro e ligou a televisão, buscando algo que pudesse afastar seus pensamentos. Mas mesmo enquanto as imagens piscavam na tela, sua mente vagava, perdida nas dúvidas e temores que a assombravam.

Do lado de fora, jasen observava a cena com olhos famintos. Ele estava ali, escondido em um canto escuro, onde a luz dos postes não o alcançava. Podia ver o brilho da televisão através das cortinas da sala de Blair , um vislumbre da vida que ele desejava possuir. Seu coração batia forte, não de nervosismo, mas de excitação. O jogo estava se desenrolando exatamente como ele planejou, e a cada dia ele se sentia mais próximo de finalmente ter Blair para si.

Jasen sabia que Blair estava assustada. Seus movimentos, antes despreocupados, agora eram mais cautelosos, como se ela esperasse que algo acontecesse a qualquer momento. E ele queria que fosse assim. A tensão, o medo, eram parte da dança que ele conduzia, um prelúdio para o momento em que ele finalmente se revelaria. A ideia de que ela poderia estar sofrendo por sua causa o preenchia com um prazer sombrio.

Mas jasen não era apenas um espectador passivo. Ele havia começado a se aproximar fisicamente de Blair , testando os limites de sua vigilância. Em um dia chuvoso, passou por ela na rua, suas roupas encharcadas, o capuz do casaco escondendo seu rosto. Seus ombros se tocaram brevemente, e ele sentiu um arrepio percorrer sua pele, a eletricidade do contato com a mulher que ele desejava. Blair não o reconheceu, mas ele percebeu o breve estremecimento que percorreu seu corpo ao sentir sua presença. Esse encontro fugaz foi o suficiente para alimentar sua obsessão por mais algum tempo.

Naquela mesma noite, enquanto Blair dormia, jasen se aproximou mais uma vez de sua kitnet. Desta vez, ele trouxe algo consigo-um presente. Uma lembrança de que ele sempre esteve por perto, mesmo quando ela não sabia. Com uma precisão cirúrgica, Jasen abriu a porta da varanda, que ele havia estudado em suas visitas anteriores, e entrou silenciosamente. Caminhou até a mesa onde Blair costumava deixar suas chaves e sua bolsa, e depositou ali uma pequena rosa negra. Era um gesto simbólico, uma marca de sua presença, algo que ele sabia que a deixaria ainda mais perturbada.

Ele ficou parado por alguns instantes, observando o ambiente ao seu redor. A casa de Blair era tão simples e acolhedora, tão cheia de vida-uma vida que ele desejava controlar. Ele sabia que não poderia permanecer ali por muito tempo; o risco de ser descoberto era real. Mas aquele momento, em que estava a poucos passos dela, ouvindo sua respiração suave enquanto dormia, foi o mais próximo que havia chegado de sentir-se parte de sua vida.

Com o coração batendo forte, jasen saiu do apartamento da mesma forma que entrou-silencioso e invisível. Retornou ao seu esconderijo, satisfeito com o que havia feito. Agora, era apenas uma questão de tempo até que Blair encontrasse o presente que ele havia deixado.

Na manhã seguinte, o despertador de Blair tocou cedo. Ela abriu os olhos com dificuldade, ainda sentindo os efeitos de uma noite mal dormida. Levantou-se lentamente e seguiu a rotina, tentando ignorar a sensação de mal-estar que não a deixava em paz. Foi até a cozinha para preparar o café, mas parou subitamente ao passar pela mesa da sala.

Ali, no centro da mesa, estava uma rosa negra. Blair ficou imóvel, o coração disparado no peito. Por um longo momento, ela simplesmente encarou a flor, tentando compreender o que aquilo significava. Não havia dúvidas-alguém esteve em seu apartamento enquanto ela dormia. Alguém havia entrado e saído sem que ela percebesse, deixando para trás um sinal inconfundível de sua presença.

Blair recuou, as pernas tremendo. Sentiu o pânico crescer dentro de si, uma onda avassaladora de medo que a fez sentir-se doente. Pegou o telefone com mãos trêmulas, prestes a ligar para a polícia, mas parou. O que ela diria? Que encontrou uma rosa em sua mesa? Não havia sinais de arrombamento, nada que pudesse provar que alguém havia invadido sua casa. Seria ridicularizada, ou pior, talvez nem acreditassem nela.

Com a mente em um turbilhão, Blair decidiu que precisava sair dali. Pegou sua bolsa e saiu do apartamento apressadamente, sem olhar para trás. Decidiu ir ao trabalho mais cedo do que o habitual, esperando que o ambiente familiar pudesse acalmar seus nervos. Mas o medo não a deixou. Durante todo o trajeto até o escritório, sentia como se estivesse sendo seguida, como se olhos invisíveis estivessem fixos em suas costas.

No trabalho, blair tentou agir normalmente, mas seus colegas notaram que algo estava errado. Ela estava pálida, distraída, e mal conseguiu se concentrar nas tarefas do dia. Durante o intervalo para o café, uma colega de trabalho, Beatriz, se aproximou e perguntou se estava tudo bem. Blair forçou um sorriso e disse que estava apenas cansada, mas por dentro estava em pedaços.

Enquanto isso, jasen observava tudo de longe. Ele sabia que havia causado um impacto profundo, que a rosa negra seria um lembrete constante de sua presença. Estava satisfeito com o resultado, mas sabia que ainda não era o bastante. Sua obsessão por Blair só crescia, e com ela, a necessidade de se aproximar ainda mais.

Naquela noite, blair não conseguiu voltar para casa. O medo a dominou de tal forma que ela decidiu ir para a casa de uma amiga, Laura, com quem não falava há algum tempo. Ao chegar, tentou disfarçar suas preocupações, mas não conseguiu esconder o estado de nervosismo em que se encontrava. Laura a recebeu com carinho, sem fazer muitas perguntas, mas sabia que algo sério estava acontecendo.

Enquanto as duas conversavam, blair desabafou sobre os acontecimentos dos últimos dias, a sensação de ser observada, os objetos deslocados, e, finalmente, a rosa negra que encontrou em sua mesa. Laura a ouviu atentamente, o rosto se tornando cada vez mais sério. Aconselhou Blair a não voltar para casa naquela noite, a denunciar o caso à polícia, e prometeu acompanhá-la se necessário.

Jasen , no entanto, já sabia onde Blair estava. Havia seguido seus passos até a casa de Laura e agora permanecia na rua, observando as luzes na janela. Ele sentia uma mistura de frustração e excitação. Frustração porque seus planos haviam sido adiados, mas excitação porque, mesmo assim, ele conseguira afastar Blair de seu próprio lar. Agora, ela estava completamente à mercê de suas decisões.

Enquanto a noite avançava, blair lutava contra o sono, a mente ainda presa no medo e na ansiedade. Mas o cansaço finalmente a venceu, e ela adormeceu no sofá da sala de Laura, uma manta fina cobrindo seu corpo.

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⏰ Última atualização: Sep 07 ⏰

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