Na fria serenidade do outono europeu, a Clínica Saint-Michel se erguia como um bastião de ordem e controle. Suas paredes de pedra branca, com seus intrincados detalhes neoclássicos, refletiam a luz fraca de um sol tímido que mal penetrava a névoa densa que envolvia o edifício. O som dos passos ecoava pelos longos corredores, cujas janelas altas ofereciam apenas uma visão opaca do mundo externo. No coração da Clínica Saint-Michel, sentada em um banco de madeira polida, Lalisa Manoban se isolava completamente em seu mundo de silêncio. A jovem estava profundamente imersa em um livro francês, cujas páginas amareladas pareciam um porto seguro contra a realidade exterior. Sua postura rígida e o olhar fixo nas palavras impressas refletiam um desejo de fuga e um envolvimento total em uma narrativa distante do sofrimento constante.
A Doutora Jennie Kim, recém-chegada à Clínica Saint-Michel e uma das profissionais mais proeminentes da instituição, adentrou o jardim com um passo firme e calculado. Seu porte era impecável, e sua presença exibia uma combinação de autoridade e empatia. Vestida com um elegante terno de lã cinza, com cabelos escuros presos em um coque bem arrumado, a Doutora Kim emanava uma aura de competência. Seus olhos, atentos e observadores, avaliavam a cena com um olhar clínico, e sua postura refletia a experiência adquirida ao longo dos anos em sua prática.
A Doutora Kim permaneceu em silêncio por um momento, seu olhar atento estudando a jovem que estava tão absorvida em seu livro. A luz que filtrava pelas janelas de vidro destacava o perfil de Lalisa, revelando a expressão distante e a profunda introspecção que a envolvia. A Doutora Jennie Kim se aproximou do banco de Lalisa com uma leveza que não quebrava o silêncio do jardim. Ela parou ao lado do banco, mantendo uma distância que permitia que a jovem se sentisse segura e não invadida. A sua presença, embora discreta, era marcada pela gravidade da notícia que trazia.
"Lalisa," começou Jennie com uma voz baixa e suave, projetando um tom que não fosse intrusivo. "Preciso informar-lhe que o psicólogo que estava acompanhando seu tratamento tomou desistência do caso. Vários profissionais tentaram, mas não conseguiram avançar."
Lalisa, com a cabeça ainda inclinada sobre o livro, parecia absorver a informação sem alterar sua postura. Jennie deu continuidade, sem se aproximar mais. "A clínica está procurando uma nova abordagem para o seu caso, mas queria que você soubesse da mudança. Eu entendo que isso possa ser desestabilizador, e estou aqui para apoiar o que for necessário". Ela sabia que não haveria chances de respostas. Não de Lalisa.
Desde a sua admissão na clínica, há três meses, Lalisa havia se tornado o centro de uma série de tentativas de tratamento, todas elas com resultados insatisfatórios. A jovem foi trazida à Clínica Saint-Michel em um momento crítico, uma decisão tomada por seus progenitores que refletia a gravidade de sua situação. Os primeiros psicólogos que tentaram ajudá-la eram profissionais respeitados, mas rapidamente se encontraram diante de uma parede de resistência silenciosa. A comunicação foi mínima, e o progresso era quase imperceptível, levando a uma sensação crescente de frustração e desamparo entre a equipe.
Cada novo terapeuta que entrou no caso encontrou um desafio que parecia insuperável. As abordagens anteriores, mesmo com métodos distintos e experiências variadas, não conseguiram penetrar o silêncio opaco e o distanciamento emocional que caracterizavam Lalisa. A frustração acumulada levou a uma sucessão de desistências, cada uma marcada por uma sensação de impotência e um crescente sentimento de que o caso estava além do alcance das abordagens tradicionais.
O processo de desistências consecutivas trouxe consigo um efeito de estagnação, com cada mudança de profissional provocando um novo ciclo de esperança e decepção. A equipe da clínica, perplexa e preocupada, viu-se à mercê de uma situação que parecia não ter solução clara. A dificuldade em avançar com o tratamento levou a um desespero crescente para encontrar uma nova abordagem que pudesse finalmente oferecer algum tipo de alívio ou compreensão para Lalisa.
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Ecos do Silêncio (Chaelisa)
FanficO que pode salvar alguém que já desistiu de ser salvo?