Capitulo 1 - A fronteira da divindade

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Seungmin acordou com o som insistente do alarme ecoando no pequeno quarto. A luz do sol entrava timidamente pelas cortinas mal fechadas, criando um padrão entre sombras e claridade no chão. Ele piscou algumas vezes, sentindo a cabeça latejar com uma dor surda, familiar. A sensação de peso em seu peito era uma constante, uma presença sufocante que ele já tinha aprendido a ignorar. Seungmin sentou-se na cama, passando as mãos pelos cabelos despenteados, tentando reunir forças para enfrentar mais um dia.

Seu olhar pousou na pequena mesa ao lado da cama, onde uma fileira de frascos de remédios o aguardava. Antidepressivos, ansiolíticos, e outros medicamentos que ele nem se preocupava em lembrar o nome. Todos eles faziam parte de uma rotina que já não parecia sua. Com movimentos mecânicos, Seungmin pegou os frascos, despejou alguns comprimidos na palma da mão e os engoliu com um gole de água do copo ao lado. Sentiu os comprimidos descerem pela garganta, e por um breve momento, uma onda de amargura lhe subiu à boca. Era como se cada um daqueles comprimidos fosse um lembrete de que ele precisava de algo externo para funcionar, para sentir que estava vivo.

No espelho do banheiro, seu reflexo olhava para ele com olhos vazios. Passou a mão pelo rosto, tentando se convencer de que aquilo era o suficiente. Que a vida era mais do que esse ciclo de acordar, tomar remédios e fingir que estava tudo bem. Vestiu seu uniforme de escola de maneira automática, como um ator que conhece cada passo de sua rotina no palco, e desceu as escadas em silêncio, ignorando o café da manhã na cozinha. A fome era um luxo que ele não se permitia mais.

Na rua, o ar fresco da manhã trouxe uma sensação de alívio temporário. Seungmin colocou os fones de ouvido, afundando em uma música triste que parecia combinar com o ritmo lento de seus passos. Enquanto caminhava em direção à escola, a névoa matinal começava a se dissipar, revelando as formas familiares dos prédios e das árvores ao longo do caminho. Era uma pequena cidade, onde tudo parecia previsível e sem mudanças. Ele seguia sempre o mesmo caminho, pelas ruas desertas, sentindo o frio da manhã que mal lhe incomodava.

Ao entrar pelos portões da escola, avistou Han esperando por ele, encostado em uma das colunas na entrada. O cabelo castanho de Jisung reluzia sob a luz do sol, e ele ofereceu um sorriso caloroso assim que viu Seungmin se aproximar. Jisung sempre parecia cheio de vida, uma espécie de luz que contrastava com a escuridão que Seungmin sentia dentro de si.

- Bom dia, Seungmin! Dormiu bem? - Han perguntou com um tom alegre que soava quase estranho aos ouvidos de Seungmin.

- Mais ou menos - Seungmin respondeu, dando de ombros. Não era uma mentira, mas também não era a verdade completa. Ele forçou um sorriso, porque sabia que Han se preocupava com ele, mas a última coisa que queria era ser um fardo. - E você? Alguma novidade?

Jisung começou a falar sobre as coisas triviais da vida escolar, os professores, os trabalhos que precisavam entregar, enquanto caminhavam pelo corredor. Seungmin ouvia, assentia, mas sua mente estava longe. Ele pensava em Christopher, o aluno do último ano, sempre rodeado de amigos, sempre sorrindo. Havia algo em Christopher que o atraía, uma bondade natural, uma luz que parecia brilhar de dentro para fora. Seungmin sabia que seus sentimentos eram inúteis, que Christopher provavelmente nunca o veria da mesma forma, mas não conseguia evitar.

Enquanto seguia para a sala de aula, Seungmin sentiu uma presença, um arrepio que correu sua espinha. Parou no meio do corredor, os olhos vagando ao redor, buscando a origem daquela sensação. Foi então que ele os viu, ou melhor, sentiu. Não podia vê-los claramente, então achou que fosse apenas mais uma alucinação de sua mente, e continuou andando para a sala de aula, um pouco distante de Jisung.

Mas sabia que estavam ali. O anjo e o demônio, sempre nas sombras de sua percepção, tentando puxá-lo para direções opostas.

O anjo sussurrava em seus ouvidos, promessas de paz, de redenção. Uma vida onde ele poderia encontrar um propósito, um sentido para sua existência. Era uma voz suave, reconfortante, que falava de amor e aceitação. Algo que Seungmin ansiava mais do que qualquer outra coisa.

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