"Eu não estou louca."

52 2 0
                                    

...Mas um dia tediantemente normal, acordar e trabalhar, é isso que eu faço todos os dias. "Sorrir e acenar" para os clientes e ouvir esporros do seu patrão, tudo isso para ganhar o suficiente para viver no final de todo mês. Eu estária mentindo se dissesse que amava esse trabalho, mas também não diria que o odeio, afinal, eu preciso dele para, na maioria das vezes, conseguir pagar as contas.

Clientes vem e vão, alguns gentis e outros não. E lá estava eu, sozinha às 10h da noite, fazendo hora extra para conseguir pagar minhas dívidas no final do mês. Saía do caixa, andava pela loja, arrumava umas coisinhas aqui e ali, sem sequer uma musiquinha de elevador, apenas ouvia o som irritante das lâmpadas fluorescentes e os estalos do único poste perto da loja na rua, que piscava a cada cinco minutos.

E as câmeras... as malditas câmeras da loja, todos os dias eu ficava sozinha com elas. A solidão acabava no exato momento em que lembro que elas estão ali, vendo cada passo e movimento meu. Eu tinha certeza de que havia algo ali, muito mais sombrio do que a possibilidade de ser meu patrão me observando...

- ...Eu deveria ter entrado no exército - Dizia entediada e agonizada por aquela sensação, em pé e apoiada na bancada do caixa.

O solitário poste da rua começava a ter maiores intervalos de escuridão, até queimar de vez. Não era possivel ver quase nada fora da loja a mais de 2 metros dela. E por um segundo, me destraí vendo uma das câmeras se mexer sutilmente.

- NÃO SE MEXA! - Escuto o estalar de uma pistola sendo engatilhada, e olho para frente colocando as mãos para cima, tentando manter a calma. Eram 2 jovens encapuzados, que deviam ter em torno de 16 a 17 anos. Eles pareciam bem nervosos, o aparente mais novo dentre os dois tremia bastante, já o que me rendia, me olhava com uma espécie de ódio.

- PEGA LOGO ESSA MERDA, JOON! - O garoto que me rendia dizia ao seu parceiro, e ele o fez, pegou todo o dinheiro que havia no caixa e se viraram para sair correndo. Mas algo que nem eu sabia que podia ser capaz ocorreu.

- PORRA, ABRE ESSA MERDA LOGO! - O garoto armado bateu contra a porta de vidro automática da loja, e voltou a apontar a arma para mim, e quando eu pensei que ele ia atirar, a luz da loja se apagou, e apenas foi possivel ver algumas vagas siluetas batendo contra a porta de vidro da loja.

- AH MERDA, ABRE LOGO ISSO! - Eu apenas conseguia ouvir o mais velho gritando para o seu parceiro abrir a porta. Mas nesse momento, percebi que talvez havia uma chance de fazer algo para salvar meu emprego.

Eu pulei a bancada do caixa da loja, e avancei em uma das siluetas desesperadas na minha frente. Eu com sorte acertei um soco no rosto de um deles, mas em conseguencia disso, quase fui atingida por algumas balas que ele desesperadamente atirou, e iluminaram o local por alguns breves segundos, possibilitando me localizar em meio a esse confronto.

Eu o agarrava de forma desajeitada, até ele derrubar a arma no chão. A luz começou a piscar em intervalos de um segundo, possibilitando que nós três vissemos onde a arma havia caido. Era uma questão de vida ou morte. Nós três tentavamos pegar a arma, e eu lutava e fazia de tudo para que eles não a pegassem. Socos, chutes, cotoveladas e joelhadas, ficavam cada vez mais dolorosas para ambos de nós.

Um deles começou a me segurar para que o mais novo pegasse a bendita pistola. Eu me soltei pisando em seu pé e dando uma baita cotovelada em seu olho, o atorduando por longos minutos. Eu me joguei em cima do garoto mais novo, que já havia pegado a arma na mão, porém estava ansioso demais para reagir tão rápido. Eu tentei puxar a arma de sua mão, mas só foi possivel apôs eu socar seu náriz, o que o fez soltar a arma de vez.

O mais velho veio por trás de mim, e me chutou para o lado, mas eu não soltei a arma, eu não podia solta-la. Antes que ele pudesse me agredir novamente... eu atirei.

- AAHH!!! - O garoto caiu para trás se contorcendo no chão, entre o piscar das luzes era possivel ver a poça de sangue se formando.

- UNNIE!!! - O mais novo se aproximava do seu parceiro no chão em completo desespero.

Eu me levantei, totalmente dominada pela adrenalina do momento, ainda apontando a arma para eles. Eu não sabia mais o que fazer, eu podia jurar que tinha visto o mais novo puxar um canivete, mas antes que eu pudesse pensar sobre isso, eu atirei novamente...

As luzes pararam de piscar e eu pude ver com clareza a merda que eu tinha feito. Os dois corpos no chão, a poça de sangue e seus respingos pela parede e prateleira. O mais velho foi morto por um tiro no peito, e o mais novo recebeu um tiro em sua cabeça. Eu estava em choque, a ponto de largar a arma e quase desmaiar.

Eu olhei minhas roupas, meu moleton e o colete da loja estavam sujos de sangue respingado, meus punhos estavam machucados de tanto usa-los, e eu podia sentir que meu coração iria sair pela minha boca.

Dessa vez eu tive certeza que vi as câmeras se virarem para mim, todas elas focaram na nossa direção...


Bloodline SeoulOnde histórias criam vida. Descubra agora