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Lyana

7 Dias após a batalha contra Hybern

O quarto na Casa do Vento era amplo, envolvido por cortinas translúcidas que se agitavam com o vento suave que entrava pelas janelas abertas. O sol da manhã banhava tudo em uma luz dourada, refletindo nas colunas de mármore branco, nos móveis luxuosos que eram tão familiares quanto distantes. O teto alto parecia alcançar o céu, e a lareira apagada ainda exalava um resquício do calor da noite anterior. A cama, ampla e confortável, estava vazia ao meu lado, lençóis amarfanhados testemunhando uma noite agitada.

Meus olhos se ajustaram à claridade, e um som distante ecoou pelos corredores. Franzi a testa, meu coração batendo em um ritmo ligeiramente acelerado. Estava tudo quieto nos últimos dias, a recuperação dos feridos era lenta, e o caos da batalha ainda pairava no ar como uma sombra. Uma semana. Uma semana desde que Hybern havia sido derrotado e, mesmo assim, eu ainda sentia o peso da guerra em meus ossos.

Virei o corpo para o lado da cama, o movimento desconfortável. Minhas asas se encolheram e estremeceram com o gesto, uma dor surda percorrendo-as. Elas ainda não pertenciam completamente a mim. Eram novas, renascidas pelo Caldeirão, e, assim como o resto do meu corpo, estavam se ajustando lentamente a essa nova existência.

Levantei-me, os pés nus encontrando o chão frio de pedra. Segui pelo corredor, os arcos de pedra da Casa do Vento se curvando sobre mim, o vento soprando suas melodias em meus ouvidos. Quando me aproximei da porta de um dos aposentos maiores, ouvi o som da água sendo agitada e risos suaves. Abri a porta com cuidado, sem anunciar minha presença.

Eris estava lá.

Sentado na borda da banheira de mármore esculpido, com uma vista de tirar o fôlego das montanhas ao redor, e dele também. O vapor subia em finas cortinas ao redor do seu corpo. A água quente se derramava pela borda infinita, fluindo suavemente, como se os limites da banheira se desfizessem no horizonte. Seu cabelo estava molhado penteado para trás, os olhos fechados enquanto ele descansava os braços nas laterais da banheira:

— Demorou, Lyana. — A voz dele cortou o silêncio com suavidade, como se estivesse esperando por mim o tempo todo.

— Você faz barulho demais — murmurei, me aproximando e deixando a túnica fina cair ao chão.

Ele abriu os olhos devagar, com aquele sorriso que me conhecia melhor do que qualquer um. Sem hesitar, deslizei para dentro da água, a temperatura quente envolvendo meu corpo, acalmando meus músculos cansados. As minhas asas, frágeis, mal se moviam com o calor. Elas tremiam de leve, incapazes de se ajustar à nova realidade que o Caldeirão havia me dado.

Eris me observou, o olhar penetrante, mas sereno, com aquela curiosidade que ele raramente demonstrava:

— Está melhor? — A pergunta foi simples, mas carregada de um significado que se enraizou em minha mente.

O vapor subia da água quente, envolvendo nós dois em uma névoa densa e úmida, enquanto o corpo de Eris se movia lentamente ao meu lado. Cada movimento seu era meticulosamente controlado, como se ele soubesse exatamente o efeito que tinha sobre mim. O corpo dele, esculpido pelos anos de treinamento e liderança, era uma mistura de força e elegância. A pele dourada reluzia sob a luz suave que entrava pelas janelas, as cicatrizes antigas mal visíveis, mas eu as conhecia, cada uma delas. Assim como ele conhecia as minhas.

Meus dedos roçaram sua pele sob a água, seguindo o contorno definido de seus músculos, e o calor do toque foi o bastante para fazer com que a pressão no meu peito aliviasse, pelo menos por alguns instantes. Minhas asas, mesmo frágeis e ainda novas, encontraram descanso na borda da banheira, mas o desconforto delas era uma constante, uma lembrança de que eu ainda não estava inteira:

Corte de Luz e Sombras - Livro 1 - Fanfic ACOTAROnde histórias criam vida. Descubra agora