11| 𝐀s surpresas de um monstro

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Eu e Minho tentamos por muito tempo chamar a atenção de alguém do lado de fora, mas sem sucesso. A única coisa que conseguimos foi uma grande dor nos punhos de tanto bater naquela porta.

Resolvemos descansar e Minho pediu carinhosamente para dormir em meu colo, mesmo não gostando do Lee eu concordei e ele adormeceu logo em seguida. Eu não pude; o dia tinha sido muito intenso e eu não conseguia relaxar. Só ficava pensando em tudo o que havia acontecido.

Foi então que me recordei do livro de Dandy; o que falava sobre o Grifo. Achei que aquele seria o melhor momento para tentar ler alguma coisa e aprender algo, caso ele aparecesse novamente para nos pegar.

Imediatamente percebi que faltavam algumas páginas, parecia que tinham sido arrancadas. Nas iniciais havia um desenho do monstro, que era realmente horrível, idêntico ao que eu vira: a cabeça e parte do tronco eram de águia, e a parte traseira, de um leão. Isso me fez lembrar de quando um leão faminto ficou com uma perna minha dentro de sua boca, mas essa história eu já contei no diário número 13, espero que você o encontre.

O formato desse monstro era assustador, pois, na dianteira, ele tinha a força das garras de águia e a visão perfeita. Não era à toa que eu tive a impressão de que ele sempre estava me vendo muito bem. Com a traseira, com patas de leão, ele poderia dar o impulso que quisesse, caso não conseguisse voar. Sim, para piorar as coisas, ele poderia voar com as asas de águia.

Depois dessa conclusão terrível, reconheci o perigo que eu tinha corrido. Acho que, se ele tivesse cabeça de leão, apenas teria me jogado para o alto e me engolido em uma só bocada.

Senti um calafrio e constatei que deveria ficar longe daquele monstro o máximo possível. Foi então que me perguntei por que Dandy o atacara. Ele não pareceu ter medo dele, muito pelo contrário, desejava enfrentá-lo.

Quando comecei a pensar nisso, fiquei ainda mais curioso. Prossegui com a leitura e, então, descobri algo interessante. Talvez fosse aquela a razão pela qual Dandy parecia tão interessado no Grifo.

Esses monstros têm o poder de descobrir onde existe ouro nas montanhas. Eles o recolhem para construir seus ninhos.

Imediatamente tentei imaginar o tamanho do ninho daquele monstro, todo feito de ouro! Depois de dormir e comer de forma exagerada, ouro é a coisa que o povo da vila mais gosta. E, quando eu digo gostar, é gostar MESMO, Quando há alguma festa, todos aparecem com seus colares e pulseiras douradas, importante sinônimo de força Quanto mais ouro, maiores são o poder e a influência da pessoa na vila. Na minha casa, nós temos apenas um dente do meu bisavô, que nos deixou como herança; nada além disso.

Agora, um ninho inteiro... nossa, deveria ser realmente uma coisa impressionante. Mas não era só isso, o Grifo também botava ovos de ouro. Qual seria o tamanho do ovo daquele bicho?

Depois disso, faltavam várias páginas, todas arrancadas. O que sobrava informava muito pouco: Grifos haviam nascido num lugar chamado Grécia, mas também poderia ter sido em outro chamado Índia, não tinham certeza. Se não estavam certos, melhor nem ter escrito, assim ninguém ficaria na dúvida. Eu me senti como o Minho; isso parecia até um pensamento dele.

Acabei ficando com sono. Anoitecia e não havia mais nada naquele livro que pudesse me ajudar. Olhei para baixo e vi que meu amigo dormia e roncava profundamente. Fechei os olhos, pois agora eu estava bastante cansado. Quando acordasse, eu deveria tomar uma decisão, pois, se iria ficar mesmo preso pelos próximos dez anos, era melhor pensar em como sobreviver durante todo esse tempo.

...

Quando acordei, já era dia novamente. Os raios de Sol penetravam pelas pequenas frestas da porta. A biblioteca ainda estava iluminada. Achei estranho, pois pensei que as luzes fossem desligadas durante o tempo em que ela permanecesse fechada; entretanto, me lembrei de outra coisa. Quando estive no subsolo da vila, história que já contei no diário número 8, descobri que estamos sobre uma fonte fantástica e inesgotável de energia, mas que as pessoas ainda não sabiam utilizar totalmente. A biblio- teca é um dos prédios que estão ligados a ela. Sorte nossa, seria terrível ficar no escuro.

-Dormiu bem? - perguntou Minho, que folheava o pequeno livro que eu tinha lido na noite anterior. ⎯ Se você fosse levar este livrinho, seria uma grande decepção, não serve nem para segurar um copo.

Peguei o livro de volta bem decepcionado, pois as principais informações tinham sido simplesmente arrancadas dele. Era inútil.

⎯ Estou com fome - reclamou o Lee.

⎯ Eu também - respondi.

⎯ Então, vamos procurar o que comer. - dizendo isso, Minho se levantou e vasculhou os vários destroços espalhados pelo salão. Eu não tinha grandes esperanças de encontrar alguma coisa, mas, de repente, ele ergueu a mão e gritou: - Veja só, achei!

Ele ergueu um saco cheio de frutas, um pedaço de pão e queijo de bode raro, que não é gostoso, mas, de qualquer forma, não estraga facilmente. Aliás, acho que não estraga nunca.

⎯ Acho que era do Plácido Glutão. - falei. ⎯ Ele nunca sai de casa sem um lanchinho. A casa dele fede a queijo de bode raro. Ninguém sequer se aproxima.

⎯ Eu gosto. - disse Minho, comendo a maior parte de uma vez só. Eu não reclamei.

Fosse como fosse, foi bom encontrar aquele lanche. Eu não comia nada desde o dia anterior e, pelo menos por enquanto, aquele problema estava solucionado, porém, pelos próximos dez anos... Aquilo realmente me afligia.

⎯ Min, você está com medo?

⎯ De quê?

⎯ De não sair mais daqui.

⎯ Mas nós vamos conseguir Hannie. - respondeu ele com muita tranquilidade.

⎯ Como?

⎯ Quando reabrirem as portas.

⎯ Mas isso só vai acontecer daqui a dez anos.

⎯ Você perguntou se a gente ia sair, não quando. - grunhiu ele, soltando um bafo daquele queijo horrível.

Decididamente, eu não sabia falar com Minho. Achei melhor tomar as decisões que me parecessem mais seguras. Ele sempre faria o que bem entendesse, ou, pelo menos, do jeito dele.

Terminamos de comer e sentimos sede. Só havia água no lago do jardim e voltamos para lá. Eu sentia um pouco de medo de encontrar algo desagradável, mas não havia jeito, minha garganta estava muito seca.

Enquanto caminhávamos, fui observando com mais calma os arredores. Havia muito entulho espalhado. Os homens estavam realmente com medo, haviam deixado tudo para trás. Também lascaram várias partes das paredes, deixando ver que havia alguma coisa desenhada em uma delas. A tinta estava seca e bastava puxá-la para se constatar que havia algo escondido ali.

Fiquei curioso e me aproximei. Tentei descascar com cuidado, mas Minho achou aquilo engraçado e passou a puxar grandes pedaços da tinta ressecada.

De fato, era realmente divertido, pois, quanto mais removíamos, maiores detalhes do desenho apareciam. De repente, surgiu algo totalmente inesperado, como eu nunca tinha visto em minha vida.

⎯ Que desenho bonito - disse o Lee.

Ele achava que era um desenho; entretanto, percebi que era muito mais do que um simples desenho, e eu sabia exatamente do que se tratava.

𝓟 𝗋𝗂𝗌𝗂𝗈𝗇𝖾𝗂𝗋𝗈𝗌 𝓝𝖺  𝓑𝗂𝖻𝗅𝗂𝗈𝗍𝖾𝖼𝖺 • 𝐌insungOnde histórias criam vida. Descubra agora