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5 de Dezembro de 2023

JOÃO:

Hoje foi a minha primeira sessão de quimioterapia, os meus pais e a minha irmã tiveram sempre ao meu lado, juntamente com os médicos do clube. Ainda não tive tempo de assimilar tudo o que se está a passar. Ontem fui ao hospital a pensar que era uma simples infeção urinária e já nem vim a casa mandaram-me logo para o IPO, o hospital que atormenta todas as pessoas por sabermos o que se trata lá.

Ainda mais quando o médico me disse do uso de fraldas, por causa da minha bexiga ao receber as quimios fortes vai perder a capacidade de segurar a urina e mais tarde o meu intestino a mesma coisa, porque a quimioterapia não mata só as coisas más mas também as células boas, não é atoa que perdemos as nossas defesas, que temos de usar máscara sempre que saímos de casa para nos protegermos dos outros.

Chegar lá e ver uma cara conhecida para mim mesmo estando afastados há alguns anos fez com que "isto" se tornasse mais fácil. Ver a minha família com lágrimas nos olhos com o diagnóstico, a preocupação extrema dos meus pais e tenho acompanhado de perto o processo da minha mãe, vejo como ela fica cansada após cada tratamento.

Quando a Madalena mete a primeira quimio olho com súplica nos meus olhos para que ela retirasse aquilo e tudo o que o meu corpo tem de mal. Ver todas aquelas enfermeiras, médicas, auxiliares que estão ali para nós, estão dependentes dos nossos pedidos, das nossas dores e sempre prontas para tentar apaziguar o nosso sofrimento.

Ao acabar o primeiro tratamento e a levantar-me com a ajuda da Madalena, pessoa que não falo há anos e que ofereceu a sua casa, os seus cuidados e o seu abraço sempre que precisar, percebi que está na altura de resolvermos o nosso passado. Ontem os meus pais falaram comigo e não podem ficar cá, por a minha mãe ter tratamentos e o meu pai ter que a acompanhar também. Não podendo ficar sozinho optamos em aceitar a proposta da gémea do Tiago.

Quando saí do hospital senti-me enjoado e o meu corpo bastante dolorido, assim que cheguei ao carro e sentei-me no banco traseiro, encostei a cabeça no ombro da minha irmã e adormeci em questão de minutos. 

-Joãozinho, já estamos em casa- acordo com a voz da minha irmã.

Com a ajuda do meu pai saio do carro e vou para dentro de casa, nunca me senti tão cansado como hoje. Vou para o meu quarto que é no segundo andar da casa, tiro as sapatilhas e deito-me na cama. Adormeço logo em seguida.

Sou acordado com a minha mãe a chamar-me para jantar, desço com dores no corpo as escadas e sento-me na mesa de jantar, o meu pai entrega-me um prato de creme de cenoura que estava incrível, o prato principal não consigo comer muito pois estou bastante enjoado e parece estar a piorar cada vez mais. Vou de novo para o meu quarto, deito-me e passado alguns minutos levanto-me a correr para ir vomitar. Os meus pais abaixam-se à minha beira preocupados:

-Já vai passar- diz a minha mãe enquanto faz carinho nas minhas costas

-Vou ligar à Madalena a ver se nos consegue ajudar- o meu pai diz e sai da casa de banho ficando só eu e a minha mãe.


MADALENA:

 Assim que atendo a chamada, ouço a voz do futebolista no outro lado da linha, soava preocupada e até mesmo com um tom choroso. Assim que explica-me o que aconteceu, visto um fato de treino quente, calço umas sapatilhas e pego na minha bolsa com a minha carteira. Vou até ao quarto do meu irmão e este já está a dormir, deixo-lhe um bilhete e saio em direção a casa do João. demoro cerca de 20 minutos a chegar. Assim que chego toco à campainha e esta é aberta pela Maria com uma cara preocupada.

Esperança- João NevesOnde histórias criam vida. Descubra agora