DEAN
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OUTUBRO DE 2017 - Meridional, Flórida.
Acordo cedo. Aurora está deitada ao meu lado, dormindo como um anjo. Fico em silêncio, admirando sua paz, sem querer perturbá-la. A brisa suave da manhã invade o quarto, tornando o ambiente ainda mais tranquilo e acolhedor.
— Bom dia, amor — ela sussurra, com aquele sorriso encantador que me faz querer parar o tempo só para continuar admirando-a.
— Bom dia, minha princesa — respondo, enquanto deixo um beijo leve em sua testa. Minha garota é tão perfeita que, se pudesse, eu daria o mundo a ela. Ela sorri, iluminando todo o meu dia.
Tomamos um banho juntos e seguimos para a casa de Aurora. Hoje, ao acordar, tomei a decisão mais difícil e corajosa da minha vida: enfrentar meu pai. Ele e minha madrasta vivem criticando o meu relacionamento com Aurora, tudo por causa da nossa diferença social. Sou o único herdeiro de um império de petróleo, além de meu pai ser secretamente o chefe de uma das maiores máfias do mundo.
Por trás do homem educado e de "bom coração" que todos veem, há uma alma sombria. E, goste ou não, estou destinado a seguir seus passos.
Percebo que Aurora está estranha. Pergunto o que há, mas ela não me diz. Já faz uma semana que ela está assim, diferente. Penso que pode ser TPM, então deixo passar.
Quando estaciono o carro em frente ao prédio dela, ela me dá um beijo. Mas é um beijo diferente, como se fosse o último. Ao final, uma lágrima silenciosa escorre pelo seu rosto. Eu a seco delicadamente.
— Desculpa... Desculpa por tudo — ela sussurra, a voz trêmula de dor.
— Não tô entendendo... — digo, confuso com a situação.
— Desculpa por ter estragado seu relacionamento com sua família. Eu não deveria... E desculpa por todo o transtorno que te causei — continua, chorando ainda mais.
— Xiii, não tô entendendo nada. Não precisa pedir desculpas. Eu te amo, Aurora — falo, tentando confortá-la, mas suas lágrimas caem com mais força.
— Desculpa... Acho que tô de TPM. Fico assim, toda sentimental... — tenta justificar.
— Relaxa, princesa. Mais tarde eu passo para te buscar — digo, enquanto ela acena com a cabeça, sem dizer mais nada.
Nos beijamos mais uma vez, e de novo ela sussurra um pedido de desculpas. Ela desce do carro, e eu sigo para a casa do meu pai.
...
Ao chegar, sou recebido pela Florença, nossa querida governanta.
— Seu pai está te esperando no escritório — ela diz, com aquele sorriso gentil de sempre. Sigo até a porta e, como de costume, entro sem bater.
— Pai — digo, ao entrar em seu escritório, que é gigantesco e decorado com elegância.
Ele se vira e sorri, tranquilo, enquanto toma um gole de whisky.
— Precisamos conversar — falo, direto.
— Sobre o quê? — ele pergunta, ainda sem demonstrar grande interesse.
— Sobre a Aurora.
Ele revira os olhos ao ouvir o nome dela.
— Nunca permitirei que essa qualquer entre em nossa família — responde calmamente, mas com uma frieza que me faz estremecer.
— Não depende de você, pai — retruco, firme. — Querendo ou não, a Aurora vai ser minha esposa.
— Ela só quer seu dinheiro. O dinheiro da nossa família — ele dispara, ríspido.
— Ela me ama! — afirmo com convicção.
Ele solta uma risada sarcástica que ecoa pelo escritório.
— Você realmente acredita nisso? Ou isso é só mais um capricho seu? — sua voz agora é tranquila, quase desafiadora.
— Eu a amo, sim. Eu trocaria todo o dinheiro do mundo por ela! — digo com toda a sinceridade do meu coração.
Ele respira fundo. Eu já esperava mais insultos, mas, em vez disso, ele diz algo que há muito tempo eu ansiava ouvir.
— Dean... Se você realmente a ama, vai ser difícil, mas... Eu vou tentar aceitá-la.
Um sorriso se abre em meu rosto, e a felicidade me invade. Não consigo conter o impulso e o abraço. Passamos o dia juntos, indo à empresa e depois voltando para casa. Estamos no escritório, e ele fala sobre os investimentos que pretende fazer em alguns países.
Sempre gostei de economia, e tenho facilidade com o assunto. Tudo está indo bem, mas estranho o silêncio de Aurora. Lembro que é sexta-feira, o dia em que ela se desconecta do mundo digital, então deixo passar.
Estou conversando com meu pai quando recebo uma ligação de Michael, meu cunhado.
— Alô? — atendo, mas sua voz do outro lado está carregada de dor.
— Dean, por favor, venha ao hospital no centro da cidade. É urgente.
Um calafrio percorre meu corpo. O nome de Aurora vem à minha mente.
— O que aconteceu? — pergunto, já me levantando, enquanto meu pai me segue, preocupado.
— Quando você chegar, explico. Não dá para falar por telefone.
Corro para o hospital, e tenho certeza de que acumulei algumas multas no caminho. Chegando lá, subo o mais rápido que posso. Meu pai está ao meu lado. Encontro Michael e Aline, minha sogra, ambos chorando diante do médico.
— O que aconteceu? — pergunto, desesperado, sentindo o ar me faltar.
— A Aurora... Ela se foi... — Aline diz, entre soluços.
Sinto o chão desaparecer sob meus pés. O ar, antes pesado, agora parece inexistente. Caio de joelhos e choro como uma criança, incapaz de processar o que acabei de ouvir.
— Ela nos mandou uma mensagem de despedida. Ficamos preocupados e fomos até o apartamento. Lá, a encontramos desmaiada. Trouxemos para o hospital, mas... era tarde demais. Ela... se suicidou — Michael explica, sua voz cheia de dor.
Meu coração se despedaça. Meu pai me abraça, e eu desabo novamente. Nunca mais serei capaz de amar alguém.
Ele me leva para fora do hospital. Embora eu quisesse ficar, não tive forças para organizar o velório. Mas fiz questão de pagar por tudo. Durante o funeral, descobri que Aurora havia deixado uma carta, pedindo desculpas a todos e explicando que não aguentava mais a vida. Ela também pediu que o caixão ficasse fechado. Respeitei seu desejo, mas isso me impediu de vê-la uma última vez.
Alguns dias depois, sua mãe e seu irmão se mudaram do país, sem deixar qualquer informação de para onde foram. Por insistência do meu pai e da minha madrasta, também não os procurei.
Aurora se foi, levando com ela minha vontade de viver. Ela foi meu primeiro amor, e tenho certeza de que nunca serei capaz de amar novamente.
Dois meses depois, decido ir para a Espanha. Preciso me distanciar de tudo, de todos. Preciso recomeçar, mesmo que a dor me acompanhe.
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