CAPÍTULO 01

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HAZEL
T O R R E S

Natal de 2007 - Porto Alegre, Brasil

— Cuidado, filha, não vá muito longe! — gritava meu pai enquanto eu corria, brincando como a boa criança que era. Já estava tarde, e o céu começava a escurecer com a chegada da noite.

Afastei-me, distraída pelas borboletas que dançavam sobre a grama verde do parque. Meus pais estavam discutindo novamente; os gritos da minha mãe eram altos e cortantes. Meu pai, como sempre, apenas a observava, sem demonstrar nenhuma reação. Era sempre assim: ela gritava, brigava, e ele permanecia em silêncio, imóvel.

— VAMOS EMBORA AGORA! HAZEL, VEM AQUI! — A voz da minha mãe soava ríspida e fria.

Aproximo-me, hesitante, com o medo familiar daqueles gritos agudos. Sempre tive medo dela e das suas agressões sem motivo, como se eu fosse um incômodo constante em sua vida.

— Não precisa gritar com ela, Anastácia — meu pai retrucou, tentando acalmar a situação.

— Essa menina precisa de limites, Jordan! — ela rebateu ainda mais alto, a raiva transbordando.

Com lágrimas nos olhos, abraço meu pai em busca de proteção. Sei que o olhar frio da minha mãe é um aviso silencioso: quando estivermos sozinhas, ela vai descontar tudo em mim.

— Querida, prometo que amanhã voltaremos aqui. Agora pegue seus brinquedos no chão — ele disse com um sorriso suave.

Obedeço, pegando minhas coisas com um pequeno sorriso nos lábios, feliz por um instante. Seguimos até o carro, minha mãe me coloca na cadeirinha com pressa, e meu pai assume o volante. Brinco com meu boneco enquanto seguimos o caminho de volta para casa, mas o sono me vence.

Acordo de repente com o som dos gritos deles, ainda mais altos e violentos. Meus pais discutem ferozmente, trocando insultos que reverberam como punhais no ar.

— PAPAIII, PARA! — grito em desespero, minhas lágrimas descontroladas.

— CALA A PORRA DA BOCA, HAZEL! — minha mãe grita, seu ódio como um veneno que me paralisa.

— PAPAIII! — continuo, agarrando o braço dele, tentando segurá-lo.

— FICA QUIETA, HAZE! — Pela primeira vez, meu pai grita comigo. Sinto o medo me congelar.

O carro derrapa e faz um zig-zag pela pista. Tudo acontece rápido demais: o capotamento, a queda pela ribanceira. O mundo vira de cabeça para baixo.

Quando abro os olhos, tudo é caos. Minha mãe está desacordada, o rosto ensanguentado e irreconhecível. Viro-me para o lado do motorista e o horror me domina: o rosto do meu pai está destroçado, irreconhecível. A dor me consome. Sirenes se aproximam, e antes que eu possa entender, sou retirada das ferragens e levada ao hospital com minha mãe.

No dia seguinte, recebo a notícia. Minha mãe está bem, mas meu pai... ele se foi. Apesar de ser apenas uma criança, a dor que sinto é devastadora, profunda, como se eu tivesse perdido meu chão.

Fevereiro de 2018 - Porto Alegre, Brasil

Acordo depois de mais uma discussão com minha mãe. Estou exausta. Pego meu celular e vejo a data: 12 de fevereiro. Meu aniversário. Hoje faço quinze anos. Sinto um fio de alegria ao ler a mensagem de parabéns da minha avó.

Tomo um banho rápido e visto a roupa que comprei especialmente para esse dia. Desço até a cozinha, onde minha mãe está sentada, tomando café.

— Bom dia — digo, esperando ouvir um "feliz aniversário".

— Bom dia — ela responde, seca, cortando minha alegria pela raiz. Mas tento manter o sorriso.

— Qual o motivo de tanta felicidade? — pergunta, com a expressão desinteressada enquanto toma um gole do café.

— Hoje é dia doze. Isso te lembra algo? — pergunto com um brilho de esperança. Por um momento, penso que ela se lembra, mas é uma ilusão.

— Hoje é o aniversário da Alexia — diz, sorrindo.

Meu sorriso desaparece, substituído pela dor. É sempre assim. Ela parece gostar de me ver decepcionada.

— Também é meu aniversário — murmuro quase num sussurro, tentando segurar as lágrimas.

— Nossa, esqueci. Desculpa, só comprei um presente para a Ale — diz, tirando um embrulho da bolsa. Assinto, engolindo a mágoa.

Como faço em todos os meus aniversários, levanto-me e vou ao cemitério visitar o túmulo do meu pai.

— Desculpa, querida — ela diz, com uma voz que soa como pura ironia.

— Você pode me levar ao cemitério? — pergunto com esperança. Ela faz uma cara feia.

— Hoje preciso ir ao aeroporto. Depois voltamos para fazer as malas — responde. Arqueio a sobrancelha, confusa. Aeroporto?

— Vamos viajar? Vamos ver a vovó? — pergunto, animada.

— Esqueci de te contar, fui transferida. Vamos morar com sua avó na Flórida — responde.

Congelo por um momento. Mudar de país assim, do nada, me assusta, mas ao mesmo tempo me alegra. As poucas vezes em que experimentei um pedaço de felicidade foram durante minhas visitas à minha avó, em Meriodinal, uma pequena cidade na Flórida. Pela primeira vez em muito tempo, estou feliz.

...

O dia passa rápido. Visito o túmulo do meu pai, me despeço do jardim que me trouxe tantas memórias e da arena do Grêmio, meu time do coração. À tarde, faço as malas e espero minha mãe voltar.

No fim do dia, ela me busca e vamos ao aeroporto. Perto das onze da noite, embarcamos, rumo ao início de uma nova vida. Meu coração está ansioso. Quem sabe agora, finalmente, eu possa viver de verdade e, talvez, minha mãe aprenda a me amar do jeito que eu sempre quis.

Dark nights - um amor em forma de cometa (Conto)Onde histórias criam vida. Descubra agora