Onde Augusto (Guto) fugindo das pretendentes, encontra a mais bela das moças.
Ou onde Camila (Mila) fugindo de seu noivo asqueroso, encontra no olhar de rapaz desconhecido, a esperança que lhe foi roubada.
Olhei mais uma vez para o espelho, encarando a minha aparência aquela noite. De fato, eu estava deslumbrante, mas o semblante em meu rosto, entregava tudo, eu estava infeliz.
Após duas temporadas, indo a praticamente todos os bailes da região - sendo carregada pela minha mãe - e dançando com diversos pretendes, eu estava noiva. Mas, eu nunca almejei me casar, na verdade, o meu grande sonho, sempre foi ser uma escritora. Lembro de passar a minha infância devorando cada página de cada livro dos diversos que tinha em minha estante, e, vivi imaginando o dia que poderia escrever e publicar algo como as coisas que eu lia.
Quem me dera eu pudesse colocar as minhas ideias no papel e dividi-las com o mundo, quem me dera poder ser nem que fosse um pouco, livre.
Mamãe sempre detestou minha paixão pela literatura, segundo ela, era uma perda de tempo. As moças deveriam aprender a cozinhar, bordar e servir, e assim, poderiam encontrar o homem com o qual se casaria. Aprendi a cozinhar e apesar de odiar bordar, também me dediquei a aprender pela insistência de mamãe. Mas algo que eu nunca iria me conformar, era ser a serva de alguém. Para mim, o amor deveria ser uma via de mão-dupla, onde o marido e a mulher poderiam ser cúmplices e amigos um do outro. Achei que viveria como nos romances que eu lia, mas, a minha realidade era total e completamente triste.
Quando o Lorde Hans bateu em nossa porta e me pediu em casamento, eu entendi que a vida não era o conto de fadas que eu imaginei a vida toda. A vida, ela poderia ser extremamente cruel, principalmente com aqueles cujo os corações são puros.
• Quando chegamos ao último baile da temporada, eu estremeci. A ideia de que naquela noite meu destino iria ser selado, me causava ânsia. Eu me casaria com o Lorde Hans em breve e seria infeliz até os meus últimos dias. Forcei um sorriso ao vê-lo se aproximar de mim e de minha mãe.
Hans: me permita dizer que está estonteante essa noite, senhorita Hikari - disse após me cumprimentar com um beijo na mão enluvada Mila: obrigada, Lorde Hans - eu disse sorrindo sem mostrar os dentes Diana: o senhor tem sorte, lorde Hans. A minha menina é a moça mais linda da cidade, será muito próspero em seu casamento - disse mamãe com um sorriso nos lábios Hans: de fato serei, senhora Hikari - respondeu me avaliando da cabeça aos pés, e nesse momento, senti meu estômago embrulhar Mila: com licença, preciso ir ao toilette - me curvei os cumprimentando e sai dali depressa
Caminhei pelo longo corredor da residência dos Lourenço e ao se deparar com a biblioteca, adentrei o espaço em busca de um pouco de paz. Me sentei em uma das cadeiras e fechei os olhos, reprimindo o choro. Ainda podia ouvir os acordes do violino soar, apesar de um pouco mais distante.
Me perdi nos próprios pensamentos e só despertei deles quando ouvi passos na sala onde estava. Abro os olhos e vejo um rapaz de cabelos negros e pele clara se aproximar.
Mila: este lugar já está ocupado. retire-se - falei com a voz um pouco mais irritada que o normal, talvez o fato daquela noite estar sendo uma tortura ajudasse a elevar minha antipatia. Guto: até onde eu sei, essa biblioteca pertence aos anfitriões do baile. Por que eu sairia? - ele perguntou me encarando e eu arfei irritada Mila: o senhor é um sujeito muito atrevido - levantei-me da cadeira onde estava sentada e parei em frente ao rapaz com os braços cruzados - eu cheguei primeiro! E não é de bom tom que eu esteja aqui sozinha com o senhor, então, retira-se - ordenei mas ele ignorou rindo e negando com a cabeça, aquilo me irritou ao mesmo tempo que me senti bem em ser desafiada Guto: eu passei a noite fugindo de donzelas como a senhorita, acredite, não estou aqui para tirar proveito, quero apenas sentar e não precisar ouvir as mesmas perguntas pelo resto da noite - expressou o seu descontentamento e eu mordi os lábios, talvez nem todo mundo naquele baile estive afim de festa, assim como eu. Mila: se faz tanta questão de ficar - parei um pouco pensando no que responder mas logo continuei - que fique! Mas bem longe de mim.
Caminhei de volta para a cadeira onde estava anteriormente e ele deu de ombros Guto: como quiser, senhorita - colocou as mãos pra cima como quem se rendia e logo sentou em uma outra cadeira que havia no cômodo.
Permanecemos ali em silêncio. Enquanto eu lia uma página e outra do livro, me atrevia a olhar para o rapaz na cadeira ao lado. Ele era bonito e tinha um ar de mistério, o que me fez querer descobrir alguma coisa sobre ele, qualquer coisa que aquietase a minha estranha e repentina curiosidade. Fui interrompida dos meus pensamentos, quando ouvi uma voz conhecida no corredor.
Hans: ela está fugindo de mim - ouço ele comentar com alguém do lado de fora da biblioteca
"ela deveria agradecer por você aceitar se casar com ela, afinal ela estava prometida ao fracasso até você ter piedade" sinto meu coração apertar de raiva quando ouço outra pessoa falar
Hans: ela tem algo que me interessa, e cedo ou tarde, eu a terei - percebo o tom de ironia na voz do Lorde Hans e me levanto depressa quando as vozes vão ficando mais perto.
Olhei para o jovem ao meu lado numa súplica silenciosa, na esperança de quem sabe ele me ajudasse a escapar dali. Ele pareceu entender pois no mesmo instante levantou-se e me puxou pela mão.
Vejo ele puxar uma das prateleiras com livros e ela se abrir por inteira mostrando um caminho a seguir. Sorri com a revelação. Já tinha vindo a mesma biblioteca diversas vezes e nunca imaginei que teria uma passagem ali. Quando atravessamos, a prateleira voltou ao seu lugar.
Sinto minha respiração descompensada quando ouço novamente a voz de Hans, agora no ambiente.
"Ela pode fugir o quanto quiser, não me importo de vasculhar cada canto em busca dela"
"O senhor deveria tentar cortejar as outras moças do baile"
"Não existe outra moça, Felipe. É ela. É com ela que irei me casar, nem que eu precise obrigá-la a isso"
Sinto meus olhos queimarem e algumas lágrimas caírem por meu rosto. O rapaz que estava ao meu lado, rapidamente tirou um lenço do bolso e me ofereceu. Peguei o lenço e enxuguei as lágrimas numa tentativa falha de secar o choro que estava preso na minha garganta há dias.
Guto: a senhorita não vai conseguir se esconder pra sempre. Do que tem medo? - questiona curioso e eu suspiro pesado Mila: o Lorde Hans não é bom homem, eu tenho medo dele. - confessei em meio às lágrimas insistentes - temo pela vida que terei ao lado dele Guto: não devias temer. Apenas casar, case-se e tudo irá se resolver
O encaro com descrença no que acabei de ouvir. Como ele poderia me dizer isso tendo acabado de ouvir as minhas dores.
Mila: não, eu não posso me casar com ele - confesso num tom desesperado e aperto o lenço em minha mão Guto: case-se - ele repetiu e eu me neguei andando pra longe dele
Até que ouço seus passos atrás de mim. Acelero o meu caminhar e tropeço nos meus próprios pés. Ele então segura meu braço impedindo que meu rosto fosse de encontro no chão
Guto: case-se, mas case-se comigo - vejo ele ficar em minha frente e piscou duas ou três vezes pra ter a certeza de que não estou tendo alucinações Mila: como? Que disparate é esse? - questiono um tanto atônita e ele sorri, e então, naquele momento, naquele breve momento, eu percebi o quão lindo era o seu sorriso Guto: eu acho que sou a única opção para a senhorita!
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