Capitulo 3: O Encontro com o Monstro no Espelho

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De modo a qual uma criança foge do escuro por medo do bicho papão, nós fugimos de nós mesmos em busca da proteção de nossos cobertores, enfrentar nossos problemas sempre foi a maior questão, tendemos a temer e evitar, porém a falta de enfrentamento nunca te fará bem, assim como uma criança sempre irá dormir de luz acessa ou ter medo do que está debaixo da cama, esse medo somente irá desaparecer no momento que olhar embaixo da cama e apagar a luz pela primeira vez.

Sentir medo é perfeitamente normal, todos sentimos ao longo da vida, porém, a partir do momento que ele começa a assumir o controle, então sim, devemos nos preocupar. A luta ou fuga, é sempre as duas principais escolhas, com a fuga sempre sendo o caminho mais fácil, evitar seus problemas é sempre mais fácil que os confrontar diretamente, assim como, uma criança mente aos pais por medo de represálias, você mente para si mesmo com medo do que vai encarar ou até mesmo das próprias consequências de suas ações, enquanto lutar é totalmente diferente, é pegar sua espada de madeira e lutar contra todas as criaturas e demônios que habitam dentro de você, principalmente o maior inimigo de todos, você mesmo! Ao entrarmos em confronto com o nosso próprio ser, encontramos dentro deste local um "eu" que nunca gostaríamos de ter encontrado, você se encontra com suas frustrações, arrependimentos, momentos de vergonha e principalmente com a emoção mais primitiva guardada dentro de você, a raiva! Passamos tempo demais guardando nossos próprios sentimentos para si, de forma a qual fere nossa alma, machuca nosso ser e principalmente fere todos aqueles que estão próximos de nós, os machucamos com emoções reprimidas que gostaríamos de olhar no espelho e descontar em nós mesmos.

Passamos tanto tempo reforçando a ideia de que estamos bem, mesmo estando mal, que somos covardes com nossos próprios sentimentos, sempre evitando a dura realidade que nada está realmente bem, pois se estivesse verdadeiramente bem, não responderia com um simples "Estou bem", "tudo sim", "estou" ou "bem". Tendemos a imaginar que se não pensarmos que estamos preocupados, ansiosos ou mal, esse sentimento realmente vá embora, buscamos evitar e correr do problema a todo custo em vez de lutar com ele e se perguntar: "mesmo a situação estando ruim, tem alguma coisa que eu possa fazer para melhorar" e principalmente se perguntar, onde está o erro nessa história. Você vai notar que em todos seus problemas sempre a uma parte em comum, talvez dinheiro ou uma situação que de forma magica você não tem controle, mas quem está sempre em comum com todos os problemas é você mesmo, esperando que o tempo cure absolutamente todas as feridas, exatamente igual uma criança esperando a mãe cuidar do machucado que ele mesmo causou.

Nossos verdadeiros sentimentos veem à tona principalmente na infância, quando aprendemos o que devemos ou não ter medo, sabemos o que é certo e principalmente o que é errado, de modo que muitos são ensinados a não expressar seus sentimentos e reprimi-los até explodir em um mar de emoções onde a sua única opção é se debater até se afogar, o primeiro momento embaraçoso que conseguimos nos lembrar é sempre o mais forte de todos, porque é ai que percebemos que nem sempre ser nós mesmos ou errar será de certa forma bem aceito como era antes, porque agora não somos mais "crianças" e é dessa forma que desenvolvemos, tendo medo de represálias, de nossas ações, de nossos sentimentos e de quem somos realmente, mudando para ser aquilo que se encaixa como "normal" e agora, de um momento para o outro, não temos mais a escolha de sermos um super herói ou super vilão, nossa única escolha é sermos adultos.

No fim, quando crescemos e olhamos para trás, sentimos falta de um tempo mais simples, onde tudo era bonito, não porque era realmente perfeito, pois somente o simples bastava e o medo não fazia parte, não éramos covardes com nós mesmos e nem com quem estava ao nosso redor. Agora, estamos cercados de pessoas tão covardes quanto nós mesmos, crianças assustadas que sonham com dias melhores e esperam que aquele abraço aconchegante e acalorado venha espantar o bicho papão que existe dentro de nós. O medo sempre irá existir, mas a forma como lidamos com ele define quem somos, "Ser corajoso não significa não ter medo. Ser corajoso significa estar com medo, muito medo, mas mesmo assim fazer o que é certo", isso não sou eu quem digo, mas Neil Gaiman no livro Coraline. 

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