Isabel anda muito estranha

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Pov: Priscila Caliari

Achei extremamente estranho o olhar assustado que Isabel lançou em minha direção. Não era a primeira vez que percebia isso; sua mudança de comportamento já vinha me incomodando há algum tempo. Desde o dia em que tive aquela conversa tensa e cheia de revelações sobre a facção com Beatriz, algo definitivamente mudou nela. Isabel passou a agir de forma estranha, quase como se estivesse sempre em alerta. Seus olhares furtivos e a maneira como se afastava quando eu chegava perto davam a impressão de que ela estava me evitando a qualquer custo. Pior ainda, parecia que ela esperava que, a qualquer momento, eu pudesse atacá-la ou confrontá-la de forma inesperada. Era como se o medo estivesse sempre presente em seus olhos, e isso me deixava cada vez mais desconfiada e preocupada.

O que realmente me parte o coração é vê-la me evitar como se eu fosse uma ameaça, como se eu fosse alguém perigosa, quando, na verdade, não sou nada disso. Não sou essa pessoa que Isabel parece imaginar. Isso me dói profundamente, porque tudo o que eu faço, todos os dias, é lutar para tentar dar o melhor para ela, para proteger e cuidar da nossa família. Sei que o que carrego nos ombros, comandar uma facção tão grande e poderosa, não é algo que eu escolhi por vontade própria. Não fiz isso porque acho glamouroso ou interessante. Fui jogada nessa vida, escolhida para essa função pelo meu tio, e agora carrego o peso dessa responsabilidade. Isabel tem sorte de não saber o que acontece nos bastidores, de estar alheia a toda essa escuridão que me cerca.

Meu maior medo, no entanto, é que ela pense que escondo tudo dela por falta de consideração, por achar que sua opinião não importa. Não é isso. O que me assusta é que ela possa acreditar que minha falta de transparência seja por desinteresse, como se eu quisesse mantê-la de fora por egoísmo. Às vezes, me pergunto se não teria sido melhor ter inventado uma profissão qualquer, algo normal, algo que a fizesse sentir-se mais à vontade, mais segura. Talvez eu devesse ter criado uma mentira confortável para evitar que essa barreira entre nós crescesse. Agora, sinto que, ao tentar protegê-la, acabei construindo uma distância que só aumenta o abismo entre nós duas. E isso é o que me machuca mais profundamente.

Saio do quarto de Isabel e caminho pelo corredor do segundo andar, sentindo o ambiente ao meu redor. O corredor tinha uma estética rústica, mas com toques modernos que combinavam perfeitamente com o restante da casa. As paredes de madeira antiga contrastavam com as luminárias embutidas e os móveis de design contemporâneo. Embora estivesse tudo escuro, as grandes janelas de vidro no primeiro andar permitiam que a luz da lua iluminasse parte da casa. Através dessas janelas, eu conseguia ver o céu estrelado e meus carros estacionados do lado de fora, emoldurados pela noite silenciosa.

Passo pelo quarto de hóspedes, um espaço raramente utilizado, que ficava ao lado do quarto de Isabel. Aquele cômodo sempre parecia mais frio e distante, como um espaço à espera de alguém que nunca chegava. O silêncio naquele andar era quase opressor, e o eco dos meus passos parecia amplificado.

No entanto, o terceiro andar era diferente. Lá, havia apenas um quarto, o meu e de Beatriz, minha esposa. Era o nosso refúgio, o único espaço da casa onde podíamos ficar longe de tudo e de todos. A subida até lá era quase simbólica, como se cada degrau me levasse para longe das preocupações e tensões acumuladas no resto da casa. Era ali que buscávamos tranquilidade em meio ao caos, um lugar que carregava nossas memórias e confidências. Ao subir as escadas, o pensamento de Beatriz me invadiu, e uma mistura de alívio e incerteza me dominou. A casa, por maior e mais bela que fosse, parecia pequena diante dos dilemas que começavam a se acumular.

Claro, aqui está o texto ajustado sem a parte em que Isabel anda de um lado para o outro e a interação dela:

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Abro a porta devagar, sentindo o peso do momento. Vejo Beatriz deitada na cama, me esperando com um olhar furioso, os braços cruzados sobre o peito, como se estivesse pronta para uma batalha. Seu corpo está tenso, e o silêncio no quarto é quase sufocante. Sei que ela está esperando uma explicação. O brilho em seus olhos me faz hesitar por um instante, mas eu já sabia que essa conversa seria inevitável.

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