*Capítulo contém gatilho*
*Narrador
Samantha fecha os olhos ao sentir a garoa fina em seu rosto, o vento gelado contra o seu corpo não a afetava. As mãos trêmulas segurando o corrimão escorregadio e os pés no parapeito, indicavam o que a garota estava prestes a fazer.Perdida na própria confusão, ela não via mais saída. Não aguentava mais a dor que se acumulava em seu coração e que a devorava de dentro para fora cada dia que se passava, a angústia crescente em seu peito e o gosto azedo da amargura em sua boca.
Não tinha saída, ela já havia feito e tentado de tudo e a verdade que ela tanto demorou para enxergar finalmente havia batido em sua porta, não existe um lugar no mundo para Samantha, então por que insistir? Por que continuar vivendo? Foi esse o motivo de sua decisão, essa a qual não foi precipitada e sim intermediada durante uma semana, ela tentou achar outras saídas, tentou encontrar as respostas e ainda sim sempre acabava perdida no mesmo labirinto, presa dentro da tristeza que morava em seu coração.
Seus olhos permaneceram fechados quando a chuva engrossou, ela estava decidida, estava determinada a pular e acabar com a própria vida, mas sabia que seria mais fácil se não olhasse para baixo, não olhasse para o futuro.
Quando aquela pontada de coragem repentina bate em seu peito e ela se inclina, prestes a largar o corrimão, ela se assusta ao ouvir uma voz.
Seus olhos não acreditaram no que viram, de todos os cenários que ela imaginou durante esses dias do que poderia acontecer nesse exato momento, nenhum se comparava ao que ela presenciava.
- Alto, né? - um rapaz se aproxima da mesma e ela o encara assustada.
- Como subiu aqui? Eu tranquei tudo. - ela fala assustada, desvia o olhar do rapaz para a porta do terraço e vê que a mesma ainda continuava trancada com uma barra de ferro, impedindo que alguém entrasse. - Como que... Espera, eu conheço você.
- É agora que você grita animada? - ele pergunta e ela o encara de cima a baixo e arregala os olhos.
- Puta que pariu, você é o cara da suruba! - ela fala assustada e ele revira os olhos.
- O nosso disco tem quatorze faixas, quatorze! - ele resmunga e se aproxima, mas ela tenta se afastar e acaba tropeçando. - Calma. - ele pede quando ela grita e se agarra ainda mais ao corrimão. - Começamos do jeito errado, deixa eu me apresentar.
- Ô Dinho, para de enrolação. - uma outra voz se faz presente e Samantha olha para trás de si, vendo outras quatro silhuetas se aproximando.
- Estragou com o meu momento, Samuel. - Dinho resmunga.
- Eu já morri, é isso? - ela pergunta e encara eles. - Se eu morri porque eu estou aqui com vocês e não com a minha mãe?
- Em primeiro lugar, isso foi muito ofensivo, 'tá? - o rapaz de cabelo vermelho fala e ela nega. - Deixa a gente se apresentar, eu sou o Júlio, esse japonês é o Bento, aqueles ali são os Reolis, Sérgio e Samuel e aquele amostrado ali você já conheceu, é o Dinho.
- E nós somos os... - Sérgio começa e ela o interrompe.
- Eu sei quem vocês são!
- Sabe? - Samuel pergunta surpreso. - Claro que sabe, somos famosos.
- Sim, eu sei. - ela fala irritada e engole em seco ao sentir as mãos escorregando. - Eu só quero saber porque eu morri e vim parar com os caras que cantam sobre suruba.
- Puta que pariu, de novo ela com isso de suruba. - Dinho resmunga e Júlio o fuzila com o olhar. - Só conhece essa?
- Vocês também cantam sobre ficar pelados na brasília, lá na praia. - ela fala e Samuel dá risada. - Isso é crime, sabia? Ninguém é obrigado a ver dois peladões em um carro velho.
- É só uma música! - Dinho fala e ela nega.
- Eu sei que é só uma música, mas por quê vocês? Não me levem a mal, mas eu pensei que quando eu morresse iria encontrar pessoas importantes pra mim ou algum cantor que eu goste, sei lá, Marília Mendonça, Cristiano Araújo... MICHAEL JACKSON!
- Ela é uma máquina de ofensas, acabou de tirar a gente pra baixo de bosta. - Sérgio cruza os braços. - Não gosta da gente?
- Eu não conheço vocês, quer dizer, vocês são os... - ela é interrompida.
- Os caras que cantam sobre suruba. - eles falam em uníssono.
- É, isso aí. - ela suspira. - Olha, me desculpem, mas eu não pensei que quando me matasse iria encontrar um povo que eu nem conheço.
- Você não morreu, Samantha!
- Como sabe meu nome? - ela pergunta assustada. - Pergunta idiota, vocês são fantasmas, devem saber um monte de coisa.
- Não somos fantasmas! - Bento fala ofendido. - Vai continuar nos ofendendo?
- Se não são fantasmas são o quê? Vocês morreram antes do meu nascimento.
- Se você ficasse um pouquinho quieta, facilitaria o nosso trabalho e aí poderíamos te explicar. - Júlio fala e ela nega.
- Certo, se eu não morri... Eu acho que devo estar quase morrendo, é isso. - ela respira fundo. - Devo estar tendo alucinações.
- Você não morreu, menina. - Dinho fala sem paciência. - Mas você caiu.
- O quê? - ela pergunta confusa e desvia o olhar deles, a mesma se inclina e olha para baixo, ela sente o estômago revirar ao ver que a distância até o chão que anteriormente era de apenas dois andares, agora aparentava ser de dez andares. Lá embaixo, no chão, um pontinho vermelho, ela cerra os olhos tentando enxergar melhor e só então consegue se ver, era ela caída ali no chão. A garota dá dois passos para trás, mas sente um impulso em suas costas e grita ao se ver caindo, em direção ao próprio corpo. - NÃO!
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Fanfic para maiores de dezoito anos, a mesma contém gatilhos, tentativa de suicídio, violência e palavras de baixo calão.
Escrito: 10.09.2024
Postado: 10.09.2024
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Vida - Mamonas Assassinas
FanfictionPerdida entre a dor e a tristeza, Samantha levava uma vida sem esperanças de que um dia o sol brilharia para ela novamente. Cansada de esperar e ciente que todos os passos que ela dava a levava para a beira do abismo, ela decide por um fim em seu so...