03

239 44 14
                                    

Capítulo 3

— Uau, — disse Ziyi, quando Yibo terminou de contar a ela toda a história sórdida.

— Sim, — concordou Yibo .

Passaram-se duas semanas depois do baile e o verão finalmente chegou. As cigarras zumbiam e as abelhas zumbiam de flor em flor, os pássaros cantavam no alto e flertavam entre si nos galhos. Ao redor de Ziyi e Yibo , as montanhas estavam inundadas de verdes, rosas e roxos. Nos jardins que rodeavam a casa dos Wangs, porém, fazia frio à sombra das árvores. Havia uma brisa suficiente para bagunçar o cabelo de Yibo . A sensação estranha e dolorosa que ele sentia desde que voltou do baile, não era tão perceptível quando ele se sentou do lado de fora e respirou o ar fresco.
Ou talvez tenha sido o desabafado com Ziyi, que ele conhecia desde sempre. Ziyi conhecia Yifei tão bem quanto ele, brincava com eles nos dias de verão nas montanhas, mesmo sem nunca ter posto os pés no castelo. Ziyi era uma alfa, mas de alguma forma isso nunca importou, porque ela nunca demonstrou muito interesse em romance, amor ou vínculo, ela só teve olhos para suas facas e seus blocos de madeira.
O pai de Yibo ressoava feliz em sua oficina na base da colina. Os dois Dobermans que ele mantinha como animais de estimação e proteção dormiam estendidos nas lajes, desesperados por um pouco de ar fresco.
A maioria das pessoas que passava por ali teria achado que era uma bela imagem: Yibo , um belo e jovem ômega aproveitando um lindo dia de verão, na companhia da sua adorável alfa , que veio lhe dar um presente de cortejo, enquanto os Dobermans mantinham a guarda da virtude de Yibo .
Os cachos esvoaçantes de ébano de Ziyi formavam uma enorme auréola ao redor da sua cabeça. Ela moveu a faca de talhar sobre a madeira macia em suas mãos, como se nem estivesse prestando atenção nela. Ela trabalhava madeira desde os nove anos e Yibo , seis, e ele ainda não conseguia descobrir como ela conseguia produzir figuras tão perfeitas sem nunca olhar para o que fazia.
— Não sou eu, é a madeira, — ela dizia, encolhendo os ombros quando Yibo perguntava.
— Mas como você sabe o que há na madeira? — Perguntou Yibo .
— Da mesma forma que você sabe que quer um alfa macho e não uma fêmea, —
rebateu Ziyi.
— Você simplesmente sabe.
Ziyi havia se sentado uma hora antes e começado a talhar, enquanto Yibo lhe contava tudo o que havia acontecido no baile. Agora a figura de um cavalo no meio do galope estava quase completa e ele conseguiu descarregar todos os detalhes de que conseguia se lembrar.
Bem. Quase. Ele contou a verdade a ela, mas havia alguns detalhes que ele guardou para si mesmo.
Ela não precisa saber a maneira que Zhan o fez sentir, ou quanto eu queria ficarem seus braços pelo resto da noite. Ela não precisa saber quanto meu coração se partiu quando o vi pegar a mão de Yifei, ou quando Yifei sorriu para ele.
Mas, novamente, é Ziyi. Ela, provavelmente, adivinhou.
— Yifei está atrás de mim para uma visita, — Yibo disse secamente, observando Ziyi esculpir linhas delicadas no rabo do cavalo. Sua longa túnica estava coberta de poeira e lascas de madeira; suas pernas estavam cruzadas sobre o braço da cadeira, enquanto ela se esparramava em uma posição que Yibo não achava que seria nem um pouco confortável, para não mencionar segura, considerando a faca afiada que ela estava utilizando. Ou a infinidade de facas que Ziyi costumava utilizar enfiadas no cinto e nas botas. Havia até uma faca enfiada em seu cabelo, segurando um coque que há muito havia desistido de ser coque e agora era mais um nó.
— Então visite-a, — disse Ziyi. Ela parecia quase entediada.
— Ziyi.  Você não acha que ela vai saber?
— Que você dormiu com o príncipe encantado dela? Só de olhar para você?
Provavelmente, não. É um pouco volúvel, sua princesa.
— Ela não é volúvel, — retrucou Yibo .
— E ela não é minha  princesa.
— Ela é sua melhor amiga, não é? — disse Ziyi friamente, um pouco friamente demais, pensou Yibo . Ela parecia um pouco irritada com ele.
— Isso a torna mais sua do que de
qualquer outra pessoa.
— Ela também é sua amiga, — lembrou Yibo .
— Uma princesa solitária trancada em uma torre...
— Ela não está sozinha.
Ou trancada em uma torre.
— ...e tudo o que ela quer fazer é contar ao seu melhor amigo tudo sobre o novo amor da sua vida.  — Ziyi bufou e soprou o excesso de serragem do cavalo. — Acho que o plano do pai dela para fazê-la se
apaixonar funcionou.
— Sim, — disse Yibo taciturnamente. Ele olhou para o jornal que estava na mesa entre eles.
Os planos de casamento avançam para a realeza apaixonada,  gritava a manchete, e em letras muito menores abaixo: As negociações para um acordo de paz continuam.
— Mas os acordos de paz são uma coisa boa, — disse Yibo , sem entusiasmo. — Isso é o que ela diria, mesmo se eu contasse a ela sobre mim e Zhan. Ela ainda acasalaria com ele, apenas para trazer seu irmão para casa.
Ziyi zombou. — Ela não é uma mártir, não importa o que ela goste de brincar. E
você também não.
Yibo sentou-se e olhou feio para a amiga. — Ela não está brincando de mártir.
— Bem, ela dificilmente é uma na vida real, — disse Ziyi. — Ela é uma princesa. Ela poderia se recusar a se casar com ele.
— Isso dissolveria o acordo de paz, — disse Yibo .
— Você realmente acha que a paz depende de ela acasalar com ele? — Zombou Ziyi.
— Por favor.
— Você lutaria, você sabe, — disse Yibo , ficando cada vez mais irritado. — Se não houvesse paz. Você é uma alfa, está em idade de lutar, você realmente acha que Yifei ou eu queremos que você vá para a guerra?
— Não sei o que Yifei quer, — retrucou Ziyi. Ela voltou para a floresta com uma ferocidade que fez Yibo ficar quieto. — Eu também não acho que ela saiba.
Yibo observou-a atacar a madeira por um momento.
— Você quer ir. Não é? Você sabe que isso partiria o coração dela.
Ziyi apontou a faca para ele. A expressão em seu rosto era mordaz. — Eu não pertenço à Guilda dos Pescadores, lutando contra os acordos de paz, — ela sibilou. — Eu quero esta paz tanto quanto qualquer outra pessoa. E não sei nada  sobre o coração de Yifei.
Yibo caiu para trás na cadeira, cruzando os braços.
— Bem, eu sei. Eu não posso contar a ela. Não posso,  Ziyi. Aquela expressão no rosto dela, quando ela o viu, talvez tudo o que está nos jornais seja uma besteira, mas, eu acredito quando dizem que ela está feliz.
Eu vi isso nos olhos dela.
Eu não posso tirar isso dela.
Ziyi ficou quieta por um momento. — Eu também não quero tirar isso dela. Mesmo que ela continue com isso, você não acha que ela deveria saber que seu príncipe dormiu com outra pessoa?
Yibo estremeceu. — Não pense que não refleti sobre isso.
Isso o mantinha acordado à noite. Se Zhan dormiu com Yibo , sabendo muito bem que estava destinado a ser companheiro de Yifei, quem poderia dizer que ele não dormiria com outra pessoa mais conveniente?
Yifei não merecia um marido assim. Ninguém merecia.
Mas então... Zhan merecia se casar com alguém que ele não acharia atraente?
Gosto mais disso,  disse Zhan. 
Não era justo com nenhum deles.
Ainda assim.
— Isso não é exatamente algo que eu possa mencionar entre sanduíches, você sabe.
Ei, Yifei, conhece aquele cara que você vai namorar? Ele simplesmente não gosta de você.
— Porque ele estava a fim de você,  — disse Ziyi, apontando para ele com a faca.
Yibo chutou a cadeira dela.
— Isso seria muito mais fácil  se eu pudesse simplesmente ter me apaixonado por você.
— Mútuo, tenho certeza, — disse Ziyi, com naturalidade e nem um pouco chateada.
— Mas aquele navio partiu, não que ele tenha saído do porto. E você deveria visitar Yifei antes que ela...
Ziyi parou. Yibo sentou-se na cadeira. — Antes dela o quê?
— Acordem, filhotes, — disse Ziyi, cutucando os Dobermans com a ponta do pé.
Eles se mexeram e grunhiram, piscando os olhos e olhando ao redor. — Vou pegar uma limonada e vocês dois estão
me acompanhando.
— Tudo bem, — disse Yibo , movendo-se como se fosse se levantar.
— Não, você não. Você fica aqui, — disse Ziyi, tirando os pedaços de madeira e a poeira da sua túnica. — Os filhotes e eu estamos bem sozinhos. Você quer limonada? Está tão  quente aqui. Sim. Limonada. Você é um homem que precisa de limonada.
— Por que você continua dizendo limonada? — Perguntou Yibo , pouco antes de ouvir o som de um carro subindo a colina.
Não apenas um carro. Uma fila  de carros, todos com o emblema real nas laterais e pequenas bandeiras reais tremulando no capô.
— Oh, merda, — ele gemeu.
— Resumindo, limonada, — disse Ziyi, enquanto empurrava os cachorros para dentro de casa.
Yibo respirou fundo e observou enquanto os carros paravam na entrada e contornavam o círculo, antes que o carro mais longo parasse bem em frente de onde ele estava sentado.
A porta se abriu e Yifei apareceu. Seu cabelo estava preso em um lindo rabo de cavalo, seu vestido parecia de verão e esvoaçante em xadrez pastel. Seu rosto perfeitamente maquiado estava perfeitamente tempestuoso.
Yibo nunca ficou tão feliz em vê-la em sua vida.
— Já que a montanha não quis vir até mim, eu vim para a montanha, — anunciou Yifei com o tom mais imperioso que Yibo jamais a ouviu anunciar qualquer coisa.
— Um sim? — disse Yibo , confuso. Apesar do súbito ataque de nervos ela vai saber,ela vai descobrir que estou grávido do bebê do noivo dela, estou tão morto,  Yibo não pôde deixar de voltar à conversa normal. — Porque as montanhas não se movem?
Yifei deu um suspiro muito pesado e exasperado. — É um ditado,  Yibo .
— Exceto que eu moro em uma montanha. Espere, eu sou a montanha? Ou a montanha é a montanha?
Estou realmente confuso.
— Claro que você é a montanha.
— Eu pensei que Yibo significava árvore?
— Oh meu Deus, você poderia calar a boca e me abraçar! — Ordenou Yifei. — Antes que eu tenha que fazer disso um decreto real.
Yibo revirou os olhos, levantou-se da cadeira e o fez.
Abraçar Yifei era fácil, principalmente, porque parecia que Yifei estava realmente satisfeita em vê-lo.
— Oh, senti sua falta,  — disse ela, passando os braços em volta do pescoço dele.
— Sinto muito por ter saído da festa tão cedo — desculpou-se Yibo . — Não me sentia bem e não queria estragar tudo.
Yifei deu-lhe outro aperto antes de empurrá-lo para lhe dar um olhar examinador.
— Mas você está melhor agora?
— Sim.
Yifei pareceu aliviada. Ela enganchou o braço no de Yibo e o conduziu de volta ao jardim. — Bom, porque tenho muito  para lhe contar, mesmo que você seja horrível e não tenha vindo à cidade para me ver nenhuma vez  nas últimas duas semanas. Você ao menos o viu?
Yibo sabia exatamente a quem ela se referia. Ele tentou manter a voz leve, mas em vez disso soou vagamente estridente.
— O príncipe?
— Claro, o príncipe, seu idiota! — Yifei enfiou o cotovelo na lateral do corpo dele.
— Eu o vi, — disse Yibo cuidadosamente.
— Mas você não o conheceu. Eu gostaria que você tivesse. — Yifei parou de andar.
Yibo olhou nervosamente para ela, o coração batendo forte, mas ela parecia perdida em pensamentos. — Ele é... ele é legal,  Yibo . Muito mais legal do que eu pensava que ele era.
Mais bonito também, seus olhos,  Yibo . Eles são muito mais escuros , mas são tão  bonito. Devo tê-lo apanhado num momento ruim, nunca deveria ter
ido procurá-lo.
Ela realmente gosta dele.
Não posso contar a verdade a ela! Eu só quero que ela seja feliz!
— Ah, — disse Yibo , sabendo que era uma resposta esfarrapada. — Então... você gosta dele? Você está feliz?
— Sim, — disse Yifei com firmeza. — Muito feliz. Ele é exatamente perfeito para mim.
— Estou feliz — Yibo conseguiu dizer sem engasgar.
— E você,  — disse Yifei, apertando o braço dele. — Você nunca disse o que aconteceu com o seu homem misterioso.

O ômega e o Príncipe Onde histórias criam vida. Descubra agora