𝔒VERCOME -cobra kai

𝒫rologo

O palco estava iluminado como um céu estrelado, cada feixe de luz capturando a graça e a delicadeza das jovens bailarinas que se moviam ao som da música clássica. As cortinas de veludo vermelho pendiam pesadas nas laterais, separando a realidade do mundo mágico criado pelos movimentos elegantes no palco. No centro de tudo isso, Elina, com seus 13 anos, era a estrela indiscutível.

Seu figurino era de um branco puro, com delicadas pedrarias que reluziam a cada movimento. O tecido fluía ao redor de suas pernas como água, conferindo-lhe uma aura quase etérea. Seus cabelos, presos em um coque impecável, eram coroados por uma tiara que completava sua imagem de perfeição. Cada músculo em seu corpo estava tensionado, não pela ansiedade, mas pela precisão de seus movimentos, resultado de anos de treino e dedicação incansável. Essa era a noite que ela sempre sonhou.

Na plateia, seus pais estavam radiantes. O pai, sorria abertamente, uma expressão de puro orgulho iluminando seu rosto. Seus olhos acompanhavam cada movimento de Elina, como se ele estivesse se deleitando em cada salto, cada giro. Para ele, aquela era a prova de que todos os sacrifícios tinham valido a pena. A mãe, com o coração transbordando de alegria, tinha os olhos brilhando de emoção. Ela não conseguia conter as lágrimas de felicidade que desciam por seu rosto, cada uma delas carregando o peso do amor e da admiração que sentia pela filha.

E havia Lexie. Ao seu lado no palco. Ela lembrava das inúmeras vezes que a viu praticar sozinha, no estúdio de dança vazio, depois das aulas, seus pés enfaixados e doloridos, mas sua determinação inabalável. Para elas, aquela apresentação era mais do que apenas uma performance; era o reflexo de tudo que elas haviam sacrificado e conquistado.

A música que preenchia o teatro era grandiosa, um crescendo que parecia elevar Elina a alturas inimagináveis. Ela sentia o peso de cada par de olhos na plateia, esperando, ansiando pelo seu grande momento. Sua respiração estava controlada, cada passo era preciso, sua dedicação ao ballet sendo reconhecida em cada pirueta perfeita, em cada salto gracioso. O aplauso da multidão era uma melodia própria, mas nada a fazia se sentir mais viva do que a dança.

E então, no auge de sua performance, quando todos os olhos estavam fixos nela, algo mudou. O chão abaixo de seus pés, até então seu aliado, tornou-se seu inimigo. Em um salto, o mundo ao seu redor desacelerou. Ela sentiu um estalo seco, que reverberou pela sua perna como se o próprio osso tivesse se partido. O tempo parecia se esticar, e Elina teve uma fração de segundo para entender que algo estava terrivelmente errado antes de seu corpo colidir com o chão.

A dor foi instantânea e implacável, como se uma faca atravessasse sua perna. Ela tentou levantar, mas suas pernas cederam, e o chão, antes palco de seus sonhos, agora a segurava prisioneira. Lágrimas escorriam por seu rosto, não apenas pela dor física, mas pela compreensão repentina de que algo muito errado havia acontecido. A música parou abruptamente, como se o próprio teatro tivesse prendido a respiração, e a escuridão envolveu o palco quando as cortinas se fecharam apressadamente, escondendo a tragédia que acabara de se desenrolar.

Na plateia, seus pais passaram da euforia à angústia em um instante. O pai, que estava sorrindo de orelha a orelha, congelou. Seu orgulho se transformou em um medo esmagador, e ele se inclinou para a frente, tentando entender o que havia acontecido. A mãe, que antes chorava de alegria, agora segurava o peito, o sorriso desaparecendo de seu rosto enquanto a apreensão tomava conta de seu coração. Ela sussurrou o nome de Elina, como se a chamasse de volta da escuridão que agora ameaçava engoli-la.

O mundo de Elina, que antes girava em torno da dança, começou a desmoronar a partir daquele momento. O que deveria ter sido sua noite de glória, tornou-se o início de um pesadelo que ela jamais imaginara enfrentar. A promessa de uma carreira brilhante parecia se dissipar com cada batida de seu coração acelerado, deixando em seu lugar apenas a incerteza e o medo do que viria a seguir.