Capitulo I

12 1 1
                                    

Eu nunca pensei em como eu iria morrer, até então, meu objetivo era me manter vivo nas trincheiras, então imagine minha surpresa ao ouvir da boca do médico do hospital que eu tinha tuberculose. Eu tinha acabado de chegar em casa, a guerra havia acabado a pouco tempo, no máximo a quatro semanas, levei três semanas de viagem a navio a vapor para chegar em casa e quando pisei na ferrovia onde meus pais me esperavam com sorrisos saudosos e doloridos pela saudades, lagrimas rolando e o orgulho se misturando ao alívio, eu tive uma crise de tosse e desmaiei. Resultado? Internação por inalação excessiva de fumaça, poeira, cinzas.

Eu tinha notado com o passar dos anos a maior dificuldade para respirar, o peso no peito e como mau conseguia segurar minha arma e disparar sem sentir a pressão no peito. Sabe o resultado? Eu morri dois dias depois, por insuficiência respiratória. Tossi e engasguei até morrer.

Sim, eu morri..                                                                                                                        Triste né? Não, não foi não, ao menos para mim.

Está foi a história de como eu morri.. agora, vamos para a história do quanto eu vivi depois de morrer. 


O dia pouco se sabe, não era dia ou noite, chovia mas de luz só os trens se via.

 Abri meus olhos e me deparei com a visão de uma ferrovia, esperava algo mais gradioso mas não apenas chuva em um céu negro e trevoso. Paredes de tijolos vermelhos, velhos e rachados, metros de corredores para os dois lados. Em minha frente água escorria e do céu ventos assobiam. Sentado em um banco de madeira, o cheiro de esgoto era persistente assim como da lama que se acumulava da divisa entre as carroças de ferro fervente. Altos e imponentes, maquinários de aço bruto corriam e gritavam aos trilhos afogados pelas águas, pedras tintilavam e meus pés eles enxarcavam. 

Não era um ou dois ou muito menos três, era um campo de visão aberto com milhares de trens. Luzes amarelas iam e vinham, números, rodas e muito barulho assim o ambiente se preenchia. Não havia plantas, musgo ou muito menos mofo, era tudo seco e morto

Diante ao clima fúnebre eu percorri meus olhos diante a toda aquela catástrofe; seria este o tão maldito inferno dito por aqueles que me influenciam?  Como um efeito cataclísmico minha visão se escurecia e minha mente nevoava. Meu corpo não se mexia e eu não sentia a língua dizer uma só palavra. Confuso, eu inicialmente pensei que seria algo da minha cabeça porém eu realmente tentei falar, expressar uma simples expressão em minha face mas não consegui, ah imaginem meu desespero interno com tal situação, era uma tortura, uma tormenta mas ai ela chegou para mim e me tirou dali

– olá garotinho – eu ouvi uma voz feminina cantarolar em um soar divertido para mim, não consegui ver quem era, ansiava mas não conseguia mas apenas sentia o quente do brilho amarelado que tomou conta do ambiente em que eu estava sentado e se aproximando cada vez mais como se uma das luzes dos trens a vapor estivesse apontada para minha lateral esquerda e se aproximando cada vez mais. Minha espinha se arrepiou e eu esperava o pior, algo horrendo e feio, um monstro a vir me buscar mas tudo o que eu vi foi uma mancha quase do dobro da minha figura sentada 

A figura se ajoelhou em minha frente e meus olhos beberam de seus belos olhos cor de ouro. Eu esperava um demônio e encontrei um anjo. 

– Porque choras? Dói? Seu coração. Se sim então posso alivia-lo ou ao menos tentarei, doce mortal – Aquela voz aveludada me fazia sentir minhas bochechas esquentarem e meu coração assim como meu peito, antes tão calado, bater ruidosamente diante a tal figura. Um relâmpago ressoou nos seus e o trovão, o brilho iluminou a ferrovia mais uma vez e eu pude ver seu rosto redondo e expressão gentil, olhos apertados e ternos, um sorriso curioso e suave e tão calmo quanto uma manhã de primavera – Ouço seu peito bater, quase vivo, e doce em seu bombear de amor por minha imagem.. Eu não poderia me sentir mais honrada porém, não poderei retribuir isto a ti, doce mortal. Estou casada com a morte e com ela viverei por toda minha vida imortal. 

A Ferrovia MalfaierWhere stories live. Discover now