01 - Risos.

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   Celestia Campbell Roux não gostava de bagunça. Na verdade, Celestia desprezava o caos de qualquer tipo. Aos 14 anos, ela já tinha uma rotina perfeitamente orquestrada que fazia com que todos ao seu redor soubessem que ela era alguém com quem não se brincava. Séria e focada, Celestia se destacava em tudo o que fazia, tanto nos estudos quanto nas atividades extracurriculares. Na escola, seus professores a admiravam por sua responsabilidade e autocontrole, enquanto seus colegas a respeitavam, alguns até a temiam um pouco. Ela sempre estava no topo, tanto em comportamento quanto em resultados. Ser discreta e eficiente era sua maior qualidade — e ela gostava que fosse assim.

   Naquela manhã, Celestia acordou como de costume às seis horas. Preparou-se com rapidez, vestindo seu uniforme impecavelmente passado, organizou sua mochila e revisou mentalmente sua agenda do dia. Não era alguém que se envolvia em dramas escolares ou fofocas; preferia manter-se distante dos tumultos típicos da adolescência. Para ela, a vida na escola era uma questão de cumprir objetivos e evitar distrações.

   No entanto, por mais que gostasse de seu planejamento detalhado, havia algo que a incomodava. Não era algo simples, como um esquecimento de dever de casa ou um teste surpresa. Era ele. Kalian Stewart.

   Kalian, o garoto que havia chegado ao oitavo ano B há bastante meses, era a definição exata do caos que Celestia tanto evitava. Desde o primeiro dia, ele tinha um jeito irritante de estar sempre no centro das atenções. Suas piadas maldosas, suas travessuras constantes e sua capacidade incomparável de ignorar regras faziam dele uma presença difícil de ignorar. Pior ainda, ele parecia ter feito uma missão pessoal de irritar Celestia sempre que possível. Todos os dias, ele passava pela porta de sua sala, como se estivesse fazendo questão interromper sua tranquilidade.

   E hoje, ao entrar no corredor da escola, lá estava ele. Kalian, com seu andar despreocupado, passando pela porta da sala de aula de Celestia. Ele parecia estar observando tudo com aquele meio sorriso irritante, o que fez o estômago dela revirar. Ele não disse nada — quase nunca dizia. Bastava aquele olhar provocador para tirar Celestia do sério. E ele sabia disso.

   Celestia respirou fundo e desviou o olhar, ignorando-o como sempre tentava fazer. Contudo, no fundo, ela sentia o sangue subir às bochechas de raiva. Como alguém podia ser tão insuportável? Kalian não fazia nada de abertamente ofensivo, mas parecia ter descoberto exatamente como mexer com ela. E isso a deixava furiosa.

   O dia seguiu com as aulas normais: matemática, ciências, história. Celestia estava no topo de cada uma dessas matérias, respondendo com precisão e se destacando como sempre. Durante o intervalo, ela sentou-se com suas amigas, Mayra e Ellise, e conversou brevemente sobre os projetos de história. Elas sabiam que Celestia sempre tinha tudo sob controle, e em momentos como esse, até procuravam sua orientação para se organizarem melhor... No entanto, apesar da calmaria entre as amigas, algo a distraía: o fato de que Kalian Stewart ainda rondava seus pensamentos.

   Logo após o sinal tocar, marcando o início das atividades da tarde, Celestia e seu grupo seguiram para a aula de educação física. Nunca que seria sua aula favorita, mas ela sempre a encarava como uma obrigação. No entanto, o que ela não esperava era encontrar Kalian na quadra, já que ele normalmente tinha uma outra aula nesse horário. Ao ver o garoto ali, conversando com seus amigos e rindo como se o mundo fosse um grande jogo para ele, Celestia sentiu uma onda de irritação ainda maior.

   A aula de educação física naquele dia envolvia um jogo de vôlei entre as classes. Celestia tentava se concentrar no jogo, mas a cada vez que sua visão capturava Kalian de relance, algo nela se agitava. Ele estava, claro, no time oposto, jogando com sua habitual displicência, rindo a cada erro que cometia, como se nada no mundo pudesse incomodá-lo.

"Concentre-se, Celestia", disse a si mesma repetidamente. Mas então, no meio de uma jogada, uma bola que Kalian havia arremessado veio direto em sua direção com força. Instintivamente, ela deu um passo para trás, mas perdeu o equilíbrio e caiu no chão. O impacto não foi forte o suficiente para machucá-la, mas o constrangimento a atingiu em cheio.

   Kalian, do outro lado da quadra, riu alto, junto com alguns outros garotos. Aquilo foi a gota d'água. Celestia sentiu sua paciência se esgotar completamente. Ela se levantou rapidamente, os olhos faiscando em direção a ele.

— Você pode pelo menos tentar levar algo a sério por cinco minutos? — gritou ela, surpreendendo até a si mesma com a intensidade da raiva em sua voz.

Kalian parou de rir e, pela primeira vez desde que o conhecia, Celestia viu algo em seu olhar que parecia... surpreendido. Ele não respondeu de imediato, apenas deu de ombros como se aquilo não o afetasse de verdade. Mas seus olhos diziam outra coisa.

— Calma aí, princesa. Não foi de propósito — disse ele, com seu tom brincalhão, mas havia uma sombra de desconforto em suas palavras.

Celestia bufou e virou-se, afastando-se dele e retomando sua posição na quadra. Ela passou o restante da aula evitando qualquer outro contato visual com Kalian, tentando se concentrar no jogo e ignorar o calor persistente da irritação que sentia. Quando o sinal finalmente tocou, marcando o fim da aula, ela saiu da quadra rapidamente, sem sequer olhar para trás.

Por mais que tentasse seguir em frente, Celestia não conseguia tirar aquele momento da cabeça. Por que Kalian a incomodava tanto? Era só um garoto bobo e infantil, que gostava de ser o centro das atenções. Mas algo nele a tirava do sério de uma forma que ela não conseguia explicar. Talvez fosse o fato de que ele parecia desafiar tudo o que ela valorizava: ordem, controle, disciplina. Ou talvez fosse algo mais profundo, algo que ela ainda não conseguia identificar.

   O restante da tarde passou em um borrão. Celestia fez seus deveres, organizou seus materiais para o dia seguinte e, como sempre, revisou suas anotações antes de dormir. Mas naquela noite, enquanto deitava a cabeça no travesseiro, seus pensamentos ainda estavam presos no mesmo lugar: no olhar surpreendido de Kalian Stewart e no som de sua risada. Um garoto insuportável, sem dúvida. Mas, de alguma forma, ele começava a ocupar mais espaço em sua mente do que ela gostaria.

   Ao adormecer, Celestia jurou a si mesma que iria manter a distância dele a partir de agora. Mas, no fundo, sabia que não seria tão simples. Algo estava começando a mudar. E, por mais que detestasse admitir, ela sentia que aquele era apenas o começo de uma longa batalha — não apenas com Kalian, mas consigo mesma.

Sorriso do Caos.Onde histórias criam vida. Descubra agora