#1° Missão

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  O sol tentava brilhar através das nuvens escuras no céu desta manhã. Três dias se passaram desde aquele dia. Desde a palestra que me trouxe aqui hoje.
Domingo, 7:30 da manhã. Sozinho dentro de um ônibus. É bom trabalhar no domingo. Posso pegar ônibus vazios, como o que estou pegando hoje, então não preciso me preocupar em usar a máscara de lebre em público. Apenas uma simples máscara higiênica na minha boca funciona. Não vai demorar muito até onde eu tenho que ir.
Com o elástico de cabelo no meu pulso ao lado do relógio, prendo meu cabelo em um coque e coloco o capuz. Por questões de segurança e para manter minha identidade, devo sempre manter meu cabelo preso e dentro do capuz para não revelar sua cor ou largura.

Poucos minutos depois, o ônibus para no ponto desejado. Desço e sento nos bancos do ponto de ônibus. 15 minutos antes. Melhor do que chegar atrasado. Mas por que eles pediram aquela hora específica? Não que eu tenha algo a ver com isso de qualquer forma. Se me querem aqui, eu faço o que eles desejam. Mas esta é uma curiosidade que toma conta de meu cérebro de uma forma quase incontrolável.
Faltam 4 minutos para as 8 horas. Sou tirado dos meus pensamentos quando um grande carro branco, como uma caminhonete, sai da floresta. Anoto rapidamente o número da placa. Pode ser algo importante, devido ao fato de que poucas pessoas têm acesso àquela área. Espero mais alguns minutos para ter certeza de que não haveria mais alguem saindo de lá. Um silêncio total. Mas enquanto esperava, noto que há uma câmera de segurança na entrada daquela estrada de terra. De dentro do casaco tiro minha máscara. Finalmente é hora de agir.

Pulo por cima do, não tão alto, muro ao lado da entrada, mas não muito perto para a câmera não me ver.
Já dentro do território desejado, ando um pouco agachado. Caso uma câmera me vir dentro das florestas, provavelmente me confundirá com algum tipo de animal.
Depois da primeira curva, não parece haver mais sinais de câmeras, então tomo a liberdade de voltar pela trilha de terra. Continuo caminhando, prestando atenção a cada pequeno detalhe. Meu trabalho tem boas avaliações devido à quantidade de detalhes e informações que forneço.
Esta floresta definitivamente não tem um nome tão sombrio à toa. O ser que vive aqui dentro deve ter um coração de aço ou é simplesmente insensível demais para se importar com os sapatos que as pessoas deixaram aqui para mostrar que desistiram, cordas penduradas e muitas outras coisas. Definitivamente é algo traumatizante de se ver, mas neste mundo onde qualquer lugar pode se tornar um campo de batalha destrutível, mesmo com pessoas morando por perto, certas coisas começam a parecer um pouco normais.
O caminho parece estar chegando ao fim após cerca de 20 minutos de caminhada intensa. Agora parece mais óbvio por que ter um carro como esse. Claro que se alguém para a pessoa e pergunta por que ela estava dentro da floresta sem permissão, ela não teria para onde correr. Mas como era um lugar isolado, ninguém viria verificar. Certo?
Um barulho vindo de dentro da floresta me faz sair do meu transe. Ou já estou paranoico com as coisas que vi ou estou realmente sendo observado. A essa altura, prefiro acreditar que estou ficando louco e que isso é um sinal de que devo ter mais cuidado. Entro no mato, do lado oposto ao que ouvi o barulho, e caminho agachado novamente.
E logo à frente estava a casa. Uma casa tradicional japonesa, feita principalmente de madeira e bambu. Apesar disso, a casa tinha um grande portão feito de um material semelhante a um espelho. Havia outra câmera virada de frente para a porta. Quem pensou nisso certamente era um gênio. Qualquer um que se aproximasse da casa seria visto pela câmera, que vigiaria tanto o portão quanto quem passasse pela rua de terra que eles criaram.
Aparentemente não há proteção atrás da casa, pois árvores e folhas acumuladas cobrem a parte de trás e as laterais dela.
Em momentos como esses, sou grato por pensar em coisas assim e decidir usar uma máscara de coelho com um sobretudo camuflado. Caminho com cuidado pelas laterais, passando por entre as inúmeras folhas das árvores ali presentes, conseguindo chegar atrás da casa com muita dificuldade. Nunca fui de admitir nada, mas quando eu era mais jovem comecei a fazer parkour como um dos meus hobbies, e hoje em dia trabalho com isso. Duas árvores posicionadas paralelamente uma à outra são uma maneira rápida de subir até o telhado da casa. Um telhado básico, praticamente coberto por folhas e...
- Era óbvio que você viria conferir o que estou fazendo.
- O quêê? Claro que não. Quem iria suspeitar de um novato que se diz imparcial?
O mesmo cabelo branco, agora preso em um rabo de cavalo. Os mesmos olhos pretos, redondos e intimidadores. As mesmas bochechas com sardas e uma cicatriz sob o olho. O garoto de três dias atrás, bem aqui, para verificar se eu não estava sabotando-o. A presença dele não é irritante, é só estranho estar trabalhando com outra pessoa assistindo.
- Você tem um ponto até que bom...
Continuo meu trabalho, inspecionando para procurar uma entrada no telhado. E realmente tinha uma entrada. Aparentemente uma passagem do sótão da casa para o telhado. De dentro da minha pasta, tiro pequenas ferramentas para abrir a fechadura sem danificá-la. Enquanto fazia isso, pude sentir os olhos de Catharsis sob mim. De certa forma, isso me deixou bastante nervoso, mas, mais uma vez, tenho que provar que sou eficiente o suficiente.
- Você vai ficar me encarando..?
- É uma bela visão... - Ele diz brincando.
Ignore o que eu pensei antes. A presença dele nessa situação é terrível. Eu suspiro e ele dá uma risada nasal para minha reação.

Alguns minutos se passaram antes que eu pudesse abrir a fechadura, mas o que importa é que ela estava aberta agora. Coloco minha cabeça para dentro do sotão para checar a área. Nenhuma câmera. Olho para o outro garoto e faço sinal para ele ficar. Ele não pareceu gostar da ideia, muito menos de ter recebido ordens de um "novato" como eu, mas simplesmente concordou.
Agora eu estava completamente no sótão da casa, olhando ao redor para encontrar informações. No canto da sala há uma caixa de papelão com algumas coisas jogadas, como se tivessem sido deixadas para serem esquecidas. Aproximo-me com cuidado e tiro um pacote de luvas do bolso interno do sobretudo. Eu visto um par e começo a vasculhar a caixa. Dentro tem um livro sem título, fotos antigas, joias femininas e até roupas.

As fotos, que estavam em sua maioria amassadas, continham o rosto de uma mulher. Algumas eram dela sozinha, outras eram dela e de seu parceiro. O homem tinha um semblante mais familiar. Percebendo isso, pego uma das fotos que eram uma cópia de outra e a guardei comigo.
O livro de capa preta, que a princípio não se parecia nada, escondia muito mais informações do que eu pensava. Era um diário compartilhado do casal.
"Em memória do amor de Aikyo Watanabe e Masoto Watanabe"
A leitura era complicada, devido às letras tortas e mal escritas, mas muito interessante. O casal se conheceu já adultos, numa época em que aparentemente os dois não estavam muito bem na vida. O diário menciona que o homem estava sendo procurado, mas não por quem especificamente, e que a mulher estava endividada e sem ter para onde ir. Ambos fugiram para Musutafu e começaram uma nova vida. As próximas páginas foram apenas boas lembranças, amor aqui, amor ali, até que as páginas com canetas coloridas, desenhos fofos e outras coisas se tornem páginas em branco do nada. Continuo folheando e nada. Absolutamente nada. Mas a última página não estava em branco.
"Masoto. Não posso mais ficar. Você não está fazendo o que é bom para a humanidade. Aquilo que você faz não é justiça. É apenas matar para seu próprio prazer. Você quase estava preso quando te conheci por ir contra o que as autoridades lhe pediram como herói. Você acabou de se tornar um assassino. Sinto muito, querido. Mas eu não quero me envolver."
Isso foi definitivamente algo útil. Eu tiro uma foto e coloco tudo onde encontrei.
Para terminar, fui inspecionar o resto da casa para poder finalmente acabar com o serviço de hoje. Minutos depois volto para o telhado com meu caderno em mãos e a planta da casa desenhada nas folhas.

- Por que demorou tanto?! Eu 'tô como todas as árvores por aqui. Plantado.
- Para um trabalho bem feito, levo o tempo que preciso. Não é minha culpa que você veio aqui comigo.
Fecho o caderno e o coloco de volta na pasta, fazendo o mesmo com as luvas que estava usando. Fecho a pequena entrada no telhado e tranco-a novamente enquanto Catharsis volta a me encarar.
- Certo. Vamos sair daqui antes que alguém chegue em casa mais cedo.
- Quem é você para dizer o que eu tenho que fazer?
- Ninguém, na verdade. Só estou dando uma sugestão gentil de colega. - digo em um tom irônico.
- Se eu soubesse que você seria tão irritante, eu teria pedido para não vir.
- Catharsis... Eu fiquei quieto a maior parte do tempo apenas fazendo meu tra-
- Ir-ri-tan-te. - Ele diz num tom infantil, claramente zombando de mim.
Eu me levanto e ofereço minha mão para o outro não ficar para trás. Ele então se levanta sem minha ajuda e sai caminhando na frente, no mesmo caminho que viemos. Fiz questão de acelerar o passo, sem fazer muito barulho e evitando ser visto pela câmera.

Não vou mentir. Algo nele me chama a atenção. Talvez seja meu primeiro contato com um vilão de verdade. Ele é mais palhaço e faz piadas, mas também sabe levar as coisas muito a sério. Ele parece, em geral, tudo diferente do que eu normalmente vejo. Uma pessoa diferente.
Caminhamos de volta para o ponto de ônibus. O local de partida.
- Me surpreende que você tenha realmente entrado na "floresta do suicídio", coelinho. Pensei que você ficaria assustado e fugiria.
Olho nos olhos dele com uma cara de cu que não poderia ser vista através da máscara de qualquer jeito. É melhor eu ficar quieto.
- Agora eu sei até onde você pode ir. Só teremos que esperar para ter certeza de que suas informações são boas o suficiente.
- Você não ficará desapontado.
Ele para de falar um pouco, mas alguns segundos depois pergunta:
- Você vai esperar o ônibus?
Faço que "sim" com a cabeça.
- Então acho que é minha hora de ir. Adeus.
Ele acena e vai embora, deixando-me sozinho no ponto de ônibus. Depois de ter certeza absoluta de que ele não está por perto, tiro a máscara, guardo-a e solto meus cabelos novamente.

Apenas um amor de contos de fadaOnde histórias criam vida. Descubra agora