Entrega.

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  [06:00] no relógio.
Esta foi a pior noite de toda a minha vida. Mal consegui dormir pois acordava de 10 em 10 minutos na madrugada, pensando em como seria meu dia.
Sim. Finalmente seria o dia em que eu entregaria todas as informações coletadas para a Liga dos Vilões. Foi detalhado o suficiente? Era isso que eles queriam? Eu conheceria outra pessoa ou seria o mesmo cara da última vez? Eu não reclamaria se fosse. Pelo menos eu já o conheço um pouco, então não seria tão assustador. Não que eu tenha medo de qualquer forma. Mas imagine se eu conhecesse os outros? Não vou negar. Eu pesquisei nos sites mais profundos da internet para descobrir sobre eles. Quando recebi a oferta de emprego, obviamente queria saber com quem estava trabalhando. Eles fizeram uma boa jogada ao me enviar seu membro menos conhecido. Mas e se for um dos outros? Isso era algo que eu só saberia indo.
  Só irei ao local da reunião às nove horas. Considerando minha noite de sono, acho que mereço um descanso de trinta minutos, certo? Deito-me novamente na cama confortável, já sentindo os colchões me envolvendo.  O conforto e o calor dos cobertores me levam quase instantaneamente para outro mundo, onde meu corpo flutua suavemente pelo grande e vasto espaço vazio. Não há nada ao redor. Apenas uma escuridão enorme. Minha cabeça para de doer e meus músculos relaxam, como se a exaustão tivesse me desligado completamente. Relaxo por mais alguns segundos antes de sentir que estou sendo puxado para baixo. Eu me esforço para não me deixar levar enquanto ouço um som ensurdecedor que fica mais alto a cada segundo.
* Bip bip bip bip *
O chão. Meu corpo está se aproximando do chão.
* Bip Bip Bip Bip *
Estou caindo e essa porra de som não para.
* BIP BIP BIP BIP *
E eu estava de volta à minha cama. De volta aos cobertores quentes e confortáveis.

Agora são 7:30 da manhã.
Como consegui dormir assim? Não passou nem um minuto. Como eu dormi tanto? Não importa o que aconteceu neste momento. Eu deveria começar a me preparar para ir embora agora. Às vezes, o ônibus demora para chegar e, se eu chegar atrasado para a entrega dos documentos, será terrível.
  Saio da cama num piscar de olhos e vou até meu armário. Dentro dele, há uma caixa escondida com meu sobretudo e minha máscara de lebre. Não demoro muito para me arrumar, visto uma calça e uma regata preta, meu sobretudo e prendo meu cabelo em um coque baixo. Por enquanto, estou usando apenas uma máscara de higiene para, pelo menos, cobrir metade do meu rosto. Decido sair pela porta dos fundos, já que a rua atrás tem menos gente.

  Não demorou muito para o ônibus chegar dessa vez. Sorte minha. Mas eu deveria ter mais cuidado da próxima vez.
Desço uma parada antes, troco minha máscara para a de lebre e caminho até o local. Mesmo número de pessoas de um mês atrás, e é um número muito baixo. Chego ao local e realmente não parece haver ninguém ali. Olho para o meu relógio e me encosto na parede, que parece ter sido mais uma vez vítima de pichação.
Enquanto me encosto na parede, ouço uma risadinha infantil vinda do topo do telhado, junto com alguns ruídos de passos vindos do mesmo lugar. Os passos param, seguidos por um longo momento de puro silêncio. Após o momento de silêncio, ouço a voz de uma criança pequena vindo do mesmo lugar.
"Mamãe, o coelhinho da Páscoa 'tá aqui!!"
Confusão e curiosidade tomam conta de mim. Um sorriso se forma no meu rosto coberto pela máscara. Me solto a parede e dou um passo para trás, tentando olhar por cima do telhado.
— ...Você está no telhado de novo..?
Vejo o mesmo homem mascarado de cabelos brancos da última vez sentado no telhado sem ser incomodado, agindo como se não tivesse nada a ver com aquilo.
— Seu filho da puta...
Ele ri com a mesma voz infantil, ajustando os botões da máscara para que sua voz saia normal quando descer do telhado.
— Ei, bunny boy. Como vai?
Eu evito a pergunta dele fazendo outra que me interessa mais.
— Por que você continua me chamando assim?
— Uh, porque eu posso? E não evite minhas perguntas.
— Por que eu deveria responder? - Ele cruza os braços e se aproxima um pouco mais
— Porque eu te fiz uma pergunta? Seus pais não te ensinaram boas maneiras?
— Eu não acho que eles tiveram tempo suficiente para me ensinar isso.
— Tinha? Ah não, coelhinha, isso deve ser tão teeeeeerrável..
Ele ri provocativamente, respondendo-me de uma forma completamente irônica. Que dramático.
Eu rio fracamente com o outro. Eu deveria ter esperado algo assim dele. Não me incomoda, especialmente porque fui o primeiro a fazer a piada.
— Então, sobre a informação... Espere, 'cê 'tá ouvindo? – Um som alto de sirene parece estar se aproximando, passando pelas ruas perto de onde eles estavam. Olho preocupado para Catharsis. Meu primeiro dia trabalhando pra liga seria assim? Acabaria comigo sendo preso logo de cara?
Os olhos de Catarse se arregalam com o barulho, abaixando-se enquanto me puxa para baixo com ele.
— Cuidado, porra-
O som estava se aproximando, como se soubesse onde estávamos. Era perturbador e assustador. Como? Num piscar de olhos o som parece parar. O menor fica em choque, confuso sobre o que era aquele som e como ele parou tão de repente. Incapaz de esconder por mais tempo, soltei uma risada incontrolável, como se o motivo fosse muito óbvio.
— De que caralhos você está rindo, idiota?!
— Você realmente acreditou nisso? Eu também sei jogar, baixinho.
Ele se levanta, me deixando tentando me recompor no chão.
— Primeiro de tudo, nunca mais me chame de "baixinho". Segundo, como diabos você fez isso?
Levanto-me, ainda sorrindo como um idiota e me sentindo fraco. Fazia anos que não me divertia tanto.
— Acho que você tem que aprender mais sobre mim para obter essa resposta. Mas, pelo que me lembro, estamos aqui por causa do trabalho, não é?
Minha respiração ainda está desregulada por causa das risadas, então falo devagar.
— Hm. Sim, claro.
Ele revira os olhos, incomodado. De dentro do meu casaco, tiro um envelope com folhas e fotos. Todas as informações encontradas estavam lá e escritas da forma mais clara e com o máximo de detalhes. Eu as entrego à Catharsis. Ele abre o envelope, olhando para ele. Acho que ele está tentando analisar, porém rápido.
— Isso são... Muitos detalhes.
— Bem. Esse é meu trabalho, então tenho que fazê-lo corretamente.
— Acho que sim, não esperava que você realmente fizesse um trabalho razoavelmente bom.
Ele fecha o envelope, colocando-o debaixo do braço. Isso era algo que realmente me incomodava, e era aparente. Meu trabalho sempre teve que ser feito perfeitamente. Não é de se espantar que meu trabalho seja recomendado às pessoas.
— Hm. Bem, acho que os detalhes dessa merda realmente ajudaram você a manter uma primeira impressão melhor que você já teria perdido, já que você parece ser um pouco... Hm, como posso dizer?
Catharsis olha para cima por um tempo, como se estivesse procurando a palavra certa.
— Ah, algum tipo de "brincalhão" idiota, isso mesmo.
Ele olha de volta diretamente para mim, ainda irritado com a brincadeira que fiz com ele.
— Eu apenas retribuo da mesma forma que você, senhor. Só uma piada boba para quebrar o gelo. Sinto muito se você não gostou. Pensei que você fosse menos medroso.
Vejo suas sobrancelhas se erguerem levemente enquanto eu zombo dele.
— Com medo, é? Você está dizendo que não ficaria preocupado com a possibilidade de alguém estúpido como aqueles policiais arruinarem seus planos?
— Você viu alguma luz? Notou algum movimento vindo das ruas? Pensei que você notaria isso. Mas acho que não.
— É melhor ter cuidado do que ser pego, coelhinho... Você aprenderá isso em alguns anos.
— Então você está dizendo que eu fiz um bom trabalho e vocês vão precisar do meu trabalho de novo? Que maneira legal de dizer isso para mim, pitico!
Eu rio e atuo, vendo até onde o garoto de cabelo branco pode ir com esse argumento. Esse cara definitivamente tem uma atitude muito chamativa e interessante. Alguém que, com apenas um pouco de diálogo, você já pode saber muito sobre sua personalidade. Muito expressivo e sério quando necessário. Isso definitivamente chamou minha atenção...
— Se você se comportar corretamente e não como um idiota que acha que vai se safar de qualquer coisa, poderemos considerar pedir seu trabalho novamente.
— Diz quem literalmente estava usando uma voz infantil antes... – Eu sussurro para mim mesmo – Mas claro, senhor.
— Bom. Então, mais alguma coisa que você gostaria de compartilhar ou perguntar? Tenho certeza de que você ouviu sobre o que aconteceu naquela fábrica abandonada em Musutafu...
Ele diz a última parte em voz baixa, como se estivesse se gabando disso. Isso me pegou desprevenido. A voz dele faz meu corpo tremer um pouco, mas eu não podia demonstrar, senão eu seria a presa aqui.
— Ah sim! Aquele que você foi pego por uma câmera?
Ele estreita os olhos, sem ter a resposta que esperava.
— ...Sim, precisamente.
— Mas me conte mais sobre isso. Por que vocês fizeram isso com os residentes?
— Ah, agora você está interessado?
— Fiquei interessado desde que li as notícias, sabe? Mas eu sou o alguém quem tem a chance de perguntar sobre isso para você.
— Então você estava ansioso para me encontrar de novo, certo? Que fofo..
Ele sorri, brincando, agindo lisonjeado. Eu não tinha saída e nenhuma resposta para sua piada. Fico em silêncio por um tempo antes de finalmente voltar a falar.
— Só conte o que aconteceu. Vocês mataram aqueles estudantes só por diversão?
— Assim... Também, mas acho que você não entenderia de verdade.
— Não saberei até você me dizer. E quem sou eu para dizer minha opinião aqui?
— Justo... Mas deixe-me perguntar uma coisa primeiro.
Ele cruza os braços novamente, inclinando a cabeça ligeiramente para o lado.
— Por que você acha que heróis matam vilões?
Ele usa aquela voz novamente. Suas palavras se repetem em minha mente de novo e de novo enquanto penso em uma maneira de responder. Tento não demonstrar, mas eu claramente estava distraído por sua voz.
— Para reduzir a taxa de criminalidade. Mas na lei, matar em geral é um crime que nem mesmo os heróis respeitam.
— Certo... E por que os vilões matariam apenas por pura diversão e despeito se eles pudessem ter uma razão como a que os heróis têm? Você não parece muito imparcial aí.
  Seus olhos se estreitam, de uma forma que não tenho certeza se ele está brincando ou realmente achando que sou suspeito.
— Você está realmente tentando encontrar uma maneira de me incriminar, não é? Eu só queria saber se os residentes fizeram algo específico. Mas sua resposta é justa.
— Eles estão tentando se tornar heróis. Demos o mesmo destino que teriam futuramente. É basicamente tudo o que fizemos.
  Ele se move um pouco mais perto para que eu possa ouvi-lo, já que ele ainda está falando um pouco baixo. Por reflexo, dou um passo para trás. A essa altura, só estou fazendo com que ele fique ainda mais desconfiado de mim ao perguntar e falar tanto.
— Uau, não precisa fugir, coelhinho! Eu não mordo.
  Ele estala a língua, rindo levemente.
— Bem, não com minha máscara, pelo menos...
— Eu. O quê...? Eu não estava fugindo.
 Eu me recomponho e coloco a mão na cintura mais uma vez.
— E você já não deveria estar indo embora? Estou começando a pensar que você é quem queria passar um tempo comigo.
— Não tenho nada nem ninguém melhor para fazer. Não, espera, isso parece... Não é bem assim.
— Não sei se estou me sentindo honrado ou não..
— E você? Nenhum plano com os heróis ou algo assim?
— Por que eu teria...? Eu só quero descansar agora.
— Meu plano era te entregar os papéis e ir para casa, mas uma conversa começou e, não vou mentir, ficou um pouco interessante.
— Hum. Se você diz.
— Mas não vou negar. Eu realmente deveria ter ido embora há muito tempo. Foi divertido falar com você, pitico.
  Eu me viro para finalmente ir embora.
— Você nem é tão alto assim, caralho!
Ele choraminga de uma forma engraçada, revirando os olhos enquanto eu rio e começo a me afastar do lugar.

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⏰ Última atualização: Sep 24 ⏰

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