Capítulo 2

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Charlotte

Embora não confie plenamente nesse indivíduo, aceitei a proposta de trabalho. Caso ele não honre o contrato, enfrentarei as consequências junto a todos.

Estou designada a acompanhá-lo em uma missão, cooperando com uma equipe da sua escolha. Para ser franca, isso é o suficiente para mim. Contudo, sinto que ele também nutre desconfiança em relação a mim.

Quatro humanos e um zumbi domesticado.

Criar mortos-vivos já não era suficiente. Agora, até mesmo os zumbis são treinados. O que as pessoas estão pensando?

Mas isso não é uma preocupação minha. Cumprirei a missão e, ao final, desaparecerei.

Deixo-os na sala, retorno ao meu quarto, abro a porta do guarda-roupa e deparo-me com uma grande caixa. Coloco-a sobre a cama e a abro.

Em seguida, retiro o uniforme, visto a vestimenta, coloco o equipamento de proteção no braço, pego a máscara, saio da sala e encontro o zumbi.

"Que susto, droga," - digo, e ele me observa. - "Aceitei a missão, então não fugirei, e você não precisa ficar me vigiando," - continuo, e ele toca em um dispositivo em seu braço, e uma voz ressoa.

"Devo protegê-la para completar a missão."

"Legal." - Penso. -  "Ele se comunica por um aparelho de voz," - observo. - "O que poderia ser tão perigoso dentro da minha própria casa que exige sua proteção?"

"Grrr..."

"Ainda não aprendi a linguagem zumbi," - comento. Começo a andar, vou até a porta, abro-a, acendo a luz e vejo algumas caixas. Ele retira uma delas da minha mão.-  "Ei," - reclamo, mas ele ignora e avança. Alguns segundos depois, estamos na sala.

"O que tem na caixa?" - pergunta a mulher, e o zumbi a coloca no chão. Então, abro a caixa, tiro um uniforme e o atiro na direção da mulher. - "O que é isso?"

"Proteção contra mordidas de zumbis. Eu não sou babá de ninguém, então vocês usarão um uniforme com armadura," - explico. Ela atende e retira o outro uniforme. -  "Vamos, vocês três," - digo, e três pessoas se aproximam, levando seus uniformes.

"Ficou um pouco apertado," - a mulher comenta após vestir o uniforme. - "O que essa roupa faz?" - pergunta. Aproximo-me dela, agarro seu braço com força, cravo minhas unhas, e vários espinhos perfuram minha mão. - "Que incrível," - ela diz, e eu solto seu braço. -  "Sua mão está bem?"

"Ficará," - respondo, observando minha mão enquanto as feridas cicatrizam. - "Com essa roupa, vocês terão mais chance de sobreviver."

"Por que o exército não possui esse uniforme?" - pergunta Spider, e dirijo meu olhar a ele. Ele já está vestido.

"A pessoa que desenvolveu essa tecnologia foi caçada e morta. Portanto, por que seu exército deveria ter o que foi deixado para mim?" - questiono. A raiva tenta me dominar, mas mantenho o controle. - "Então, agradeçam por estarem usando os uniformes dos meus amigos falecidos."

"Você fala como se tivéssemos culpa pela tragédia que aconteceu com eles. Mas lembre-se, foram vocês que iniciaram o apocalipse," - diz o homem. Aproximo-me dele, mas o zumbi se coloca à frente.

"Meus amigos foram mortos pelo seu exército e, para piorar, jogaram a culpa em nós," - explico. - "Não é bem assim, humano. Quem começou o apocalipse foram seus líderes. Eles desejavam um exército indestrutível, mas a situação saiu do controle e criaram monstros," - concluo. O homem pergunta se posso fazer isso pela minha liberdade. - "Estou fazendo isso pela minha liberdade," - respondo.

"Cada um terá um tablet com o mapa da cidade e a planta do prédio onde estão os adolescentes, e se possível, evitem os zumbis S."

"Zumbis S?"

"São os guardiões da terra dos mortos. Inteligentes e mortais."

"Vamos sair do paraíso para ir ao inferno," - diz a mulher ao sentar no sofá. - "Faz tempo que não me divirto," - ela afirma, e os três homens riem.

"Depois que Zumbee se alimentar, vocês partirão," - o senhor afirma e sai. Spider abre a mochila e tira um objeto redondo, jogando-o no chão, e o zumbi o consome.

"Você nunca viu um zumbi racional?" - pergunta a mulher. Olho para ela e me sento no sofá.

"Nunca pensei em perguntar. Quando os via, matava todos," - respondo. Ela ri, e vejo Spider colocar algo na máscara, que o zumbi remove.

"Lindo, né?" - comenta sobre o zumbi. Não respondo. - "As barras que ele consome são ricas em proteínas, assim, sua pele não se deteriora e nem emite odores desagradáveis."

"Qual é a relação entre os dois?"

"São irmãos. Zumbee foi mordido ao salvar o irmão mais velho, mas, ao se transformar, não atacou ninguém e ainda manteve sua racionalidade. Spider o levou para a base, e os cientistas do exército desenvolveram as barras de cereais para saciar a fome por carne humana."

"Se ele pode se controlar, por que usa a máscara?"

"Ele é um zumbi," - responde, e vejo o zumbi comendo a barra. Nossos olhares se cruzam, e desvio o olhar. "Mas confesso que esse zumbi é bastante atraente," - diz a mulher, olhando para ele. - "Será que sobe?"

"O quê?" - pergunto. Ela abre um sorriso malicioso.-  "Meu Deus, mulher," digo, e ela ri. - "Isso foi desnecessário."

"Você não tem curiosidade em saber se o zumbi fica excitado?"

"O que mudaria na minha vida se soubesse que ele fica empolgado?" - pergunto. Ela solta uma gargalhada, chamando a atenção de todos na sala. - "E outra, os zumbis possuem uma audição incrível, e tenho certeza de que ele ouviu essa conversa insensata," - digo, e ela fica rubra.

"Eita, porra," - diz, envergonhada. Volto a olhar para o zumbi e vejo que ele terminou de comer. Então, me levanto do sofá.

"Deixem as brincadeiras de lado e foquem na missão," - digo, e ela apenas concorda com a cabeça.

"Zumbee precisará de um uniforme assim," - Spider comenta ao se aproximar.

"Por que, se ele já está morto?" - pergunto, cruzando os braços, e o homem fica paralisado. - "De qualquer forma, não há mais uniformes disponíveis."

"Tem esse aqui," - um dos gêmeos diz ao pegar um saco da caixa, e reconheço ser o uniforme daquele que sacrificou a vida por mim.

"Ele não pode usar isso."

"Por quê?" - pergunta Spider, pegando o saco da mão do homem e abrindo-o. - "É do tamanho do meu irmão," - ele diz, jogando-o na direção do zumbi, e eu continuo observando. - "Quem usou já morreu. Então não faz diferença," - ele insiste, e minha raiva aumenta, cerrando meus punhos.

"Já terminaram?" - pergunta o homem ao entrar, mas ignoro e continuo observando o zumbi vestindo o uniforme.

"Sim, senhor," - respondem os três em uníssono.

"Um helicóptero os aguarda," - diz, e eu olho para o zumbi. - "Capitã Charlotte?"

"O quê?" - pergunto, encarando-o.

"Zumbee não é uma ameaça, então pare de olhar para ele como se quisesse matá-lo."

"Entendido, senhor."

Love And Zombies (Disponível no Kindle)Onde histórias criam vida. Descubra agora