Capítulo 8

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ERIC LEHMANN

O crepitar suave do fogo na lareira da biblioteca oferecia um calor reconfortante, dissipando a brisa fria que adentrava pelas frestas das janelas mal vedadas da mansão. Eu estava sentado à minha escrivaninha de carvalho escurecido, observando a vasta extensão de papéis que se amontoavam diante de mim.

Eram questões que se amarravam como uma teia, intricadas e complexas, todas relacionadas às terras de Haia. Meu pai, ausente dos assuntos há algum tempo, delegara a mim o fardo de mantê-las sob controle. Era um encargo que eu cumpria com zelo, ainda que o peso do dever me afastasse de qualquer outra distração. 

A pena mergulhava e deslizava sobre o pergaminho, minhas anotações eram precisas, detalhadas, cada decisão tomada com o mais profundo cuidado, quando, de repente, senti uma presença familiar. 

— Tens o peso do mundo sobre teus ombros, irmão? — a voz jocosa de Edmund ecoou pela sala, enquanto ele fechava a porta com um leve rangido e se deixava cair numa das poltronas próximas à lareira. 

Suspirei internamente. Edmund, meu irmão mais novo, sempre fora uma alma leve, brincalhona e, por vezes, impetuosa. E, naquele momento, parecia determinado a desviar minha atenção das incumbências que me mantinham tão absorto. 

— Que queres, Edmund? Não vês que estou ocupado? — murmurei, sem levantar os olhos do papel à minha frente. 

— Ocupado demais para teu irmão? — disse ele, fingindo um pesar exagerado. — Ora, Eric, parece-me que há algo mais interessante acontecendo contigo ultimamente. 

Continuei a escrever, ignorando suas provocações, mas ele prosseguiu. 

— Certamente, não são as terras de Haia que despertam tamanha devoção tua. — Ele fez uma pausa e, como quem lançava a isca, acrescentou: — Talvez seja algo ou alguém... ou uma certa princesa? 

Minha mão parou, a pena quase se partindo entre meus dedos. Levantei os olhos e o fitei, percebendo o brilho de curiosidade em seus olhos. Ele finalmente havia conseguido o que queria: minha atenção. 

— O que insinuas, Edmund? — repliquei, cruzando os braços sobre a mesa. 

Edmund deu um sorriso largo, como um caçador que finalmente avista sua presa. 

— Ah, então finalmente o consegui! — exclamou, inclinando-se para frente. — Nunca mencionaste a princesa Brianna antes. E agora, de repente, há rumores. Dizem que fostes visto no jardim com ela, no primeiro baile da temporada. E, claro, muitos se perguntam... o que houve entre vós dois naquela noite? 

Tentei desviar a conversa. Não havia nada a ganhar com aquele interrogatório. 

— Eu deveria perguntar-te sobre Lady Dafne, visto que é com ela que tens um compromisso firmado. — disse, tentando inverter o jogo. — Contas-me sobre o teu noivado, então? 

— Ah, Lady Dafne... uma moça adorável, sem dúvida — Edmund disse com um aceno despreocupado. — Mas não desviemos do assunto, irmão. O que aconteceu no jardim? Não me digas que apenas falastes de amenidades. Há algo mais, e sabes que eu não descansarei até descobrir o que é. 

Edmund sempre fora perspicaz e determinado, especialmente quando se tratava de intrigas familiares. Não poderia fugir dele para sempre. Percebendo que ele não cederia, respirei fundo e, num momento de rara franqueza, decidi contar-lhe o que se passara. 

— Se queres tanto saber, Edmund, então o saberás. Foi Brianna quem me propôs o casamento naquela noite. E sim, aceitei. Fui até o rei logo em seguida, pedi sua permissão, e a obtive. 

Desejo Imprudente - As Baumann 02Onde histórias criam vida. Descubra agora