Entre Silêncios e Descobertas!

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Não sei por que eu ainda me deixo arrastar para essas festas. As risadas, as luzes, o movimento exagerado das bocas ao redor - tudo isso deveria me incomodar menos com o tempo, mas parece que a sensação de estar sempre à margem do que acontece só cresce, vejo as bocas se movendo, mas as palavras nunca chegam até mim. James, como sempre, foi quem me convenceu a vir. Ele acha que eu preciso me divertir mais, mas a ideia de estar no meio de um tumulto onde todos falam, e eu não ouço nada, e praticamente perco todas as conversas, aqui ninguém quer ficar conversando na linguagem de sinais, os caras vieram para beber e se divertir, me mantenho calmo, meu universo, sempre em silêncio, observo ambiente. A festa é em comemoração pelo titulo que nosso time de hóquei ganhou no último final de semana e também para e a temporada que está começando e a universidade estava com altas expectativas, James, meu irmão, não me deixaria escapar dessa. Ele e o treinador praticamente me arrastaram para o salão.

Estou encostado na parede, observando a festa como sempre faço, de longe, uma mudança nas luzes chamou minha atenção. Notei que todos estavam virando o rosto na direção do palco . Uma luz tênue e dourada se volta para o pequeno palco montado ali, e de repente vejo uma garota se aproximando do piano. Pequena, loira, linda parece um anjo, com um jeito delicado e uma confiança suave. Ela se move como se já conhecesse cada detalhe daquele lugar, como se já fosse parte do piano. Não consigo desviar os olhos.

Ela se senta, ajeita o corpo, fecha os olhos e então começa a tocar. Seus dedos se movem com tanta leveza, tão fluidos, que parece uma dança. Eu não posso ouvir as notas, mas posso ver o sentimento. Cada expressão dela, cada movimento mínimo, parece conectado a algo maior, como se a música fosse a própria alma dela. A garota fechou os olhos e deslizou os dedos pelas teclas, entregando-se completamente à música. Eu via isso no rosto dela, nos pequenos sorrisos e nas expressões que se formavam a cada movimento das mãos. Ela parecia estar em um mundo à parte, alheia ao que acontecia ao redor, e eu percebi que aquela música devia ser especial. Pela expressão dos outros, percebi que era algo poderoso.

Um aperto surge no meu peito. Não sei explicar, mas sinto uma dor real ao perceber o quanto estou distante daquele momento. Pela primeira vez em muito tempo, me sinto desesperado para ouvir. Não apenas para saber o que todos estão ouvindo, mas para sentir o que ela está transmitindo. É como se estivesse vendo uma parte dela que nunca seria capaz de alcançar completamente.

De repente, ela abre os olhos. E, como se fosse um instinto, o olhar dela se encontra com o meu. Sinto meu corpo inteiro congelado. Ela não parece surpresa, mas os olhos dela têm uma profundidade que me deixa vulnerável. Não sei o que ela vê, mas é como se fosse capaz de enxergar tudo o que tenta esconder. Por um momento, nós apenas nos olhamos, e eu sinto uma conexão que nunca experimentei antes, um elo silencioso entre meu mundo e o dela.

"Tá sonhando, Cameron?" James aparece ao meu lado, sinalizando e rindo, mas não consigo responder.

"Cameron encontrou uma musa, galera!" Jessie do time brinca em língua de sinais, e James solta uma risada. Mas eu estou alheio. Minhas mãos permanecem imóveis, e meus olhos, fixos nela.

Meu coração disparou. Ela não parecia surpresa, mas curiosa. Nos olhos dela, havia algo que eu nunca tinha visto - uma mistura de medidas e força. Meu peito se abriu, e, por um instante, eu me senti vulnerável. E ali, entre o barulho que eu não ouvia e o silêncio que ela não conhecia, nos conectamos.

"Essa garota é diferente, hein?" James sinalizou, com um sorriso travesso, e eu assenti, incapaz de explicar. Eu nem sabia o que estava sentindo.

"Cameron, controle-se. Vai acabar babando", um dos outros caras brincou, e James riu, dando um leve empurrão no meu ombro. Eu não me importei com as piadas. Meus olhos continuavam indo até ela, absorvendo cada detalhe enquanto ela se levantava do piano e se despedia de alguns colegas antes de caminhar para fora do salão.

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