Capítulo 73: X

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Xu Qi não sabia como responder àquela frase estranha, que parecia carregar algum tipo de subtexto indefinível. Na penumbra, a luz do celular piscava e irritava levemente seus olhos.

No canto inferior esquerdo, surgiu uma segunda mensagem, curta, que se destacava em contraste com a anterior: 'Está tarde, vá dormir cedo.'

Xu Qi sentiu algo entre o absurdo e o cômico. De repente, ele estava recebendo uma demonstração de cuidado de um estranho com quem havia trocado apenas algumas mensagens por uns quinze minutos.

Era estranho, mas não forçado, e havia um toque de familiaridade inexplicável.

X: 'Boa noite.'

Os dedos de Xu Qi pairaram sobre a tecla Enviar, hesitando por um instante, mas, por fim, ele respondeu com um simples 'Boa noite'.

Na manhã seguinte, Xu Qi alcançou o celular que tocava o alarme, prestes a desligá-lo, e viu, em meio às notificações, uma única mensagem não lida, a qual fez sua sonolência desaparecer instantaneamente.

X: 'Já tomou café da manhã?'

O tom era natural e familiar, como se ele e o outro não fossem meros desconhecidos que haviam trocado contatos apenas na noite anterior.

Xu Qi sentou-se na cama, e a confusão de ontem à noite começou a se dissipar sob a luz do dia, enquanto percebia o quão estranho tudo aquilo era.

X não tinha fotos e não queria pagamento, mas não se cansava de lhe enviar mensagens, que eram surpreendentemente íntimas.

Xu Qi já não conseguia justificar aquilo com o suposto 'estilo de conversa' da pessoa. Uma vez, ele poderia relevar, mas a segunda, a terceira vez? Isso já era demais.

Havia algo, inconscientemente, que ele evitava tocar, algo que pairava entre as conversas, e ele apenas seguiu o fluxo: 'Ainda não. E você?'

Pouco depois, X respondeu: 'Já comi, estou a caminho do trabalho.'

Xu Qi decidiu testar: 'Quando sairmos para a viagem de uma ou duas semanas, como vai ficar o seu trabalho?'

X respondeu de forma concisa: 'Vou tirar férias.'

Com apenas três palavras, Xu Qi quase pôde ouvir a frieza e a firmeza na voz do outro lado.

Após essa mensagem, X ficou em silêncio, provavelmente ocupado com o trabalho. Xu Qi abriu novamente o perfil de X. Definitivamente, era uma conta estranha, com o feed e a biografia ainda vazios, e a foto de perfil continuava uma mancha negra.

Ontem à noite, ele não tinha prestado muita atenção, mas desta vez, por algum impulso inexplicável, ele clicou na foto de perfil. Quando ampliou, descobriu que não era uma tela preta sólida, mas um céu noturno profundo, pontilhado de estrelas.

Um céu sem lua.

Xu Qi sentiu como se algo batesse forte contra seu peito, além de qualquer controle racional. Sua primeira reação foi descartar aquele pensamento absurdo, mas uma voz tímida no fundo de sua mente sussurrava: 'Por que não seria possível?'

Era apenas... algo muito ridículo.

As conversas com X continuaram de forma esporádica, quase diárias, sempre começando com uma mensagem matinal e terminando com um 'boa noite'. Embora X tivesse se candidatado a ser modelo, quase nunca mencionava seu trabalho principal, e Xu Qi também não o lembrava.

Havia uma sensação de que ambos sabiam de algo, mas nenhum dos dois tinha certeza se o outro sabia.

Xu Qi já tinha passado por isso antes. Na época em que a verdade ainda não havia sido revelada, ele costumava mandar mensagens para Liao Jinxue: 'Vamos comer juntos?', 'Já saiu do trabalho?', 'Tem tempo amanhã?'... Suas perguntas para Liao Jinxue sempre terminavam em ponto de interrogação, esperando por uma resposta, mesmo que fosse apenas para cumprir tabela.

Mas, em suas lembranças, as respostas de Liao Jinxue eram sempre muito concisas. Quando tinha algo a dizer, ele usava as palavras mais simples para transmitir sua mensagem e sempre colocava um ponto final em suas frases.

Esse hábito era raro entre as pessoas ao redor de Xu Qi.

Mas X também fazia isso.

Xu Qi não sabia o que esses testes contínuos significavam, mas no fundo já conhecia a resposta. Incapaz de conter-se, na próxima conversa, ele perguntou diretamente: 'Por que você usa essa foto como avatar?'

X demorou um pouco mais que o normal para responder, algo que raramente acontecia: 'O que tem na foto?'

Xu Qi sabia que essas palavras soavam como birra infantil, mas Liao Jinxue entenderia. No mundo, apenas ele poderia entender: 'Está escuro demais, não dá para ver nada. Por que não escolheu uma com a lua?'

X perguntou: 'Por que precisa ter a lua?'

Xu Qi respondeu: 'O céu noturno já é escuro. Com a lua, ficaria mais bonito, e as pessoas geralmente gostam de coisas mais claras.'

X: 'Você gosta da lua?'

Xu Qi não esperava essa pergunta repentina e sentiu o coração estremecer. Após uma breve hesitação, respondeu: 'Se tivesse uma lua, eu gostaria mais.'

Assim que a frase apareceu na tela, o avatar escuro de X ficou silencioso por um longo tempo.

Então, X disse: 'Mas a minha lua desapareceu.'

Uma declaração calma, mas com um toque de absurdo. Xu Qi deveria achar engraçado, mas percebeu que suas mãos tremiam levemente enquanto digitava: 'A lua pode sumir? Você está brincando?'

X continuou: 'Eu a perdi.'

Desapareceu. Perdida.

Talvez para qualquer outra pessoa, aquela conversa pareceria algo entre dois loucos, algo que tanto dizia tudo como não dizia nada.

A tela à frente de Xu Qi começou a se desfocar, e ele foi levado de volta àquela noite, quando estava no topo do prédio no 73º andar, olhando para o céu noturno. Foi durante o casamento de outra pessoa, sob o testemunho da lua, que eles trocaram um beijo apressado, escondidos da multidão barulhenta.

O coração de Xu Qi caíra, e Liao Jinxue o segurara.

Naquela época, Xu Qi acreditava que Liao Jinxue era como a lua distante e inatingível no céu, e ele, no máximo, uma estrela insignificante ao lado. Mas ser uma estrela não era tão ruim. Era pequena, escura, mas poderia ser a mais próxima de Liao Jinxue.

Até que Liao Jinxue lhe disse: ele também teve uma lua.

E ele a perdeu, mergulhando o céu noturno que lhe pertencia em uma escuridão interminável, em um sono sem fim.

Xu Qi digitou aquelas quatro palavras que guardava no fundo do coração: 'É você, não é?'

Não houve resposta. Apenas um silêncio absoluto.

Então Xu Qi se lembrou da data de hoje. Era o sétimo dia desde que Liao Jinxue saíra do hospital. Ele digitou rapidamente: 'Você não disse que queria que eu te acompanhasse ao hospital? Esqueceu?'

Silêncio.

A espera era uma tortura invisível. Cada segundo que passava parecia se estender em uma linha infinita, torturando seus corações até que uma mensagem finalmente apareceu no canto esquerdo da tela, cortando aquela linha.

X: 'Mas você não aceitou.'

Xu Qi sentiu um gosto amargo, uma mistura de tristeza, frustração e algo mais que se acumulava no peito. Ele não conseguia mais esperar e perguntou ansioso: 'Onde você está?'

Quando não recebeu resposta, perguntou novamente: 'Onde você está?'

Finalmente, Liao Jinxue respondeu: 'Terceiro Hospital.'

Xu Qi rapidamente pegou o casaco que estava pendurado na cadeira, calçou os sapatos e colocou as chaves e o celular no bolso. Por fim, apagou a luz do quarto.

A casa inteira foi engolida pela escuridão, mas Xu Qi conseguia ver uma pequena luz à frente, fraca e distante, como o brilho suave ao redor da lua, que guiava seus passos.

A verdade é que ele já havia aceitado.

Muito antes, no fundo do seu coração.

***

N/T:

Que ódio 😭🥺 tô emocionada

É difícil controlar as emoções Onde histórias criam vida. Descubra agora