Dukra. Ano 5093 d.C.
A chuva negra caía implacável, carregada de fuligem das queimadas provocadas pelos Divergentes que resistiam além dos altos muros da cidade. Cada gota parecia carregar o peso da destruição, tingida pela fumaça das florestas queimadas e das batalhas incessantes. Era como se o próprio céu estivesse chorando, despencando em baldes d'água pesada e oleosa, lavando as ruas sujas de concreto. O crepúsculo começava a se apagar lentamente, enquanto as luzes artificiais da cidade se acendiam uma a uma, tentando, sem sucesso, afastar a escuridão.
A cidade futurística, rodeada por torres de metal e vidro, cintilava com suas telas digitais que piscavam ininterruptamente, transmitindo mensagens de esperança e obediência. Propagandas holográficas pairavam sobre a população, mostrando crianças sorridentes e pais satisfeitos. Frases como “A Colheita é o futuro” e “Faça parte de um amanhã melhor” piscavam em neons vibrantes, tentando mascarar o horror e a angústia da realidade abaixo.
Nas ruas encharcadas, formava-se uma fila interminável de pais e suas crianças. Homens e mulheres de rostos cansados, ombros caídos, seus olhos cheios de uma tristeza incontida. Alguns choravam, suas lágrimas misturando-se à chuva negra que escorria por seus rostos, manchando suas roupas e seus sonhos. Outros permaneciam impassíveis, convencidos de que aquilo era o certo, de que era seu dever cumprir as ordens do governo para um futuro melhor. Mas a dor era visível, mesmo naqueles que se esforçam para esconder.
Crianças pequenas, muitas ainda sem entender a magnitude do que estava acontecendo, apertavam as mãos de seus pais, algumas chorando baixinho, outras em silêncio absoluto, talvez tentando ser fortes para agradar os adultos. Alguns pais se ajoelharam diante de seus filhos, abraçando-os com força, sussurrando palavras de consolo que pareciam vazias no meio do caos. Promessas de que "tudo vai ficar bem" ecoavam pela multidão, mas a incerteza estava impregnada em cada palavra.
Há muitos anos, essa situação teria sido inimaginável. A Terra, no entanto, havia atingido seu limite, sufocada pela superpopulação. O consumo descontrolado de recursos e a fome generalizada obrigaram o governo a tomar medidas extremas. A lei marcial foi decretada, e uma das primeiras diretrizes foi o controle rígido de nascimentos. Casais eram proibidos de ter mais de um filho. A falta de alimentos e o colapso dos sistemas de produção levaram o governo a uma decisão ainda mais sombria: aos cinco anos de idade, todas as crianças deveriam ser levadas à Colheita.
A Colheita não era um simples ritual. Tratava-se de um processo científico e cruel, onde as crianças eram levadas para câmaras de criogenia, onde seriam colocadas em um sono profundo, adormecendo por décadas até que o problema da superpopulação e da escassez de alimentos fosse resolvido. Na teoria, as crianças seriam despertadas em um futuro mais próspero, onde a vida seria melhor. Para os pais, no entanto, a Colheita significava um adeus, sem qualquer garantia de reencontro. Era uma esperança falsa, vendida por um governo desesperado para controlar o caos.
Ao redor da arena onde a Colheita acontecia, os prédios altos de concreto e aço estavam alinhados como sentinelas silenciosas, vigiando os sacrifícios diários. Guardas governamentais, vestidos com uniformes impecáveis e armados com rifles, estavam posicionados ao longo de toda a estrutura, atentos a qualquer sinal de resistência. Ninguém poderia fugir. As grandes telas nas fachadas dos prédios continuavam a exibir imagens coloridas e promessas de um futuro brilhante, tentando convencer os pais de que o que estavam fazendo era pelo bem maior.
No meio da fila, um casal lutava contra a dor de entregar seu filho à Colheita. Eles seguram nos braços seu menino pequeno, Jungkook. Seus olhos inchados de tanto chorar refletiam o pavor de um futuro que ele não queria enfrentar. Ele se agarrava com todas as forças ao pescoço do pai, soluçando em desespero, seus gritos abafados pela chuva que batia pesada contra o chão.
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BLACKOUT - JIKOOK
FanfictionEm 5.113, a Terra enfrenta um cenário distópico sem precedentes: a superpopulação provocou a implementação de uma lei marcial brutal. Casais são limitados a um único filho, e ao atingirem cinco anos, esses jovens enfrentam um destino cruel. São leva...