A Vinícola do Amor

Capítulo 1

Existem inúmeras vantagens de ser herdeira da vinícola Giordani. Jatinhos particulares para ir e vir, ter tudo o que quer na hora que quer, mansões, festas luxuosas e contatos com pessoas poderosas que podem mudar a sua vida com apenas um telefonema. Porém, para Sophia, nada se compara a acompanhar o processo de produção dos vinhos e poder prová-los em cada etapa.

-Eu nunca me vejo cansando de provar essas amostras. Esse aqui é da leva 76? – Sophia pergunta a Eric Gonçalves, um dos supervisores da vinícola mais confiável da família, depois de provar uma das amostras que lhe foi oferecida.

- Exatamente essa. E fico feliz que tenha gostado, até porque já foi embalada e encaminhada para o porto de exportação. Sem dúvidas é umas das nossas melhores levas, com o seu acompanhamento e minha parceria com Pablo Martínez, o supervisor da vinícola Cortéz na Argentina, essa leva tem tudo para ser a mais lucrativa do ano. – Eric responde com nuances fortes de seu sotaque gaúcho, retirando seu blazer devido ao calor de Janeiro.

- Já falei que não posso te dar um aumento só pela quantidade de elogios que você me dá Eric, e nem outras coisas – Ela dá um sorriso e coloca a taça vazia levemente rosada no fundo em cima da mesa de canto.

- Jamais Sophia! – Eric ri com a mão no rosto para tentar esconder a vermelhidão das bochechas. O riso realça as rugas no canto de seus olhos. – Meus elogios são 100% sinceros, sua observação e análise são um dos melhores que já vi nas gerações de Giordani que tive o prazer de acompanhar. – O comentário deu a vez para o rosto de Sophia ruborizar. – Aliás, por que a Catarina não quis vir para a vinícola de novo? Já faz alguns meses, quase um ano que ela não vem nos ver. Ela se cansou da segunda família né?

- Ela já se cansou da primeira família, quanto mais da segunda. Além disso, ela disse que estava enrolada com um novo processo da empresa de celebridades que ela representa. Disse que queria se afastar do negócio da família, diz que não quer mais ser um "nepo-baby" – Sophia faz as aspas no ar – Sendo que ela é literalmente herdeira do escritório de advocacia do nosso pai. Hipócrita do caralho.

- Acho que ela só criou consciência dos privilégios que tem. Que vocês duas têm. – ele responde cruzando as pernas e apoiando as mãos. – Enfim, pra quando tá programado teu voo de volta pro Rio de Janeiro?

- Amanhã – ela suspira e passa a mão pelos cabelos ruivos – Tô vendo você querendo se livrar de mim mais cedo, mas não vai rolar, ainda tenho muitos planos de infernizar a vida de vocês aqui. E não tem ninguém que possa me impedir, a Diana tava tão estressada e cansada que não sai do quarto do hotel tem dois dias – Sophia se espreguiça no sofá, estica as pernas para frente e coloca as mãos atrás da cabeça.

- Só toma cuidado com o que for aprontar, tu sabe que a senhora Giordani já não confia muito em ti para herdar a vinícola, não dê razão a ela. – Ele diz se levantando e ajeitando o terno. O comentário de Eric faz Sophia ajeitar a postura e se encolher. – Por favor Sophia, tu sabe que eu mais que do ninguém quero que tu herde a vinícola Giordani. Com a Catarina de fora, e se tua mãe não confiar em ti o suficiente, seríamos obrigados a fundir com a vinícola Ramírez, e isso é inadmissível. Se cuida, Cerejinha. – Eric se retira da sala de descanso da Casa Vinícola Giordani, deixando uma bolha de ansiedade crescente no estômago de Sophia.

Sophia confia e respeita Eric como se fosse seu próprio pai, desde o falecimento de Eduardo Costa, um renomado advogado dono de um escritório de advocacia no Leblon, quando Sophia e Catarina tinham 7 e 10 anos. Eric assumiu o papel de figura masculina na vida das meninas já que a mãe não se casou novamente, e elas não dizem em voz alta, mas o amam como se fosse um segundo pai. Todo o relacionamento entre Eric e as mulheres Giordani é puramente profissional, porém Ângela sabe o impacto positivo que Eric teve na vida de suas filhas e todo carinho envolvido entre eles.

Normalmente, Sophia está pouco se fodendo com o que outros dizem sobre ela ou o que ela deve ou não fazer, mas se importa com a opinião de Eric. Principalmente quando o assunto é a vinícola Giordani. A qual ganhou inúmeros prêmios por padrão sempre elevado de fermentação, por extensão territorial, por números de exportação e considerada a maior vinícola exportadora a mais de 20 anos. Sophia sonha com o dia que finalmente irá herdá-la e ser considerada oficialmente dona, mas sua mãe diz que ela ainda é muito imatura e inconsequente para herdar o negócio. Então, Sophia tem que se contentar em ir em reuniões banais como acompanhante de Ângela, de vez em quando tem acesso às ações e encontros formais com investidores e colaboradores estrangeiros, ver de perto o processo de fabricação do vinho e acompanhá-lo até o porto. Sua irmã mais velha, Catarina, nunca demonstrou nenhum interesse no negócio da família, sua área caiu para o mesmo de seu pai, se formou em Direito na Universidade Federal Fluminense e herdou parte do escritório de Eduardo que é onde trabalha atualmente. Obviamente a matriarca da família cogitava entregar a vinícola para a primogênita, mas desde que ela oficialmente recusou o negócio da família Giordani, Sophia acabou sendo sua única opção restante.