Capítulo 2

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Sophia acorda com o susto de um aviso vindo da cabina do piloto, avisando que aterrissariam em solo carioca em menos de 15 minutos. Ela limpa o canto da boca, ajeita o cabelo desorganizado que caía sobre seu rosto repleto de sardas e se espreguiça, abrindo as janelas de sua cabina da primeira classe, para avistar sua cidade natal do céu. Um céu límpido, com belos tons de azul pintando-o e poucas nuvens descrevem o tempo do verão carioca. Sophia tinha uma bela vista do Cristo Redentor, o bairro de Copacabana e o Corcovado, e não via a hora de poder sair daquele cubículo sufocante e esticar as pernas pela Cidade Maravilhosa, mas infelizmente tinha prometido uma ida ao shopping com Catarina assim que voltasse de viagem.

Ao passar pelo portão de desembarque do aeroporto internacional Tom Jobim, Sophia se depara com uma figura mais que familiar segurando uma placa com seu nome escrito nela. Ela sempre soube que sua irmã era linda, mas passar cinco dias longe dela parece ter realçado sua beleza. Catarina é alguns centímetros mais alta que ela, o mesmo tom de azul celeste dos olhos, o cabelo com um tom de ruivo mais escuro e mais longo, leves sardas se espalham pelas suas bochechas e ombros, as quais estão realçadas pelo macaquinho de alças azul-marinho, devido ao calor excessivo do verão do Rio de Janeiro. Sophia imediatamente se sente em casa ao ver o sorriso caloroso de Catarina quando a mais velha a avista junto com Felipe, o segurança pessoal de Sophia, puxando duas malas de mão mais a bolsa pessoal.

- Sophi! – Catarina dá um abraço forte e esmaga sua irmã, pegando uma das malas que ela estava puxando – Me conta tudo o que você fez lá! Tirando a parte chata e burocrática, óbvio. Eai, o Eric finalmente arranjou alguém e parou de viver somente pela vinícola? Ainda bem que você voltou a tempo, abriu uma loja de donuts nova lá no Village Mall e eu tava louca pra experimentar!

- Cata, calma, respira pelo amor de Deus. Parece que você falou 60 palavras por segundo. – Sophia ri da empolgação da irmã, mas também se sente absurdamente feliz ao perceber que ela tinha deixado de comer um doce novo só para ter a companhia de Sophia.

- Não sabia que era crime eu demonstrar amor pela minha própria irmãzinha pequenininha e fofinha – Catarina faz uma voz fofa e muito irritante pro gosto de Sophia, enquanto anda pelo aeroporto para chegar ao carro que estava do lado de fora ao aguardo das duas.

- Vai se foder, já falei pra não me chamar assim e pra não fazer essa vozinha chata do caralho.

- Eita, achava que era mito, mas é verdade. A estupidez sulista é contagiosa, não ficou nem uma semana direito, mas já voltou toda escrota.

- Desculpa bonitinha. – Sophia ri com sarcasmo – Vamos ao Village Mall quando eu desfizer as malas e a gente chegar em casa.


Sophia acorda em um pulo com sons de passos em salto alto vindo do corredor. A primeira coisa que ela avista são pilhas de bolsas de compras, resultado da noite de compras com Catarina, o que normalmente resulta em milhares de reais gastos com roupas e acessórios de marca. Ela abre a porta com força e dá de cara com Ângela arrumada e com a chave do carro em mãos, e uma cara assustada.

- AI! Garota, você quer me matar do coração?! – Ângela grita colocando a mão no coração acelerado e checa o relógio – São 7:30, desde quando você acorda essa hora?

- Tem dias que eu gosto de acordar cedo – ela tira o resto dos cabelos ruivos do rosto – E onde você tá indo tão arrumada hein dona Ângela? – Sophia cruza os braços e se escora na moldura da porta do seu quarto

- Eu hein garota, agora eu tenho que ficar dando satisfação da minha vida pra você? Não é nada que te interesse – Ela dá um sorriso cúmplice pra sua filha enquanto mexe na bolsa.

- Misericórdia quanta ignorância – Sophia ri - Pra onde você tá indo, mulher?

- Eu tô indo pra uma reunião importante Sophia, a vinícola vai fazer um novo anúncio pra colocar nas televisões e na internet, e uma empresa britânica tá interessada em colaborar, então tô indo pro escritório pra encontrar com eles.

Sophia ajeitou a postura e seus olhos brilharam. Nunca tinha ido em uma reunião tão importante assim, e talvez seria o momento que ela finalmente poderia mostrar seu valor para sua mãe, ter seu rosto e nome conhecidos no mercado exterior e finalmente se inserir no negócio da família.

- Tá bom, Sophia – Ângela suspira – Mas você tem 20 minutos pra se arrumar, eu vou te esperar na sala de visita. Não se atrase mocinha. – Ela se vira e desce as escadas.

Sophia corre para dentro de sua suíte em uma felicidade indescritível. Pela primeira vez ela conseguira poder ir em uma das reuniões importantes sem ter que implorar de joelhos, porém, o lado ruim disso é ter apenas 20 minutos para tirar a cara de derrotada de quem acabou de acordar para alguém bem-sucedida e apresentável.

Depois de uma maquiagem básica com apenas corretivo, rímel e hidratante labial, Sophia se depara com a loucura que é seu closet. Um cômodo com paredes repletas de vestidos, blazers e cardigans pendurados nos cabides, inúmeras gavetas com camisas, shorts, calças, saias, incontáveis prateleiras com sapatos de valores inimagináveis ao lado de mais prateleiras com bolsas das mais variadas marcas de luxo globais, além dos displays de vidro com suas joias. Sophia opta por um look com uma paleta de tons terrosos, uma camisa de gola alta branca, a calça off-white, um cardigan marrom, saltos do mesmo tom da camisa e uma bolsa Chanel preta. Ela coloca acessórios dourados e prende o cabelo em um coque perfeito, depois olha o relógio e percebe que ainda tem 2 minutos e os usa para tomar banho do seu perfume favorito da Carolina Herrera, já que estava sem tempo para um banho de verdade. Ela sai do closet e do quarto correndo, desligando as luzes e a climatização de ambos os ambientes.

- É sério que você deu 20 minutos pra Sophia se arrumar e ir junto? Mãe, agora pegou pesado, você sabe que tudo isso é muito importante pra ela e você insiste que ela não leva a sério o suficiente, mas agora dar falsas esperanças desse jeito? – Catarina diz ao colocar café na sua garrafa térmica e pegar as chaves de seu carro – Não faz isso com ela, dá uma chance e confia nela.

- EU TÔ AQUI! EU TÔ AQUI! – a voz de Sophia ecoa do corredor, a mesma correndo pelas escadas de mármore e chega na sala de visitas, encontrando a mãe e a irmã mais velha – Ah...oi Cata...bom dia...essas escadas...não são brincadeira...caralho – Sophia se apoia no rack encostado na parede, tentando recuperar o fôlego.

- Quem que tá duvidando dela agora, hein? – Ângela diz em voz baixa para apenas Catarina ouvir, fazendo-o rir de leve.

- Bom dia Sophi, boa sorte na reunião de hoje. Eu te amo sua besta. Tchau mãe! – Catarina beija a bochecha de Sophia e sai de casa, abrindo seu carro na garagem que fica na frente da casa – Bom dia Jorge! – Ela acena pro motorista particular da família que está esperando na frente do carro e ele acena de volta com um sorriso tímido.

- A gente também tem que ir, tem chão pra chegar até o Leblon – Ângela se vira para Sophia e passa o dedo pela testa dela para secar o que restava do suor, resultado da corrida na escada. – Vai dar tudo certo minha filha, eu confio em você. – Talvez a reunião não vá como planejada, mas essas palavras já foram o suficiente para fazer o dia de Sophia como um dos melhores de sua vida.

A Vinícola do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora