Anos atrás
Izana On
Era uma manhã de primavera, e o pátio da escola estava animado com o som das crianças brincando e rindo. Eu estava sentado em um banco afastado, observando o movimento ao redor com uma expressão impassível. As luzes do sol brilhavam intensamente, mas eu estava mais interessado em manter meu espaço e evitar qualquer contato desnecessário.
Então, eu a vi. Uma nova aluna, aparentemente deslocada, entrava no pátio com um olhar nervoso. Seus cabelos escuros balançavam com o vento, e ela carregava uma mochila rosa que parecia um pouco grande para seu corpo pequeno. A maneira como ela se movia, hesitante e observadora, chamou minha atenção. A verdade é que eu não costumava me importar com os novos alunos, mas havia algo naquela garota que me fez querer observar um pouco mais.
Enquanto ela olhava ao redor, tentando se enturmar, senti um impulso estranho. Por mais que eu tentasse ignorá-lo, não conseguia evitar a sensação de que deveria fazer algo. Com um suspiro, eu me levantei e me dirigi a ela. Eu sabia que minha presença provavelmente não era a mais acolhedora, mas eu tinha uma certa curiosidade.
— Olá — comecei, com um tom de voz direto e sem rodeios. Eu me aproximei o suficiente para ser ouvido, mas mantive uma distância respeitosa. — Você é nova aqui, certo?
Ela levantou os olhos para mim, surpresa, e eu pude ver um brilho de alívio em sua expressão. — Sim, sou. Meu nome é Misaki.
Eu apenas assenti, minha expressão permanecendo inalterada. — Eu sou Izana. Se precisar de ajuda para se acostumar com a escola, posso te mostrar alguns lugares.
Havia um leve relaxamento em seu olhar, mas ela ainda parecia um pouco cautelosa. — Obrigada, Izana. Isso seria ótimo.
Sem dizer mais nada, eu me sentei ao lado dela no banco. A conversa que se seguiu foi cheia de informações práticas sobre a escola e os professores, ditas de maneira direta e objetiva. Eu não estava interessado em me abrir ou em compartilhar mais do que o necessário, mas mantive a conversa o suficiente para que ela se sentisse um pouco mais à vontade.
Misaki começou a falar sobre sua antiga escola e os interesses dela, e eu ouvi com uma atenção que eu normalmente não dedicava aos outros. Ela tinha um sorriso tímido e uma maneira de falar que fazia com que eu a ouvisse sem a sensação de que estava me comprometendo demais. Havia algo nela que fazia eu me sentir, mesmo que um pouco, menos distante.
Quando o sinal soou para o começo das aulas, eu me levantei e olhei para ela. — Vamos para a sala de aula.
Ela se levantou, e eu notei um sorriso leve em seu rosto. — Vamos.
Enquanto caminhávamos para a sala, o silêncio entre nós era confortável. Eu não estava acostumado a formar conexões rápidas, mas havia algo sobre Misaki que me fez considerar a possibilidade de que talvez, apenas talvez, vale a pena fazer uma exceção. Era o início de algo novo, e enquanto eu não tinha certeza do que isso significava, eu sabia que não podia simplesmente ignorar o que estava começando a se formar.
Nas semanas seguintes, a rotina escolar seguiu como de costume, mas algo sutil começou a mudar. Todos os dias, ao chegar ao pátio, meus olhos procuravam involuntariamente por Misaki. Ela sempre estava ali, com aquele mesmo sorriso tímido e a mochila rosa que se destacava. Nós começamos a nos sentar juntos nos intervalos, sem que fosse necessário qualquer convite explícito. Era como se a presença um do outro tivesse se tornado uma parte natural do dia.
Nossas conversas ainda eram breves, práticas, e geralmente giravam em torno das aulas, professores e atividades escolares. Mas, aos poucos, Misaki começou a compartilhar pequenas histórias sobre sua vida fora da escola. Ela falava de sua família com uma voz tranquila, mencionando o irmão mais novo que sempre bagunçava seus cadernos, ou a avó que fazia doces caseiros nos finais de semana. Enquanto ela falava, eu percebia algo que raramente notava nas pessoas: uma leveza em suas palavras, como se ela trouxesse consigo um pouco de paz para o caos ao redor.
Eu, por outro lado, mantinha meus comentários breves, nunca revelando muito. Mas, surpreendentemente, Misaki parecia não se importar. Ela nunca insistia, nem fazia perguntas invasivas. Era como se ela entendesse que eu tinha meu próprio tempo, meu próprio espaço.
Uma tarde, no entanto, enquanto estávamos no pátio depois da aula, ela me olhou de um jeito diferente, quase pensativa. A luz suave do entardecer iluminava seus olhos, e por um momento, eu me perguntei o que ela estava pensando.
— Você parece... distante, às vezes — ela disse, com a voz suave, mas curiosa. — Não que isso seja ruim. Só... acho que você é diferente de todos aqui.
Eu não sabia como responder. Não era comum que alguém fizesse um comentário tão direto sobre mim. A maioria das pessoas na escola apenas me deixava no meu canto, sem questionar minhas atitudes ou meu jeito de ser. Mas, com Misaki, eu percebi que havia uma confiança implícita em nosso relacionamento que a permitia falar aquilo.
— Não me misturo muito — respondi, tentando manter minha expressão neutra. — Nunca vi necessidade.
Ela assentiu, compreensiva. — Eu entendo. Também tenho dificuldade às vezes... Mas acho que você está começando a se misturar, pelo menos um pouco.
Seus olhos brilhavam com uma leveza quase divertida, e, pela primeira vez, percebi um pequeno sorriso se formando no canto dos meus lábios. Talvez ela estivesse certa. Talvez, de alguma forma, sem que eu tivesse planejado, eu estivesse me permitindo, aos poucos, ser parte de algo maior que o meu próprio espaço isolado.
Com o passar das semanas, nosso vínculo começou a se fortalecer. Não era uma amizade explosiva ou carregada de grandes gestos, mas algo sutil e constante. Ela me convidava para estudar juntos às vezes, e, enquanto eu inicialmente recusava, comecei a aceitar de vez em quando. Sempre em momentos em que sabia que poucos estariam por perto, preferindo evitar a atenção dos outros.
Misaki era paciente. Mesmo quando eu não oferecia muito em troca, ela continuava aparecendo, trazendo consigo aquela leveza. Às vezes, ela me contava piadas sem graça, apenas para ver se conseguia me fazer rir, e embora eu raramente o fizesse, eu percebia que começava a esperar por essas pequenas tentativas.
Em um desses dias, enquanto estudávamos na biblioteca após a aula, ela olhou para mim de repente, um brilho curioso em seus olhos.
— Izana, o que você quer fazer quando terminar a escola?
Fiquei em silêncio por um momento. Era uma pergunta simples, mas uma que eu nunca havia me permitido pensar profundamente. Meu olhar encontrou o dela, e por um momento, me senti à vontade para ser honesto.
— Não sei ainda. Talvez algo que me permita... ver mais do mundo. Sair daqui.
Ela sorriu, um sorriso sincero e cheio de entendimento. — Eu também. Acho que há muito mais lá fora do que a gente imagina.
E, naquela troca simples, percebi que havia encontrado em Misaki algo que eu não sabia que precisava: uma companheira/amiga . Alguém que, silenciosamente, me desafiava a ver o mundo além das minhas próprias barreiras. E, sem perceber, eu estava deixando que ela quebrasse algumas delas.
Enquanto a primavera se transformava em verão, o que começou como uma simples oferta de ajuda se tornou uma amizade que, pouco a pouco, estava moldando não apenas nossos dias, mas quem nós éramos quando estávamos juntos.
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Bound by Fate - Izana Kurokawa
FanfictionDois anos após a morte de Shinichiro, Izana se isolou do mundo. Perdido em sua dor, ele encontrou refúgio nas manipulações de Kisaki. Cego pelo luto, suas decisões o levaram por um caminho sombrio e repleto de erros. Agora, com o retorno inesperado...