Sumiço

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Izana On

Tínhamos 16 anos, e o tempo havia passado tão rápido que eu nem percebi. Minha rotina estava muito mais preenchida com Misaki ao meu lado. Ela se tornara uma constante em minha vida — alguém com quem eu podia contar, mesmo que nunca tivesse admitido isso em voz alta. Todos os dias, depois da aula, caminhávamos juntos até a entrada da escola, e então seguíamos nossos caminhos separados. Era algo natural, algo que já fazia parte de mim.

Mas, naquela manhã, algo mudou.

Misaki não apareceu na escola. Fiquei esperando por ela na entrada, como de costume, imaginando que poderia estar atrasada. O tempo passou, e a inquietação começou a me corroer. Ela nunca se atrasava. Olhei ao redor, esperando vê-la surgindo com aquele sorriso tímido e a mochila que ela ainda usava, mas nada. Os minutos viraram horas, e logo percebi que ela não viria.

No dia seguinte, a mesma coisa. A ausência de Misaki era como um buraco escavado dentro de mim. Tentei perguntar aos outros alunos se sabiam de algo, mas ninguém tinha respostas. Comecei a pensar no pior. Talvez ela tivesse fugido. Talvez o peso da vida tivesse sido demais para ela e decidiu sumir, deixar tudo para trás. Eu sabia que ela tinha suas próprias batalhas, mas nunca imaginei que fosse tão grave a ponto de me deixar sem uma palavra.

Por mais que quisesse acreditar que ela voltaria, algo dentro de mim me dizia que eu jamais a veria de novo. Cada vez que eu passava pelos lugares que costumávamos frequentar, sentia a ausência dela como um golpe no peito. A escola parecia vazia sem sua presença tranquila ao meu lado. E, enquanto eu tentava seguir em frente, o pensamento de que ela tinha escolhido ir embora sem me dizer uma única palavra me corroía.

Comecei a ficar ressentido. A ideia de que Misaki, com quem compartilhei tantos momentos, pudesse ter decidido me deixar para trás sem nem ao menos uma explicação me enchia de raiva e dor. Por mais que tentasse me convencer de que não me importava, a verdade era outra. Eu me importava. Muito mais do que queria admitir. E, agora, ela se foi.




Misaki On

Naquele dia, tudo parecia normal. Eu e Izana havíamos estudado juntos na biblioteca no final da tarde, como fazíamos sempre. Caminhamos até o portão da escola, e, como de costume, nos despedimos. Eu estava cansada, ansiosa para chegar em casa e me preparar para os exames que estavam por vir. Não havia nada de especial naquele dia. Ou, pelo menos, foi o que pensei.

Enquanto caminhava pelas ruas tranquilas, comecei a notar algo estranho. Uma sensação incômoda, como se estivesse sendo observada. Virei-me algumas vezes, mas as ruas estavam vazias, como sempre. Pensei que talvez fosse apenas o cansaço, minha mente pregando peças. Apertei o passo, tentando ignorar aquela sensação.

Foi então que tudo aconteceu rápido demais. Uma van preta parou ao meu lado, e antes que eu pudesse processar o que estava acontecendo, senti um pano úmido sendo pressionado contra meu rosto. Tentei lutar, mas minha visão começou a ficar turva, e logo o mundo ao meu redor desapareceu.

Quando acordei, estava em um lugar escuro, frio e completamente desconhecido. Meus pulsos estavam presos por cordas ásperas, e minha cabeça latejava. Eu não sabia onde estava, nem por quê. O pânico começou a tomar conta de mim enquanto tentava, em vão, me soltar. Meu coração batia tão rápido que mal conseguia respirar.

Dias passaram. Ou, pelo menos, acho que foram dias. No cativeiro, o tempo parecia não existir. Eu não via luz do dia, apenas as sombras que dançavam nas paredes da pequena sala em que me mantinham. As pessoas que me sequestraram raramente falavam, e, quando o faziam, era em sussurros que eu não conseguia entender. Eles me alimentavam o mínimo possível, e, às vezes, eu ouvia passos se aproximando, apenas para serem seguidos por silêncio novamente.

Eu pensava muito em Izana. Pensava no quão rápido tudo havia mudado, no quanto eu queria apenas voltar para a nossa rotina. Ele provavelmente pensava que eu havia fugido. Sabia que Izana tinha dificuldade em confiar nas pessoas, e temia que ele acreditasse que eu o havia abandonado. Essa era a pior parte de tudo: não poder explicar, não poder dizer a ele que eu não escolheria deixá-lo, nunca.

Eu estava com medo, mas mais do que isso, sentia uma profunda tristeza. Não sabia quanto tempo conseguiria suportar aquilo, ou se alguém estava me procurando. Tudo o que eu sabia era que, a cada dia que passava, a esperança de voltar para casa diminuía um pouco mais.

Eu não tinha controle sobre o que estava acontecendo. Tudo o que podia fazer era esperar e torcer para que alguém, talvez Izana, sentisse minha falta o suficiente para me encontrar.


O tempo havia se tornado algo indefinido. Eu já não sabia se eram dias ou semanas que haviam passado desde que fui sequestrada. O pequeno quarto onde me mantinham prisioneira era frio e úmido, e a escuridão parecia pesar em meus ombros como uma manta sufocante. Eu estava fraca, física e mentalmente, quase sem forças para resistir. A fome, o medo e a solidão eram constantes.

Naquela noite, o silêncio que costumava ser meu único consolo foi interrompido de forma brutal.

A porta do quarto foi aberta com uma força repentina, como se estivesse sendo arrancada das dobradiças. O som ecoou pelas paredes, fazendo meu coração disparar. Antes que eu pudesse entender o que estava acontecendo, alguém entrou com passos pesados e descontrolados, como um animal selvagem à solta. Eu mal tive tempo de levantar a cabeça antes de sentir uma mão áspera agarrar meus cabelos com uma força cruel.

— Você vai pra outro lugar, agora! — A voz era grave, rasgada, e cheia de uma raiva que eu não conseguia compreender.

Eu tentei gritar, mas minha garganta estava seca, as palavras morriam antes mesmo de serem formadas. Senti o puxão violento me arrancar do chão. Meu corpo fraco foi arrastado pelo chão frio e áspero, enquanto meus cabelos eram usados como uma corda cruel. Cada puxada me fazia sentir como se meu couro cabeludo fosse arrancado a cada segundo.

A dor era insuportável, mas o pânico foi o que realmente tomou conta de mim. Para onde estavam me levando? O que mais poderiam fazer comigo? Eu mal conseguia me manter de pé, meus pés deslizavam pelos corredores escuros enquanto aquele homem continuava a me arrastar sem nenhum cuidado, como se eu fosse um peso morto, algo sem valor.

O som de passos apressados, da respiração pesada dele, ecoava pelos corredores frios. Eu podia ver as sombras das paredes passando rapidamente pelos cantos dos meus olhos, mas minha visão estava embaçada pelo medo e pelas lágrimas que começaram a escorrer sem controle. Não sabia o que me aguardava, mas tudo dentro de mim gritava que algo terrível estava para acontecer.

Tentei me debater, por mais fraca que estivesse, tentei usar o pouco de força que ainda restava para lutar contra o destino que parecia se aproximar. Mas ele não se importava. Continuava me arrastando, indiferente aos meus esforços.

A escuridão ao nosso redor era opressiva. Eu não sabia para onde estava sendo levada, mas cada passo, cada puxão, fazia com que minha esperança diminuísse mais e mais. O lugar em que eu estava parecia um labirinto sem fim de corredores vazios, um pesadelo que nunca terminava. Eu só queria que aquilo acabasse, mas o fim, eu temia, poderia ser algo muito pior do que qualquer coisa que eu pudesse imaginar.

Bound by Fate - Izana KurokawaOnde histórias criam vida. Descubra agora